Há um conteúdo viral publicado na página “Libertar” que acusa a Organização Mundial de Saúde (OMS) de ter afirmado que os abortos devem continuar para conter o novo coronavírus. A informação foi repescada de uma outra página, a “Últimos Acontecimentos”, segundo a qual a OMS terá dito que “os abortos devem continuar mesmo à custa de conter coronavírus”. Isto é falso.

A OMS nunca afirmou que os abortos devem continuar como estratégia para travar a pandemia de SARS-CoV-2. Disse, isso sim, que “os serviços relacionados com a saúde reprodutiva são consideradas como parte dos serviços essenciais durante o surto de Covid-19″ e que “as escolhas das mulheres e os direitos aos cuidados de saúde sexual e reprodutiva devem ser respeitados, independentemente de se ela [a mulher] ter uma infeção por Covid-19 suspeita ou confirmada”.

A publicação falsa que tem andado a circular nas redes sociais

Estas declarações foram proferidas ao The Daily Caller, um órgão de comunicação social norte-americano cuja linha editorial está voltado para a direita conservadora. Em declarações enviadas ao jornal, a OMS defendeu que esses serviços de saúde “incluem contraceção, cuidados de saúde de qualidade durante e depois da gravidez e parto e um aborto seguro em toda a extensão da lei“.  E afirmou ainda que “os cuidados de saúde sexual e reprodutiva é parte integrante da cobertura universal de saúde e da conquista do direito à saúde

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O título da notícia original diz que, para a OMS, “o aborto é essencial durante a pandemia de coronavírus”, mas nunca este conteúdo relaciona o aborto como um caminho “para conter o coronavírus”. Ou seja, as declarações da OMS foram distorcidas no título na página Libertar, apesar de as declarações da OMS estarem corretamente citadas no texto e indicarem, até, uma preocupação oposta: a de que todos os procedimentos sejam feitos em segurança.

Mas há outro problema com este conteúdo. O texto acrescenta que estes serviços “desviam os recursos médicos para o que eles [especialistas da OMS] rotularam de saúde reprodutiva”, o que não é verdade. Em março, a organização publicou um comunicado confirmando que tinha delineado um plano operacional que permite “equilibrar as exigências de responder diretamente à Covid-19 e mantendo a prestação essencial de serviços de saúde e mitigando o risco de colapso do sistema”, pode ler-se na página da OMS.

Conclusão

Não é verdade que a OMS tenha defendido a continuidade dos abortos durante a pandemia de Covid-19 “para conter o coronavírus”. A organização confirmou, antes, que a saúde reprodutiva é considerada um serviço essencial enquanto perdurar a pandemia. Isso não desvia recursos que podiam ser usados para combater a Covid-19, uma vez que as autoridades de saúde receberam da OMS um plano que permite equilibrar as exigências criadas pela crise pandémica com as necessidades dos outros serviços essenciais de saúde.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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