No início de março, foram entregues à Guarda Nacional Republicana (GNR) dois carros de alta cilindrada cuja função é “exclusivamente” o transporte de órgãos. Só que uma publicação que surgiu esta quarta-feira no Facebook — e que desde então já foi vista por mais de 17 mil pessoas — diz o contrário: que este carro está a “a fazer piscinas de norte a sul” do país e a “passar multas”. Ora, ao Observador a GNR nega e garante que a publicação “não tem fundamento”.

A publicação original já foi partilhada por 71 utilizadores

A fotografia partilhada na publicação, aparentemente tirada do interior de um veículo, mostra apenas o carro da GNR para transporte de órgãos a passar numa autoestrada. Nada na imagem evidencia ou revela que esta viatura esteja a ser usada para “passar multas” de “norte a sul” do país. Só que é isso que afirma a legenda que acompanha a imagem. “O carro que seria para transporte de órgãos a fazer piscinas de norte a sul e a passar multas? As multas serão para pagar os 15 litros aos 100 que o GTR faz?”, lê-se no post.

O Observador questionou a GNR para saber se efetivamente este carro estaria a ser usado para outras ações de policiamento que não aquelas para que está destinado. O porta-voz desta força de segurança militarizada, o tenente-coronel João Fonseca, garantiu que “o conteúdo da publicação não tem fundamento” e reforçou que a viatura “está alocada exclusivamente ao transporte de órgãos”.

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Mas que carro é este e para que serve? Na verdade, são dois carros: um Mercedes CLS e um Nissan GT-R Black Edition que foram apreendidos em processos-crime, revertendo a favor do Estado, e que irão estar alocados “exclusivamente ao transporte de órgãos”: um em Lisboa e outro no Porto, segundo detalhou a GNR no anúncio que fez no passado dia 10 e março.

https://www.facebook.com/GuardaNacionalRepublicana/posts/3825559640875060

A cerimónia de entrega das viaturas decorreu no passado dia 9 de março no Centro Clínico da Guarda Nacional Republicana. Durante essa cerimónia, o comandante-geral da GNR, Rui Clero, detalhou que estas viaturas têm “as especificações de segurança e de celeridade adequadas à nobre missão de transplantes de órgãos em todo o território nacional”. O secretário de Estado-Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, acrescentou que as duas viaturas são “devidamente adequadas” ao transplante de órgãos, com a respetiva segurança, e serão “mais um contributo” para o Serviço Nacional de Saúde.

Também o ministro da Administração Interna destacou a importância de “colocar dois veículos com capacidades muito particulares, celeridade e modificação de características de condução, ao serviço de uma das funções mais nobres que a Guarda Nacional Republicana tem prestado em articulação com o Serviço Nacional de Saúde, que é o transporte urgente de órgãos para proporcionar a realização de transplantes“.

Ou seja, nenhum dos intervenientes da cerimónia disse que estes carros poderiam ou iam ser usados para outro tipo de ações policiais. Pelo contrário, reforçaram as características que fazem deles adequados para o transporte de órgãos.

GNR tem mais dois carros para transporte de órgãos

Além disso, todos eles enalteceram a necessidade de a GNR ter veículos como estes. Desde logo, porque Portugal é “um dos países que mais transplanta”, nas palavras de Lacerda Sales. O tenente-general Rui Clero disse ainda que “nos últimos cinco anos foram realizados 1.434 transportes, percorrendo na ordem dos 290 mil quilómetros, o equivalente a sete voltas ao planeta, e empenhando 2.882 militares“. Na publicação na sua página oficial, a GNR vai mais longe ao dar estatísticas dos últimos 10 anos: 2.836 transportes de órgãos, empenhando cerca de 5700 militares e percorrido mais de meio milhão de quilómetros” — dados que apenas afastam a ideia passada na publicação, de que estes veículos estão a ser usados para “passar multas”.

Conclusão

Publicação mostra uma fotografia de um dos carros de alta cilindrada entregues à GNR para transporte de órgãos e alega que um dos veículos está a “a fazer piscinas de norte a sul” do país e a “passar multas”. Ao Observador, o porta-voz da GNR, o tenente-coronel João Fonseca, garantiu que “o conteúdo da publicação não tem fundamento” e reforçou que a viatura “está alocada exclusivamente ao transporte de órgãos”.

No anúncio feito nas suas redes sociais, a GNR já tinha afirmado que estas “duas viaturas de alta cilindrada, apreendidas em processos-crime”, revertendo a favor do Estado, iriam “estar alocadas exclusivamente ao transporte de órgãos, ficando localizadas em Lisboa e no Porto”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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