A imagem é surpreendente: a vice-presidente e candidata à presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o seu companheiro de corrida, o candidato a vice-presidente Tim Walz, aparecem bem dispostos e risonhos, numa sala cheia de imagens relativas à sua candidatura coladas na parede. Walz tem um telemóvel na mão, ambos se colocam em pose para tirar uma selfie e é então que se vê o cenário que, supostamente, querem que apareça na imagem: um cartaz dos “Comunistas Revolucionários da América”, com o símbolo tradicional dos comunistas — a foice e o martelo — e por baixo uma imagem com as silhuetas de vários líderes comunistas, de Estaline a Lénine.

O vídeo, assim como os ‘frames’ captados e publicados como se fossem fotografias do momento, circula em várias redes sociais e serve de suporte às acusações de que Kamala Harris será “comunista”, depois de o seu adversário na corrida, Donald Trump, já ter rotulado a candidata do Partido Democrata norte-americano como uma “marxista”.

Acontece que a imagem, embora possa parecer credível — até por existir tanto em fotografia como em vídeo — é resultado de uma manipulação. Desde logo, a Reuters tem disponíveis no seu arquivo, que pode ser consultado aqui, fotografias do dia em que o vídeo foi captado, e que mostram o fundo original da imagem, verificando-se assim que os posters e cartazes não são alusivos a nenhum grupo comunista.

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Num deles lê-se “Kamala e o treinador”, numa referência a Tim Walz, que foi treinador de futebol americano; e noutro refere-se que os democratas protegem o direito ao aborto.

A selfie que resultou desse momento foi, de resto, partilhada por Harris e Walz nas respetivas contas de Instagram. Também aqui se pode verificar que os cartazes que são visíveis na parede da sala foram alterados.

É também possível encontrar, através de uma pesquisa pela origem da imagem, o vídeo original, que foi gravado pelo jornalista norte-americano Braham Resnik e mais uma vez mostra os mesmos cartazes ao fundo. De acordo com a descrição do jornalista, que estava no local no momento em que a fotografia foi tirada, os cartazes foram feitos por voluntários da campanha democrata, enquanto “mulheres voluntárias da geração Z” diziam a Kamala que estão “obcecadas por ela”.

Segundo a Reuters, o vídeo alterado foi publicado pela primeira vez na conta de um “criador de conteúdos” que assume ser votante de Donald Trump e tem, de resto, uma referência ao lema da campanha trumpista de 2016 — MAGA, ou Make America Great Again — no seu nome de utilizador, @MAGADevilDog.

Conclusão

A imagem que supostamente mostra Kamala Harris e Tim Walz a tirarem uma selfie junto de cartazes de grupos comunistas foi digitalmente alterada. A imagem original foi publicada pelos dois candidatos, além de o momento ter sido fotografado pela Reuters e partilhado em vídeo, no próprio dia, por um jornalista na sua conta na rede social X. Em todos esses registos é possível ver os cartazes originais na parede, e estes não têm qualquer referência a comunismo ou grupos comunistas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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