Uma publicação partilha uma suposta notícia do Público com o seguinte título: “Os milhares de ex-presidiários africanos enviados para Portugal conseguiram passaporte português em poucos dias”.

Na publicação em análise o utilizador do Facebook acrescenta: “Vamos de mal a pior! Importamos o pior do terceiro mundo”. O layout é o do Público e na imagem da suposta notícia há uma fotografia de várias pessoas com o passaporte português na mão, tendo como legenda “nos últimos anos milhares de ex-presidiários africanos foram enviados para Portugal para começarem uma vida nova tudo graças a acordos feitos com países do continente Africano”. Nada do que aqui está é verdadeiro.

Comecemos pela imagem partilhada. Trata-se da manipulação de uma imagem da página online do jornal Público. Numa resposta enviada ao Observador, o diretor do jornal diz: “A notícia é totalmente falsa, nunca foi publicada por este jornal nem na edição do papel, nem em Publico.pt, nem nas nossas redes sociais”. “Tanto o nome do jornal como o da jornalista foram utilizados abusivamente”, acrescenta ainda David Pontes, que conclui: “É um exemplo cada vez mais frequente de como os agentes da desinformação se apropriam da imagem e do prestígio de órgãos de comunicação social fidedignos para tentar credibilizar notícias falsas.”

A fotografia partilhada também é manipulada, sendo possível encontrá-la publicada em vários sites brasileiros, incluindo institucionais e também o da organização da sociedade civil “Politize“, que a usa para ilustrar um texto sobre a migração no Brasil. Neste último site, na mesma fotografia é possível ver pessoas a segurarem na mão um documento diferente do passaporte português e na legenda é referido que se trata de um grupo de haitianos que receberam a residência permanente no Brasil. O documento verde que é exibido pelas pessoas na fotografia é a “Carteira de Trabalho e Previdência Social” emitida pelo Ministério do Trabalho brasileiro — e a imagem é antiga (tem sido usada pelo menos desde 2015), porque atualmente este documento necessário para o exercício de uma atividade profissional no país já é digital. A fotografia é atribuída ao ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Conclusão

Não é verdade a informação divulgada nesta publicação. Não só nunca foi noticiada pelo jornal Público (cuja imagem é utilizada nesta partilha), como também não surgiu em nenhum outro órgão de comunicação social. O diretor do Público diz que “tanto o nome do jornal como o da jornalista foram utilizados abusivamente” e que a notícia “nunca foi publicada” pelo jornal. A fotografia que surge para ilustrar esta notícia falsa também foi manipulada.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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