Circula nas redes sociais uma publicação que alega que a Suíça “proibiu o hijab e já não reconhece o Islão como religião oficial mediante um referendo”.

A publicação inclui, além desta frase, uma imagem onde é possível ver duas mulheres junto a um cartaz na rua onde se lê “non au voile” (“não ao véu”, em francês) junto a uma ilustração de uma mulher envergando aquele traje islâmico.

Lê-se ainda nesse cartaz que o véu é um “símbolo do patriarcado islâmico”. Por baixo, surge o endereço “collectif-nemesis.com”.

Trata-se, contudo, de uma publicação falsa. Para perceber o que está em causa, é preciso analisar três elementos: as duas alegações da frase (proibição do hijab e não-reconhecimento do Islão) e a fotografia.

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Vamos por partes.

Em primeiro lugar, a alegação de que a Suíça proibiu o hijab não é verdadeira, embora seja aquela que mais se aproxima da realidade.

Em março de 2021, realizou-se um referendo na Suíça em que os cidadãos foram chamados a pronunciar-se sobre uma proposta legislativa com vista à proibição de qualquer indumentária que tape por completo a cara.

De acordo com uma notícia da Associated Press dessa altura, a medida tornou ilegais vários elementos de vestuário, incluindo as vestes islâmicas que tapam o rosto (a burqa e o niqab), mas também as máscaras de esqui e as bandanas habitualmente usadas por manifestantes em protestos violentos.

Assim, o que foi banido não foi o hijab, mas sim vestes como a burqa e o niqab. Ao contrário destes dois, o hijab é um lenço usado pelas mulheres muçulmanas que tapa o cabelo, mas não o rosto. Este artigo do El País é muito útil para compreender a diferença entre os vários véus islâmicos.

Em setembro de 2023, o parlamento suíço aprovou a proibição das coberturas faciais como consequência dos resultados desse referendo.

Em segundo lugar, há a afirmação de que a Suíça “já não reconhece o Islão como religião oficial”. Na verdade, esse referendo não tinha qualquer referência ao reconhecimento do Islão como religião oficial.

Basta consultar o site oficial do governo suíço para perceber o panorama religioso do país.

Não só não existe qualquer religião oficial na Suíça como a liberdade religiosa é “um dos direitos fundamentais estabelecidos na constituição”, lê-se.

“A maioria das pessoas que vivem na Suíça pertence ao cristianismo. A maior comunidade denominacional é formada por católicos, seguidos pelos protestantes. Além dos cristãos reformados e católicos romanos, membros de igrejas livres, do cristianismo ortodoxo, do judaísmo, do budismo, do islamismo, do hinduísmo, do sikhismo e de outras religiões também vivem na Suíça”, diz o mesmo site.

Por fim, a imagem. Seguindo a ligação referida no cartaz, percebe-se rapidamente que o Collectif Nemesis é um grupo feminista de Paris, França, e não da Suíça — embora exista uma delegação deste movimento na Suíça.

Foi justamente a delegação suíça do Collectif Nemesis que levou a cabo a manifestação retratada nesta imagem. No Instagram é possível encontrar o vídeo do momento em que aquelas duas ativistas afixam aquele cartaz em vários lugares.

“A secção suíça realizou uma ação de colagem [de cartazes] denunciando o símbolo patriarcal do véu”, diz a legenda do vídeo publicado pelo coletivo. O vídeo mostra apenas uma ação de protesto de um movimento feminista, mas não comprova a adoção de qualquer legislação no sentido de banir o hijab.

Conclusão

Trata-se de uma publicação falsa. Nenhum referendo proibiu o hijab na Suíça (houve, sim, um referendo para proibir coberturas faciais que abrangeu várias peças de indumentária, mas não o hijab) e o país continua atualmente a manter na sua constituição a garantia de liberdade religiosa. Sem religião oficial, a Suíça tem praticantes de várias religiões — incluindo do Islão. Por fim, a imagem usada para ilustrar a publicação diz respeito apenas a uma ação de protesto de um coletivo feminista, mas não demonstra a adoção de qualquer lei.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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