Em 2016, a Polícia de Segurança Pública (PSP) lançou uma campanha no Facebook contra crimes inventados. Isto é, falsos alertas e relatos de crimes que não aconteceram, mas que são partilhados nas redes sociais como se fossem verdadeiros. À data, a autoria desses crimes inventados era normalmente atribuída a cidadãos do Leste europeu, apelidados de “Máfias de Leste”. Desde ucranianos a promoverem concertos para assaltar os espectadores, aos mais frequentes: crianças raptadas juntos às escolas igualmente por pessoas de países da mesma região.

Um dos mitos mais partilhados na altura estava precisamente relacionado com um rapto de uma menina de 12 anos. Teria sido um grupo de cidadãos romenos a levá-la da Escola de Custoias, em Matosinhos. “Estão cada vez mais espalhados por aí e cada vez são mais”, lê-se ainda na publicação. Essa, ao mesmo tempo que aconselha os utilizadores a não deixarem as crianças “andarem sozinhas por aí” e irem levá-las e buscá-las à escola, garante também que “a polícia apanhou dois”. “Mas falta saber quantos mais há por aí”, lê-se também na publicação que elenca depois as várias localidades por onde os alegados raptores supostamente circulam.

A publicação que circula no Facebook

Ora, nem à data, nem atualmente: este crime inventado não passa disso mesmo. Ainda assim, ao longo dos anos que se seguiram até aos dias de hoje, milhares de utilizadores continuam a partilhar esta história falsa como se fosse verdade. Por exemplo, uma publicação feita em novembro de 2015 já ultrapassou as 27 mil partilhas, tendo grande parte delas sido feitas em fevereiro deste ano: só 16 mil foram feitas nos últimos quatro meses. Nas mais recentes, há mesmo utilizadores a fazer comentários racistas e a apelar à justiça popular.

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Em 2015, a PSP publicou mesmo uma nota de esclarecimento na sua página do Facebook onde, apesar de não se focar em nenhum mito em específico, desmentia a informação de uma forma geral, negando que “um grupo intitulado como Máfias de Leste” estivesse a praticar atos criminosos “em teatros e vias públicas das cidades de Braga, Porto, Coimbra e Lisboa”. Nessa nota, a PSP pedia aos utilizadores que evitassem “alarmes sociais desnecessários”. “Essas informações são construídas em pressupostos errados e desprovidas de qualquer sentido não devendo ser replicadas”, assegurava esta força de segurança.

https://www.facebook.com/policiasegurancapublica/photos/a.118723868183136/913646462024202/?type=3&theater

Ainda assim, o Observador voltou a questionar a Direção Nacional da PSP sobre este alegado rapto de uma rapariga de 12 anos na Escola de Custoias, em Matosinhos. A resposta foi clara:

A Polícia de Segurança Pública informa que não registou nenhuma ocorrência com os contornos descritos, nem no ano de 2015 nem em nenhuma outra data”.

Em 2016, quando a PSP anunciou que ia lançar uma campanha, o subcomissário João Moura, então da Direção Nacional da PSP explicava ao Jornal de Notícias que o objetivo era desmistificar algumas histórias, “não só as que surgem pontualmente, como as que fazem parte há muitos anos do imaginário urbano”.

https://www.facebook.com/policiasegurancapublica/photos/a.118723868183136/972370606151787/?type=3&theater

A PSP republica com frequência a campanha lançada nessa altura. Ainda assim, muitos destes mitos persistiram ao longo dos anos e continuam a ser partilhados — o que só acaba por gerar alarme social. 

Conclusão

O mito surgiu em 2015: uma rapariga de 12 anos teria sido raptada por um grupo de romenos na Escola de Custoias, em Matosinhos. Mas continuou a ser partilhado até aos dias de hoje como se fosse verdadeiro.

A Direção Nacional da PSP esclareceu que “não registou nenhuma ocorrência” com estes contornos, “nem no ano de 2015 nem em nenhuma outra data”.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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