Um vídeo captado no passado 15 de setembro pela equipa de Luís Inácio Lula da Silva tornou-se viral literalmente da noite para o dia — e não em proveito do candidato do PT às presidenciais do Brasil.

Nas imagens, captadas e divulgadas em direto via Instagram, nos momentos finais de um comício em Montes Claros, no estado de Minas Gerais, pode ver-se Lula, no meio de uma multidão em delírio, e um telemóvel a ser retirado subitamente da mão que o segurava, a de um pai com a filha ao colo e em pleno processo de tentar tirar uma selfie com o ex-presidente brasileiro.

Menos de 12 horas depois, de manhã, o vídeo já tinha sido partilhado milhares de vezes e vários jornais davam conta do acontecimento. “Homem tem celular furtado após tentar tirar foto com Lula; veja o vídeo”, puxou para título o jornal digital O Hoje; “Isto tem sido hábito e recorrente em eventos petistas. Como não é de estranhar”, acrescentou às imagens o autor de um dos posts entretanto tornados virais.

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A avaliar apenas pelas imagens, não é estranho pensar que o telemóvel foi, de facto, roubado. Nos primeiros instantes depois de o aparelho lhe ser retirado das mãos, o proprietário parece confuso e a filha também exibe um ar assustado, enquanto ao lado uma mulher grita qualquer coisa ininteligível e Lula continua o seu trajeto junto aos apoiantes, que por sua vez choram, tentam beijá-lo e também gritam.

Mas — já vieram garantir Diego Paraíso, nada menos do que o dono do telemóvel, e a equipa do candidato do PT — não foi nada disso que aconteceu. “O rapaz da equipa do Lula pegou meu celular para tirar uma foto nossa em frente à minha avó, que estava já no espaço onde o Lula se ia retirar, e depois devolveu o celular”, explicou Diego Paraíso, morador de São Francisco, a 165 quilómetros de Montes Claros, num vídeo publicado na manhã seguinte, também via Instagram.

“A fábrica de fake news bolsonarista já divulgou o vídeo por todo o Brasil, querendo associar o furto do celular com o Lula (…), mas estamos aqui para mostrar a verdade, está aqui o celular que não foi roubado”, garantiu o brasileiro, sentado no sofá de casa, com a filha ao colo. No final do vídeo é ainda possível ver uma das fotografias que Francisca, a sua avó, tirou com o ex-presidente e atual candidato ao cargo, nos bastidores, junto a uma ambulância do SAMU — uma vez que a camisa de ganga que traz vestida é a mesma que enverga nas imagens virais.

Pouco depois, a equipa de Lula da Silva divulgou uma nota à imprensa, a garantir que tudo não passou de um mal-entendido e a responsabilizar também a equipa do atual Presidente do Brasil pela desinformação: “A foto foi feita, e o celular devolvido. Porém, para o bolsonarismo, bastou a cena cortada, em que não se vê o desfecho do movimento, para espalhar mentiras e maldades contra Lula”.

O vídeo tornado viral é uma ínfima parte (são 49 segundos, que mostram a mesma cena duas vezes) do live emitido na noite de 15 de setembro no canal oficial de Lula da Silva no Instagram.

Através da análise do vídeo completo, que têm a duração de 5 minutos e 15 segundos, não é possível ver o telemóvel a ser devolvido a Diego Paraíso, mas dá para perceber que, enquanto o candidato do PT vai cumprimentando a multidão, vários são os aparelhos passados para o lado de lá da grade, para que o momento seja registado pelo staff de Lula da Silva — que logo a seguir os devolve aos respetivos proprietários.

Questionada pelo Estadão, a Polícia Civil de Montes Claros também assegurou não ter registado qualquer ocorrência relativamente ao caso. Mais: explicou que analisou as imagens a circular nas redes sociais e chegou à conclusão de que o proprietário do aparelho em causa é mesmo Diego Paraíso, primeiro nome Varlei.

Conclusão

Não é verdade que um telemóvel tenha sido roubado das mãos do proprietário, em pleno comício do PT e na presença de Lula da Silva. Um membro da equipa do candidato à presidência do Brasil retirou o aparelho das mãos do homem, sim, mas apenas para captar o momento em fotografia. Imediatamente a seguir, devolveu-lho.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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