De tempos a tempos, surgem nas redes sociais publicações com falsos avisos de supostas ondas de crime levadas a cabo por um grupo intitulado como “máfias de Leste”. A mais recente alerta para um alegado “novo método de raptar as crianças e jovens” em Portugal. Supostamente, as tais máfias posicionam estrategicamente uma criança a chorar pela rua “com uma morada na mão”. Assim, quando alguém se aproxima para a ajudar, a criança pede para ser acompanhada até essa morada, mas a pessoa acaba por ser raptada. “Peguem nela e levem-na para o posto da polícia e não para essa morada”, pede ainda o autor da publicação. Mas as autoridades contactadas pelo Observador não têm qualquer registo desta atividade criminosa nem indícios que justifiquem estas publicações e alertam para o facto de se tratar de um “mero boato”.
Questionada pelo Observador, fonte oficial da Polícia Judiciária (PJ) esclareceu que não há registo de qualquer crime de rapto relacionado com as tais máfias. O mesmo foi dito pela Polícia de Segurança Pública (PSP) e pela Guarda Nacional Republicana (GNR).
Numa resposta enviada por escrito ao Observador, fonte oficial da GNR disse que “não tem registo de qualquer crime de rapto, sequestro e tomada de reféns praticado com o modus operandi descrito” na publicação. Neste sentido, esta força de segurança militarizada pede ainda à população que “desconfie das notícias alarmistas não confirmadas em fontes oficiais ou órgãos de comunicação social credíveis”.
Também a PSP garantiu que “não tem conhecimento de qualquer máfia de Leste a atuar em Portugal”, seja com o “modus operandi” descrito na publicação “ou com qualquer outro”. Fonte oficial desta força de segurança adiantou ao Observador que “não foi efetuada qualquer denúncia relacionada com estes alegados crimes, nem existem quaisquer indícios que justifiquem estas publicações, tratando-se de mero boato”.
Certo é que, em duas semanas, a publicação ultrapassou as 800 partilhas. E a prova de que a partilha de informações falsas ou não sustentadas tem efeitos práticos é que a PSP foi contactada nos últimos dias acerca da mesma: “As perguntas relativas a esta falsa notícia têm sido recorrentes” — o que levou, inclusive, a PSP a emitir um comunicado de imprensa a alertar para a circulação destes falsos alertas. Nesse mesmo comunicado, esta força de segurança lembrava que “se mantém atenta aos fenómenos criminais e, sempre que se justifica, alerta a população para tal e apresenta comportamentos de prevenção”.
https://www.facebook.com/policiasegurancapublica/posts/3308250955897062
Esta não é, aliás, a primeira vez que a PSP desmente uma publicação que menciona a tal máfia de Leste. Já em 2015 fez mesmo um esclarecimento público, quando começou a circular nas redes sociais um suposto aviso vindo a PSP em que era dito que este alegado grupo criminoso atuava principalmente nas cidades de Braga, Porto, Coimbra e Lisboa. “A PSP esclarece que o teor dessa informação é infundado, não havendo qualquer indício que valide o teor do que é narrado. Esta questão já foi esclarecida há mais de um ano mas voltou novamente a circular em diferentes caixas de correio e nesta rede social”, lia-se na publicação.
https://www.facebook.com/policiasegurancapublica/photos/a.118723868183136/913646462024202
Na altura em que a PSP fez este aviso, os rumores iam desde cidadãos de Leste a promoverem concertos para assaltar os espetadores a crianças raptadas juntos a escolas igualmente por pessoas de países da mesma região — rumores que, apesar de desmentidos e esclarecidos, continuam a ser partilhados nas redes sociais ao longo dos anos.
Uma das publicações, já desmentida pelo Observador, dizia respeito a um suposto rapto de uma menina de 12 anos. Teria sido um grupo de cidadãos romenos a levá-la da Escola de Custoias, em Matosinhos. Também aí a PSP (que é quem tem competência na zona referida) disse ao Observador que “não registou nenhuma ocorrência com os contornos descritos, nem no ano de 2015 nem em nenhuma outra data”.
Fact Check. Menina de 12 anos raptada por romenos em Matosinhos?
Conclusão
Publicação alerta para um alegado “novo método de raptar as crianças e jovens” em Portugal levado a cabo pelas máfias de Leste, que posicionam estrategicamente uma criança a chorar pela rua “com uma morada na mão”. Assim, quando alguém se aproxima para a ajudar, a criança pede para acompanhá-la até essa morada, mas a pessoa acaba por ser raptada.
Mas as autoridades contactadas pelo Observador (PJ, GNR e PSP) não têm qualquer registo desta atividade criminosa nem indícios que justifiquem estas publicações e alertam para o facto de se tratar de um “mero boato”. Aliás, de tempos a tempos, surgem nas redes sociais publicações com falsos avisos de supostas ondas de crime levadas a cabo pelas tais máfias de Leste — que vão sendo desmentidas ao longo dos anos, mas que continuam a ser partilhadas.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.