É uma tese que circula, sobretudo entre apoiantes do ex-Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, desde as imagens de caos do início de janeiro, quando manifestantes pró-Bolsonaro invadiram os principais edifícios dos órgãos de soberania do Brasil (o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal). Supostamente, haveria “infiltrados” de esquerda a lançar o caos nas manifestações, e seriam esses os verdadeiros culpados pelos atos de vandalismo que aconteceram em Brasília.

Um dos elementos a alimentar esta tese, que até agora continua por provar, seriam as declarações do responsável pela Segurança Pública no Distrito Federal, Ricardo Cappelli, que teria falado na presença de “infiltrados” naqueles protestos. Mas as palavras de Cappelli foram distorcidas.

Tudo começou no programa Prós e Contras, onde, no dia 16 de janeiro, uma jornalista referia que Cappelli teria usado o termo “infiltrados” para se referir aos manifestantes — um pretexto logo utilizado por muitos bolsonaristas para garantir, nas redes sociais, que esta seria mais uma prova da existência de “sabotadores” misturados no protesto.

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No entanto, é possível ver no vídeo original — uma conferência de imprensa em que Cappelli responde a questões sobre a invasão da Praça dos Três Poderes — que o responsável pela Segurança Pública não fala em inflitrados nem dá essa conotação aos “profissionais” que efetivamente refere.

No vídeo, que pode ser visto em cima (a declaração de Cappelli sobre este assunto começa a partir dos cinco minutos), o responsável refere que ouviu um depoimento de um sargento (que ficou ferido, com vários pontos na cabeça) e um oficial que estavam no terreno nesse dia e que lhe falaram em “profissionais”: “Secretário, nós não estávamos enfrentando apenas manifestantes”, ter-lhe-ão dito.

“Existiam homens no campo de batalha com conhecimento do terreno, com conhecimento de táticas de combate, com características profissionais, eram homens profissionais que estavam no meio dos manifestantes”, citou Cappelli. E concluiu: “Esse é um depoimento para nós muito valioso e que a gente está apurando esse depoimento. Faz parte da investigação, vai auxiliar na identificação das pessoas que cometeram os crimes inaceitáveis que nós, que o Brasil inteiro, viu no dia 8”.

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Ou seja: Cappelli não referiu, em momento nenhum, que estivessem entre os manifestantes elementos “infiltrados” contra Bolsonaro que quisessem semear o caos e sabotar os protestos. Falou em “profissionais”, no sentido de não se tratarem apenas de simples pessoas que quisessem estar na rua a protestar, mas antes de agitadores que tinham “conhecimento do terreno” e de “táticas de combate”. Se se queria referir a sabotadores, como muitos utilizadores têm insinuado nas redes sociais, não o fez nesta intervenção.

De resto, Cappelli tinha-se pronunciado sobre o assunto no Twitter, também dia 16 de janeiro, referindo os relatos de quem no terreno dizia ter enfrentado “profissionais” e levantando questões sobre o que o termo significaria.

“Financiamento empresarial? Golpistas treinados no campo de batalha? Uma verdadeira organização criminosa”, sentenciava. “A noite do dia 8 ainda não acabou. Vamos até ao final.”

Conclusão

O responsável pela Segurança Pública no Distrito Federal, onde se encontra a Praça dos Três Poderes, não se referiu a “infiltrados” nem a sabotadores presentes nas invasões de 8 de janeiro. O que Ricardo Cappelli disse foi ter ouvido relatos sobre agentes “profissionais” entre os manifestantes, com conhecimento de “táticas de combate”, levantando até questões sobre se terá havido “golpistas treinados” e “financiamento empresarial” envolvidos no caos em Brasília.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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