Cães, ratazanas, cobras e morcegos, entre outros animais, mortos e vivos, à venda num mercado a céu aberto. É este o cenário que se vê no vídeo que tem circulado nos últimos dias nas redes sociais, como tendo sido filmado na cidade chinesa de Wuhan, onde terá começado a epidemia do coronavírus. Depois de serem disseminadas publicações em inglês, francês e espanhol, o vídeo está agora a ser partilhado com frases em português, que indicam que as imagens foram captadas na China. Mas as publicações são falsas. O mercado que surge no vídeo fica situado em Langowan, na Indonésia.
Nos últimos dias, o vídeo foi partilhado centenas de vezes no Facebook, acompanhado de frases como “Origem do vírus Corona veio do mercado de carnes da China” , “Origem corona vírus China ‘mercado animais vivos’ socorro imundície”, ou “Mercado de Wuhan, origem do corona vírus. Imagens fortes” . A maioria das publicações, que originaram centenas de comentários de repulsa, sugere que o vídeo foi filmado na cidade chinesa, enquanto outras apenas o relacionam com a origem do vírus, sem referir a cidade de Wuhan.
As afirmações estão, contudo, erradas. Logo no início do vídeo, é possível ler a palavra Langowan – e é aí que efetivamente se situa o mercado que aparece nas imagens. Ora, o Pasar Langowan, na Indonésia, fica localizado a mais de três mil quilómetros da cidade chinesa de Wuhan. É verdade que há teorias que apontam o mercado de Wuhan como a origem do vírus e é verdade também que neste espaço se vendem animais em condições duvidosas de higiene. Mas é falso que as imagens que circulam no Facebook tenham sido recolhidas no mercado chinês.
De acordo com a verificação das publicações feita pela AFP, que utilizou a ferramenta InVID* para procurar o vídeo, a mesma sequência de imagens foi publicada no YouTube a 20 de junho de 2019. No título pode ler-se “Pasar extreme Langowan” (Mercado extremo de Langowan, em português), enquanto a descrição diz que “a comida mais extrema do mundo está disponível apenas no Mercado Langowan”.
Aos 21 segundos, surge uma placa que confirma o local onde as imagens foram capturadas: “Governo da regência de Minahasa. Departamento do Comércio. Escritório do Mercado Langowan”. Mas só é possível ler o que está escrito no vídeo publicado no YouTube, porque tem melhor definição do que aquele que foi partilhado no Facebook.
Este é um mercado que tem chamado a atenção dos ativistas pelos direitos dos animais, pois é um local onde são mortos, cozinhados e servidos todos os tipos de animais. De acordo com uma petição que circula na internet, da oferta fazem parte morcegos assados, ratos no espeto e carne de cão. “Todos os animais são mortos em frente ao cliente, para preservar a frescura”, lê-se no texto, que classifica o Mercado Langowan como “um lugar de extremo sofrimento”.
Quanto à origem do vírus, têm surgido várias teorias nas últimas semanas, mas ainda não há nenhuma conclusão. Entre as várias hipóteses avançadas, houve quem apontasse o mercado de frutos do mar de Wuhan como uma das possíveis fontes do coronavírus.
Conclusão
O vídeo que mostra uma feira onde são vendidos todos os tipos de animais para consumo humano não foi filmado na China e não está relacionado com o coronavírus. As imagens foram recolhidas num mercado tradicional indonésio e publicadas no YouTube em junho de 2019.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
Errado
De acordo com o sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.