O site Tuga Press noticiou há dois dias, a 8 de maio de 2019, que “Medina nomeou a sua mulher como adjunta”. A história é requentada e foi (mal) noticiada na imprensa em pleno familygate, a 2 de abril de 2019. Nesse mesmo dia, o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, desmentiu tudo com factos. A publicação do site Tuga Press foi partilhada mais de 600 vezes no Facebook nas últimas 24 horas, o que significa milhares de visualizações. Mas é falsa.

É verdade que Stephanie Silva é mulher de Fernando Medina. É igualmente verdade que a 26 de novembro de 2009 o então secretário de Estado Adjunto da Indústria e do Desenvolvimento, Fernando Medina, nomeou Stephanie Silva. Mas há um facto que torna a história falsa: Medina não tinha qualquer relação com a advogada quando a nomeou.

Despacho publicado em DR em dezembro de 2009

Quando Fernando Medina iniciou uma relação com Stephanie Silva, a adjunta pediu a exoneração e voltou ao escritório de advogados onde trabalhava antes de ir para o Governo: a Cuatrecasas. Assim, a 31 de janeiro de 2011, por não considerar ético continuar a exercer funções tutelada pelo namorado, Stephanie pediu a exoneração do cargo, o que foi aceite por Fernando Medina.

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Despecho publicado em DR a 31 de janeiro de 2011

Fernando Medina e Stéphanie Soulier Silva só viriam a casar a 17 de junho de 2012, um ano e meio depois de terem trabalhado juntos. E ambos resolveram qualquer dúvida ética que podia ser levantada com a saída da adjunta.

Ao longo do texto há mais mentiras. O artigo do Tuga Press diz que “há pouco tempo Medina, presidente socialista da Câmara Municipal de Lisboa, nomeou a sua própria esposa”. A “falsa notícia” foi publicada em maio de 2019 e a nomeação não tinha sido “há pouco tempo”, mas sim há quase 10 anos. Para além disso, Medina não podia ter nomeado a mulher porque nem sequer era casado com ela nessa altura.

No mesmo artigo é escrito que Stéphanie Silva foi nomeada a 1 de maio advogada do departamento jurídico da TAP. E é acrescentado que assumiu funções já depois de “Diogo Lacerda Machado, amigo de longa data de António Costa” ter sido nomeado para o executivo. É verdade que Diogo Lacerda Machado já estava na administração da TAP quando Stéphanie Silva foi nomeada, mas é administrador não-executivo. Ou seja: não decide as contratações. Esse contexto não é dado. No artigo também não é referido que a mulher de Fernando Medina foi a advogada Associada da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados e que assessorou a Atlantic Gateway — acionista privado da TAP — no processo de privatização da TAP que se concluiu em 2015, tendo depois continuado a assessorar a Atlantic Gateway na mesma qualidade, posteriormente, na PLMJ Advogados.

Além disso, a gestão executiva da TAP é integralmente composta por membros indicados pela Atlantic Gateway, acionista privado. Na sequência da aposentação da anterior diretora jurídica, a Atlantic Gateway decidiu então convidar Stéphanie Silva, como explicou fonte oficial da TAP ao Observador, “tendo em conta a experiência com aviação, conhecimento da realidade da TAP e excelente desempenho demonstrado”.

Há uma única ligação familiar que se pode fazer a Stéphanie Silva na nomeação para o governo em 2009, que é o facto de o pai, Jaime Silva, ter sido ministro da Agricultura durante primeiro governo de José Sócrates. Jaime Silva cessou no entanto funções em outubro de 2009 desse primeiro governo e a filha só entrou em novembro (no segundo governo de José Sócrates). Pai e filha não coabitaram no mesmo governo. Mas essa ligação nada tem a ver com Fernando Medina.

Conclusão

É falso que Fernando Medina tenha nomeado a mulher. Stéphanie Silva afastou-se do cargo quando começou o relacionamento com o secretário de Estado com quem trabalhava. Só casaram um ano e meio depois e não voltaram a trabalhar juntos.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associados de reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

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