Várias publicações no Facebook asseguram que o Presidente russo Vladimir Putin fez publicar um decreto onde declara ilegal a venda do Alaska aos EUA. Para além disso, Putin terá demonstrado intenção de recuperar aquele território. “Putin declarou a venda do Alasca aos Estados Unidos em 1867 como “ilegal”, afirmando a reivindicação da Rússia sobre o Alaska”, diz um dos utilizadores. Será verdade?

A operação da venda do território, que hoje é o Alaska, aos EUA foi concluída em 1867 e conduzida pelo então Secretário de Estado norte-americano William H. Seward, do lado americano, e pelo embaixador russo nos EUA, Edouard de Stoeckl.

A operação agradava aos dois lados: o Império Russo passava por grandes dificuldades financeiras, pelo que a eventual venda do território poderia gerar uma receita importante; para além disso, o risco de perder aquele território através de um conflito armado com o império britânico era real (sendo que a tensão entre os dois impérios era crescente e os ingleses já detinham o território que corresponde ao atual Canadá). Para os EUA, a compra serviria o objetivo de expansão territorial que a administração americana de Andrew Johnson perseguia à época. O negócio fez-se por cerca de 7 milhões de dólares norte americanos — a preços atuais, cerca de 100 milhões de dólares.

Mas será que, mais de 150 anos depois, a Rússia quer a devolução do Alaska? O que se sabe é que Putin assinou um decreto, a 19 de janeiro, autorizando a alocação de fundos para a pesquisa e registo de propriedades russas no exterior, incluindo antigos territórios do Império Russo e da União Soviética. Os fundos agora desbloqueados por Putin vão para o Departamento de Propriedade Estrangeira da Diretoria Administrativa do Presidente da Federação Russa, segundo escreve a agência TASS, que avançou a notícia. No entanto, o decreto não menciona especificamente o Alaska nem qualquer outro território.

Apesar disso, vários bloggers militares russos — entusiastas da guerra na Ucrânia e da expansão territorial do país — interpretaram a publicação do referido decreto como uma declaração de ilegalidade na venda do Alaska aos EUA no século XIX, e aproveitaram o diploma para intensificar a campanha a favor da reconquista de territórios. “Sugerimos começar com o Alaska, a Ucrânia, a Bessarábia [uma região hoje território da Moldávia e da Ucrânia], o Grão-Ducado da Finlândia, Arménia, Azerbaijão, Geórgia, os estados da Ásia Central do Turquestão Russo, a maioria das províncias bálticas e uma parte significativa da Polónia”, escreve um dos bloggers, citado pela Fox, na rede Telegram.

Os EUA já vieram entretanto afastar quaisquer pretensões russas sobre o Alaska. Questionado pelos jornalistas, o porta-voz adjunto do Departamento de Estado americano foi perentório. “Acho que posso falar por todos nós no governo dos EUA para dizer que certamente ele [Putin] não o vai receber de volta”, afirmou Vedant Patel.

Conclusão

Embora tenha classificado, em 2014, a venda do território que hoje é o Alaska como “barata”, o Presidente russo não declarou, em 2024, a venda como ilegal nem demonstrou qualquer intenção de recuperar o território para a esfera da Rússia.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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