Mario Vargas Llosa é um Prémio Nobel da Literatura, com 87 anos. E tem visto o seu nome partilhado nas redes sociais. O texto “Sim, choro por ti Argentina” está a ser partilhado em publicações nas redes sociais, umas em português, outras em espanhol, e é atribuído ao escritor peruano.

O longo texto folheia as páginas da História da Argentina, para garantir que o país, e os seus eleitores, escolheram “ao longo de meio século as piores opções“, deixando de ser “um país de vanguarda” para passar a ser “o país empobrecido, caótico, subdesenvolvido que é hoje”. No alegado texto de Vargas Llosa, os argentinos não tiveram ao longo de décadas o mesmo nível de vida que países europeus como a Suécia ou a Suíça “porque não quiseram”.

Tudo isto, porque, continua o texto, os argentinos elegeram para liderar o país pessoas “manipuladoras, populistas em grau extremo e corruptos como os Kirchner“. Mais precisamente “Cristinita”, financiada em parte pela Venezuela. A conclusão é só uma: “Degradação política e degradação intelectual” na Argentina e na Venezuela, dois países governados por “um monte de demoníacos loucos”.

Texto atribuído a Mário Vargas Llosa com duras críticas ao governo da Argentina.

Texto atribuído a Mario Vargas Llosa com duras críticas ao governo da Argentina.

Vamos então por partes. Quem é Mario Vargas Llosa? O Prémio Nobel da Literatura de 2010 nasceu no Peru, em março de 1936. Fez a vida entre a Europa e a América do Sul. Além de ser um prestigiado autor foi também político, tendo até sido candidato à presidência da República do Peru.

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E, por isso, as suas opiniões políticas estão à vista de todos. No seu livro “O Apelo da Tribo”, Vargas Llosa assina um conjunto de ensaios sobre autores que contribuíram para uma visão liberal do mundo que foi construindo. Autores como Adam Smith, como conta o Observador. Nas últimas eleições que marcaram a América do Sul, o autor apoiou Bolsonaro nas presidenciais do Brasil contra Lula da Silva e considerou a destituição do antigo presidente do Peru, Martín Vizcarra, uma “violação da Constituição”.

E se as opiniões políticas de Vargas Llosa são conhecidas, também são as suas críticas a Cristina Kirchner, que foi presidente da Argentina de 2007 a 2015 e é vice-presidente desde 2019. Em dezembro do ano passado foi condenada a seis anos de prisão, depois de ter sido acusada de crimes de associação ilícita e administração fraudulenta de fundos públicos. Ficou proibida de exercer cargos públicos.

Cristina Kirchner, vice-Presidente da Argentina, condenada a seis anos de prisão em caso de corrupção

Mas as críticas de Vargas Llosa são muito mais antigas. Em 2012, o prémio Nobel da Literatura acusou Kirchner de ser “o exemplo flagrante da vocação autodestrutiva da Argentina”, depois de ter decidido nacionalizar as ações da Repsol no país. Nos arquivos online encontramos ainda uma entrevista do escritor peruano ao jornal “Corriere della Sera” em que classifica Cristina Fernández de Kirchner como um “desastre total”, por guiar a Argentina para a “pior forma de peronismo: populismo e anarquia”. E por peronismo entende-se o movimento político da esquerda argentina, que surgiu durante a década de 40 com o nome do antigo presidente do país, Juan Domingo Perón, um movimento que ainda hoje governa o país.

Mas regressemos ao texto original, “Sim, choro por ti Argentina”. Foi desmentido pelo próprio Prémio Nobel da Literatura mas em outubro de 2014. Numa entrevista à estação de rádio colombiana Blu Radio, Mario Vargas Llosa confessou estar “irritado” por lhe ter sido atribuído um texto que não escreveu, um texto “ridículo, de mau gosto e perverso” que decontextualizava outras declarações suas. Vargas Llosa esperava que a publicação fosse corrigida e que o seu nome fosse retirado, mas a verdade é que o texto continua a ser partilhado nas redes sociais como se fosse uma crítica recente e não de 2014.

Conclusão

O texto “Sim, choro por ti Argentina” não foi escrito por Mario Vargas Llosa, apesar de estar a ser partilhado nas redes sociais como se fosse. Foi o próprio Prémio Nobel que veio desmentir a autoria do texto que lhe é atribuída, numa entrevista a um meio de comunicação social. Considerou o texto “ridículo, de mau gosto e perverso”. “Sim, choro por ti Argentina” foi desmentido por Vargas Llosa em 2014, mas ainda hoje em dia continua a ser partilhado nas redes sociais.

Tece duras críticas ao povo argentino e às suas escolhas políticas, nomeadamente na eleição de Cristina Kirchner. As críticas de Vargas Llosa à antiga presidente da Argentina não são difíceis de encontrar em meios de comunicação social europeus e sul-americanos, mas não no texto “Sim, choro por ti Argentina”.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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