Estão a circular nas redes sociais citações atribuídas ao brasileiro Pelé em que o futebolista supostamente afirma ter jogado pela seleção da Alemanha nos Jogos Olímpicos de 1936 em Munique, já com o regime nazi instalado. Nas ditas citações, Pelé refere-se a Adolf Hitler como “um ótimo amigo e conselheiro”, afirma que foi visitado pelo líder nazi quando se lesionou e que gostaria de dizer uma última vez: “Hi, Hitler” [sic].

A citação em causa é a seguinte:

Quando joguei pela seleção alemã nas Olimpíadas de 36 em Munique eu não tinha ideia do que era o nazismo. Mesmo assim, desta época só me restam boas lembranças. Hitler, que todos demonizam, para mim foi um ótimo amigo e conselheiro. Quando me lesionei, ele foi visitar-me e conversou comigo por mais de 40 minutos. Infelizmente, não pude compreender nada, pois não falo alemão. A vida é isso aí, o que fica são as boas lembranças, as mágoas a gente deixa para trás. Gostaria de dizer por uma última vez: ‘Hi, Hitler'”.

A publicação em causa utiliza a imagem de um filme em que Pelé participou.

Várias informações históricas permitem desmontar imediatamente esta citação, que nunca foi proferida por Pelé. É que os Jogos Olímpicos de 1936 não foram em Munique, mas sim em Berlim: o evento desportivo só aconteceu em Munique 36 anos mais tarde, em 1972, muito depois da queda do nazismo, em 1945. Além disso, Pelé (cujo nome completo é Edson Arantes do Nascimento) só nasceu em 1940 e apenas foi contemporâneo de Hitler por cinco anos. Quando nasceu, os Jogos de 1936 já tinham acontecido quatro anos antes. E em 1972, quando o evento decorreu em Munique, Pelé tinha 32 anos, mas já se tinha reformado da seleção do Brasil no ano anterior — o seu último jogo com a camisola canarinha aconteceu em julho de 1971, no mítico estádio do Maracanã.

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Mesmo que tudo se tratasse de um erro de datas, Pelé nunca jogou pela seleção da Alemanha: só representou a seleção do Brasil ao longo da sua carreira e nem assim alguma vez participou nos Jogos Olímpicos. À época, as regras do Comité Olímpico Internacional ditavam que os atletas que ganhassem dinheiro com o futebol não podiam participar — uma regra que também se aplicava ao basquetebol, mas que veio a ser flexibilizada já nos anos 80, como recordou o G1 por ocasião da morte de Pelé.

A última frase também não faz sentido. “Hi, Hitler”, a expressão utilizada na publicação, significa em inglês: “Olá, Hitler”. Na verdade, a expressão que era proferida na Alemanha Nazi era “Heil Hitler”, uma saudação nazi, acompanhada de um gesto em que o braço direito está estendido, ligeiramente para cima, e a mão esticada, significando “Salvé, Hitler”.

A imagem, essa, não sendo uma montagem, é meramente de um filme: Pelé participou em “Fuga para a Vitória”, realizado por John Huston, que estreou nos Estados Unidos em 1981. O futebolista brasileiro interpretou Luís Fernandez, um soldado britânico natural de Trinidad e Tobago e que está detido num campo de prisioneiros alemão na Segunda Guerra Mundial.

No enredo, num filme em que Sylvester Stallone também participa, “os oficiais nazis pretenderam passar a mensagem de que tratavam bem os seus prisioneiros”: “Numa ação de propaganda, organizaram um jogo de futebol entre os prisioneiros, norte-americanos e britânicos, e oficiais alemães. Os prisioneiros identificaram aqui o momento para encetarem a fuga do campo de concentração nazi”, cita o Cinecartaz do Público.

Conclusão

Não é verdade que Pelé alguma vez tenha representado a seleção da Alemanha Nazi, que tenha participado nos Jogos Olímpicos e convivido com Adolf Hitler. A citação em causa, que é falsa, tem muitas incongruências históricas que se referem até a acontecimentos que ocorreram antes do nascimento do futebolista brasileiro.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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