Está a circular nas redes sociais uma informação que dá conta de que um dos peritos da Direção-Geral da Saúde (DGS) tem um doutoramento em “Migração das Sardinhas”. O especialista em questão é Manuel Carmo Gomes, epidemiologista que, com a pandemia, passou a ser cara conhecida dos portugueses.
Manuel Carmo Gomes chegou a integrar as reuniões entre políticos e especialistas, na sede do Infarmed, e é atualmente membro da Comissão Técnica de Vacinação para a Covid-19. No entanto, está a ser-lhe atribuída outra distinção.
Uma fotografia partilhada nas redes sociais, juntamente com uma imagem de Manuel Carmo Gomes, sugere a associação deste especialista a um doutoramento em Migração das Sardinhas, num tom de descredibilização do perito em questão. “Isto não me surpreende, mas não deixa de ser hilariante”, pode ler-se num dos comentários associados à publicação.
Ora, desde logo, no curriculum vitae de Manuel Carmo Gomes não existe qualquer referência a sardinhas. O especialista é mestre em Probabilidades e Estatística e, em 1991, concluiu um doutoramento em Biologia, na Universidade Memorial de Terra Nova (em inglês, Memorial University of Newfoundland), no Canadá.
A tese deste perito da DGS está disponível na internet. Com o título “Predictions under uncertainty: fish assemblages and food webs on the grand bank of newfoundland”, segundo apurou o Observador, não há qualquer referência no documento de 245 páginas à palavra “sardinha”.
Isso mesmo corrobora a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em respostas enviadas ao Observador, a instituição garante que a tese de doutoramento de Manuel Carmo Gomes “não é sobre peixes”. Aliás, “a palavra sardinha não consta da tese do Professor”, que é sobre “modelação de ecossistemas marinhos, sistemas complexos, onde, além de peixes, mamíferos marinhos e crustáceos, existe a ação humana”.
A faculdade ressalva que Manuel Carmo Gomes se dedicou ainda a um outro tipo de sistemas complexos: “A propagação de doenças infecciosas” e tem ainda trabalho publicado nas áreas da “vacinação, tuberculose, sarampo, difteria e pertússis”.
Nas mesmas respostas enviadas ao Observador, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa assinala “um percurso de mais de 25 anos” na área da infecciologia, trilhado por Manuel Carmos Gomes, e sublinha que a “capacitação no desempenho das suas funções como perito em Epidemiologia tem sido dada pelos seus pares, ao longo das últimas duas décadas e meia”, refere a nota.
Conclusão
Não é verdadeira a associação de Manuel Carmo Gomes a um doutoramento “em Migração de Sardinhas”. Uma imagem com uma fotografia do especialista circula nas redes sociais, numa tentativa de descredibilizar o perito, que desde o início da pandemia passou a ser cara conhecida pelas intervenções e contributos que tem dado no combate à pandemia.
O Observador consultou a tese de doutoramento de Manuel Carmo Gomes e concluiu que em nenhuma altura é referida a palavra “sardinha”. Já a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que confirma ser essa a tese do especialista, e que ficou concluída em 1991, desmente que exista qualquer tipo de ligação entre Manuel Carmo Gomes e uma eventual área de estudos sobre sardinhas.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.