“Por favor informem todos na vossa lista para não abrirem um vídeo chamado ‘Dança do Papa’. É um vírus que formata o telemóvel. Tenham cuidado porque é perigoso. Anunciaram hoje na BBC Radio.” Nalguns casos, a mensagem que se tornou viral no WhatsApp ainda vem com um pedido adicional: “Reencaminhem o máximo que puderem.” Mas nem o alerta é novo nem o perigoso vírus deu até agora sinais de existir. A mensagem volta a circular exatamente um ano depois de ter sido difundida pela última vez e num momento em que o Papa Francisco realizava uma visita histórica ao Iraque.

Exemplo da mensagem viral que, ciclicamente, volta a circular no WhatsApp

A informação — que circula pelo menos desde 2015, em sucessivas vagas, e que chegou a ser partilhada em áudio naquela plataforma — já foi desmontada por diversos fact checkers e publicações internacionais. À revista Forbes, um especialista em segurança informática, Graham Cluley explicou há cerca de um ano que os sinais de que o que está aqui em causa é um falso alarme podem ser todos detetados na própria mensagem:

Não há quaisquer referências sobre em que sistema operativo o malware [vírus] opera. E não há link para a peça da BBC em que se alega que é dado o alerta para o vídeo”, resume o especialista.

Ao Observador, João Pina, especialista em segurança informática, admite que seja possível criar um vírus semelhante ao que é descrito na mensagem viral. Mas manifesta dúvidas sobre a eficácia de uma operação deste género para atacar milhões de utilizadores da plataforma que soma cerca de 1,2 mil milhões de contas ativas.

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Antes de mais, criar um software malicioso deste tipo é prática acessível a um número limitado de agentes que se movem na área da cibersegurança. “Se houvesse uma vulnerabilidade no WhatsApp ou no sistema operativo [do telemóvel] que permitisse um ataque deste tipo com facilidade, não tenho dúvidas de que esta seria uma forma de atuar”, considera João Pina. “Mas [detetar] esse tipo de falhas, a este nível, só para state players, que não vão mostrar este ataque em larga escala”, optando por direcioná-lo contra “alvos muito precisos”.

Até porque, conclui o especialista, os próprios autores do ataque “podiam ser vitimas, caso o ataque se tornasse mais conhecido e público”.

Certo é que nos últimos seis anos, depois de cada vaga de alertas, nunca surgiu o vídeo com o alegado vírus. E a corrente que agora é passada e repassada entre telemóveis, com uma associação à suposta “dança do Papa”, também já conheceu outros nomes.

No ano passado, a Naked Security (uma publicação especializada em temas de segurança informática) lembrava que uma das versões a circular alertava para o risco de os utilizadores assistirem a um vídeo do jogador brasileiro de futebol Gabriel Martinelli, atacante do Arsenal. O porquê dessa associação? Ninguém (a não ser o autor da mensagem) saberá explicar. Mas também aí não existia qualquer vídeo a circular. Apenas um alerta sem fundamento.

Agora, volta a ser a vez do Papa. E o regresso da mensagem viral coincide com a passagem de Francisco pelo Iraque, numa visita história de três dias que, dada a projeção mediática que obteve, ajudou a que o alerta circulasse com maior intensidade através do WhatsApp. Situação diferente é a de uma mensagem que habitualmente surge associada a estas duas, e em que se promete acesso a uma versão “gold” ou “plus” desta plataforma de comunicação. Vários utilizadores relataram ter recebido um link de acesso a essa versões mais exclusivas que acabou por revelar-se a porta de entrada de software malicioso para os seus aparelhos. Aí, a opção é mesmo não abrir o link e apagar a mensagem.

Conclusão

Não há qualquer evidência de que o vídeo do “Papa a dançar” seja um vírus real. Tecnicamente, é possível desenvolver um ataque semelhante, mas os avisos dos últimos seis anos — o alerta circula desde 2015 — nunca deram lugar a um conteúdo perigoso para os telemóveis, como alega a mensagem.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

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