Frequentemente, surgem nas redes sociais publicações a alertar para supostas ondas de crime levadas a cabo por um grupo intitulado como “máfias de Leste”. São mitos urbanos antigos cujas narrativas vão variando, mas que têm um ponto em comum: as tais alegadas “máfias de Leste”. Um deles é de 2015, mas voltou a ser partilhado nos últimos dias. A publicação avisa sobre um “novo método usado pelos ladrões” para fazer assaltos: os assaltantes colocam “marcas estranhas” no carro para assim distrair o condutor.
Enquanto ficas distraído a analisar o que são as marcas ou a tentar removê-las, os ladrões cercam-te à volta do carro e roubam-te!”, lê-se.
Ilustrada com uma fotografia de um carro com as supostas marcas, semelhantes a manchas de sangue, a publicação detalha ainda que já houve “participações deste género” às autoridades e que há casos de “abordagens agressivas reportadas”. Só que nem a GNR nem a PSP nem a Polícia Judiciária têm ou algumas vez tiveram participações de casos com estes contornos. E admitem que não passa de um rumor antigo.
Contactada pelo Observador, fonte oficial da Polícia Judiciária afirmou não ter registo nem conhecimento de situações com estas características. A GNR confirmou também ao Observador que “não tem registo de denúncias relacionadas com o tema em apreço”. O mesmo assegurou a PSP que, numa resposta enviada por escrito, disse que “até à presente data não foi reportado qualquer crime concretizado com recurso a este método”. E adiantou ainda que este suposto alerta é uma “publicação já antiga e recorrente nas redes sociais”.
A Polícia de Segurança Pública mantém-se atenta a novos fenómenos criminais ou ao ressurgimento de outros, tanto no sentido de alertar a população como no sentido de desencadear a subsequente investigação criminal”, disse ainda.
Esta não é, aliás, a primeira vez que a PSP desmente uma publicação que menciona a tal máfia de Leste. Já em 2015 fez mesmo um esclarecimento público, quando começou a circular nas redes sociais um suposto aviso vindo a PSP em que era dito que este alegado grupo criminoso atuava principalmente nas cidades de Braga, Porto, Coimbra e Lisboa. “A PSP esclarece que o teor dessa informação é infundado, não havendo qualquer indício que valide o teor do que é narrado. Esta questão já foi esclarecida há mais de um ano mas voltou novamente a circular em diferentes caixas de correio e nesta rede social”, lia-se na publicação.
https://www.facebook.com/policiasegurancapublica/photos/a.118723868183136/913646462024202
Na altura em que a PSP fez este aviso, os rumores iam desde cidadãos de Leste a promoverem concertos para assaltar os espetadores a crianças raptadas juntos a escolas igualmente por pessoas de países da mesma região — rumores que, apesar de desmentidos e esclarecidos, continuam a ser partilhados nas redes sociais ao longo dos anos.
Uma das publicações, já desmentida pelo Observador, dizia respeito a um suposto rapto de uma menina de 12 anos. Teria sido um grupo de cidadãos romenos a levá-la da Escola de Custóias, em Matosinhos. Também aí a PSP (que é quem tem competência na zona referida) disse ao Observador que “não registou nenhuma ocorrência com os contornos descritos, nem no ano de 2015 nem em nenhuma outra data”.
Fact Check. Menina de 12 anos raptada por romenos em Matosinhos?
Outra, também já verificada pelo Observador, alertava para um alegado “novo método de raptar as crianças e jovens” em Portugal, em que as máfias de Leste posicionam estrategicamente uma criança a chorar pela rua “com uma morada na mão”. Assim, quando alguém se aproxima para a ajudar, a criança pede para acompanhá-la até essa morada, mas a pessoa acaba por ser raptada. Também desta vez, as autoridades contactadas pelo Observador (PJ, GNR e PSP) afirmaram não ter qualquer registo desta atividade criminosa.
Fact Check. Máfias de Leste colocam crianças a chorar na rua para raptar jovens em Portugal?
Conclusão
Publicação avisa sobre um “novo método” usado pelas “máfias de Leste” para fazer assaltos: colocam “marcas estranhas” nos carros para distrair os condutores que, enquanto ficam a observar as marcas ou a tentar removê-las acabam cercados e assaltados.
A publicação garante que já houve “participações deste género” às autoridades e que há casos de “abordagens agressivas reportadas”. Só que, contactadas pelo Observador, nem a GNR nem a PSP nem a PJ têm ou algumas vez tiveram participações de casos com estes contornos ou sequer indícios que justifiquem estas publicações.
Aliás, de tempos a tempos, surgem nas redes sociais publicações com falsos avisos de supostas ondas de crime levadas a cabo pelas tais “máfias de Leste” — que vão sendo desmentidas ao longo dos anos, pelas próprias autoridades, mas que continuam a ser partilhadas.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.