No dia em que os céus de Portugal foram contemplados com auroras boreais, um fenómeno natural associado à tempestade solar de rara intensidade que afetou a Terra, uma imagem surgiu nas redes sociais e começou a ser partilhada como se fosse uma fotografia captada em Lisboa, com a ponte 25 de Abril e um céu colorido como pano de fundo. “Neste momento Autora Boreal sobre Almada e Rio Tejo”, lê-se numa das dezenas de publicações nas redes sociais que faziam essa mesma alegação.
A imagem em causa é da autoria de Jorge Phyttas-Raposo, designer gráfico português, que utilizou a inteligência artificial para construir aquelas e outras imagens parecidas com auroras boreais, tendo optado por zonas em que este fenómeno natural não seria tão visível — em Portugal há registos fotográficos em localidades como Chaves e Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real, Bragança, Viseu, Seia e Celorico da Beira (Guarda), Condeixa (Coimbra), Santarém ou Portalegre.
Perante as centenas de reações, o próprio escreveu no Facebook (em mais do que uma publicação) a mostrar que não se trata de uma fotografia e até contraria testemunhos de quem comentou a dizer que assistiu àquele momento naquele local. “Não sei se fique contente que uma imagem produzida e identificada como criada com o auxílio de um algoritmo de inteligência artificial tenha tanta projeção, ou se me entristeça com o quase meio milhão de pessoas a que, supostamente, chegou, adquirindo um grau de veracidade que ultrapassou a simples necessidade de a interpretar”, escreveu Jorge Raposo na sua página.
“Como alguém que está ativamente imerso em várias comunidades de produção de imagens através de algoritmos de inteligência artificial, na sua variante de text-to-image, assusta-me, cada vez mais, a capacidade técnica de alguns deles que iludem e confundem profissionais clássicos de categorias de criatividade. Se eles já se sentem incapazes de averiguar e validar a distinção entre imagem de AI, imagem manipulada digitalmente, e imagem produzida de forma clássica, a maior parte de nós, nem sonha com o que aí vem capaz de nos ludibriar as emoções mais básicas”, acrescentou o autor da imagem.
Já antes, Jorge Raposo tinha sublinhado a utilização do termo “absolutamente inacreditável” para justificar que tinha deixado bem claro que não se tratava de uma fotografia, mas sim de uma imagem feita através de inteligência artificial. E criticou ainda os utilizadores das redes sociais que não só não verificaram de onde vinha a imagem como deu o exemplo de “alguém que assegurou ter estado naquele sítio, de onde a imagem foi supostamente fotografada, e ter visto o que aparecia na foto”.
Conclusão
É falso que a imagem em causa seja de uma aurora boreal fotografada em Almada ou em Lisboa. Apesar de ter havido locais em Portugal de onde foi possível captar este fenómeno natural na última semana, o próprio autor da imagem já veio esclarecer que se trata de uma obra criada através de inteligência artificial e que nunca houve qualquer tentativa de demonstrar que se tratava de algo real. Desta forma, as partilhas que atribuíram esta imagem da ponte 25 de Abril com um céu colorido a uma aurora boreal baseiam-se numa premissa falsa.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.