A 25 de junho deste ano, voltou a circular pelo Facebook uma publicação em português em que uma fotografia de Steve Jobs visivelmente debilitado surge acompanhada por um texto onde estarão as “suas últimas palavras”, feitas em jeito de discurso. O texto mereceu mais de 340 partilhas e quase 300 interações, provavelmente pelo seu conteúdo emocionante. Porém, este texto é falso e estas não foram as últimas palavras de Steve Jobs antes de morrer.

No texto apócrifo, são atribuídas a Steve Jobs frases que procuram pintar o retrato de um homem que, estando perto de morrer, se arrepende da vida que levou. “Neste momento, deitado na cama doente e recordando toda a minha vida, percebo que todo o reconhecimento e riqueza que eu me orgulhei tanto, se empalidece e fica sem sentido diante da morte iminente”, lê-se. O texto culmina em “cinco factos inegáveis da vida”, onde se incluem conselhos como “não ensine seus filhos a serem ricos” ou “coma sua comida como come os seus medicamente. Caso contrário, você terá que comer medicamentos como sua comida”. Mesmo a fechar este texto apócrifo, é atribuída a Steve Jobs a derradeira frase: “Bom dia, sejam felizes!”.

Ora, como já dissemos, este texto é falso e estas não foram as últimas palavras de Steve Jobs.

O texto, que esta semana voltou a ser partilhado no Facebook, é uma variação de outro, escrito em inglês, que começou a circular na Internet em novembro de 2015 — isto é, mais de quatro anos depois da morte do co-fundador da Apple. Esse texto de 2015 pouco tem a ver com o que foi agora republicado em português. No primeiro texto apócrifo, não há qualquer menção a listas. Também a despedida é diferente: em vez de um “bom dia, sejam felizes!”, o primeiro texto termina com um “tratem bem de vocês mesmos, cuidem dos outros”.

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A única parte do texto que é mantida entre as duas versões é mesmo o início. Por exemplo, na versão que aqui analisamos, escrita em português do Brasil, lê-se:

“Cheguei ao auge do sucesso no mundo dos negócios. Nos olhos de outros, minha vida é um epítome do sucesso. No entanto, além do trabalho, tenho pouca alegria. No final, a riqueza é apenas um fato da vida ao qual estou acostumado.”

Na versão original, em inglês, lê-se:

“I reached the pinnacle of success in the business world. In others’ eyes, my life is an epitome of success. However, aside from work, I have little joy. In the end, wealth is only a fact of life that I am accustomed to.”

Ou seja: o texto, inicialmente publicado em 2015, já de si falso, deu origem a novos textos falsos, que o usaram como ponto de partida e, daí para a frente, acrescentaram novas ideias.

Estas não foram as últimas palavras de Steve Jobs antes de morrer, a 5 de outubro de 2011. Aliás, existe um relato fidedigno para aquilo que, afinal, o co-fundador da Apple disse nessa altura. Esse registo foi feito por Mona Simpson, irmã de Steve Jobs, que a 30 de outubro de 2011 publicou um texto no The New York Times onde falou do irmão, do seu caminho para o sucesso e também da doença que o matou, um cancro no pâncreas. A última secção do texto conta precisamente como foi a última noite de Steve Jobs — e a última ideia é mesmo reservada para as derradeiras palavras do inventor do iPod e do iPhone. Este é o excerto:

As últimas palavras do Steve, horas antes, foram monossílabos, repetidos três vezes.

Antes de embarcar, olhou para a sua irmã Patty, depois durante muito tempo para os seus filhos, depois para a sua companheira de vida, Laurene, e depois olhou para lá deles.

As últimas palavras do Steve foram:

OH, UAU. OH UAU. OH UAU.”

Conclusão

O texto que voltou a circular no Facebook como sendo as últimas palavras de Steve Jobs antes de morrer é falso e não passa de uma alteração a outro texto falso, que também dizia conter as derradeiras palavras do co-fundador da Apple, originalmente publicado em novembro de 2015. O relato mais fidedigno das últimas palavras de Steve Jobs foi feito por uma das suas irmãs, num elogio fúnebre publicado no The New York Times.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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