O alerta é dado nas redes sociais: “As zaragatoas utilizadas para recolher amostras orgânicas utilizadas no teste do SARS-CoV-2 são esterilizadas com óxido de etileno, um químico extremamente tóxico e cancerígeno.” A publicação, partilhada centenas de vezes no Facebook, tenta estabelecer a ideia de que fazer o teste à Covid-19, com recurso a zaragatoa, põe em risco a saúde de quem o faz. O Observador contactou o Infarmed, a Autoridade Nacional do Medicamento, que afasta esta hipótese já que qualquer processo de esterilização de dispositivos médicos passa por “uma avaliação rigorosa”. Por outro lado, em Portugal a esterilização de zaragatoas é feita através de raios gama.
De facto, em muitos países, as zaragatoas são esterilizadas com óxido de etileno e esta substância é usada com frequência nos hospitais e laboratórios para esterilizações — embora não seja esse o método usado atualmente em Portugal. Também é verdade que uma exposição prolongada ao óxido de etileno pode provocar cancro, mas, de novo, o seu uso em utensílios médicos é avaliado para garantir a segurança.
“O fabricante de dispositivos médicos é responsável por definir o método de esterilização adequado para o seu dispositivo médico tendo que dar cumprimento aos requisitos estabelecidos na Diretiva Europeia 93/42/CEE de forma a garantir a qualidade, segurança e desempenho dos dispositivos médicos”, explica o Infarmed, na resposta escrita enviada ao Observador. “Existem vários métodos de esterilização, sendo que qualquer um deles utilizado num dispositivo médico, para além da avaliação efetuada pelo próprio fabricante, exige sempre o envolvimento de entidade avaliadora externa, o organismo notificado no sentido de avaliar a conformidade considerando os requisitos legislativos e normativos.”
Por último, o Infarmed salienta que sendo “o óxido de etileno um método de esterilização de dispositivos médicos, o mesmo é sujeito a uma avaliação rigorosa, considerando o fim a que os dispositivos médicos se destinam”.
O uso do óxido de etileno para esterilização está autorizado pela EMA, a Agência Europeia do Medicamento, que nas recomendações sobre esterilização de produtos médicos relembra que o óxido de etileno “é um gás altamente tóxico”, só devendo ser utilizado “quando nenhum outro método é possível”. Quando utilizado, deve ser feita a avaliação de risco para garantir o controle de impurezas, de forma a limitar “o risco potencial cancerígeno”. Ou seja, quando é usado tem de responder a regras apertadas de segurança.
Em Portugal, a questão do óxido de etileno nas zaragatoas simplesmente não se coloca. Desde abril de 2020, que o país dispõe de uma capacidade de produção de zaragatoas superior a 50 mil unidades por dia, suficiente para as necessidades e para exportação. A solução é o resultado de uma parceria entre o Centro Académico Clínico Algarve Biomedical Center, a Mark 6 Prototyping, o Instituto Superior Técnico e a empresa Hidrofer.
Nesta parceria, a esterilização cabe ao Instituto Superior Técnico e é no seu laboratório que, durante horas, as zaragatoas são submetidas a radiação gama.
Conclusão:
Em Portugal, as zaragatoas utilizadas em testes de Covid-19 não são esterilizadas com óxido de etileno, mas sim com raios gama. Para além disso, o Infarmed garante que todos os processos de esterilização, incluindo os que utilizam óxido de etileno, passam por uma avaliação rigorosa para garantir a sua segurança.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.