São muitas as informações sobre o novo coronavírus, responsável pela atual pandemia, que circulam nas redes sociais, sobretudo sobre as suas características — numa altura em que os conhecimentos sobre o vírus são ainda limitados. Neste caso específico volta-se, uma vez mais, à questão da resistência do vírus em superfícies inanimadas. Associada às imagens de vários materiais surge uma referência à sua resistência. Mas a informação tem de ser vista com atenção.

Publicação partilhada a 17 de março já estava desatualizada nesse dia

Em 16 horas esta imagem (atribuída a um site que fornece informações a médicos mas sem contexto) foi partilhada mais de 15 mil vezes, de acordo com dados do Facebook — e pode levar o leitor ao engano, por parecer, à primeira vista, que diz respeito ao vírus que está em causa neste momento. Mas convém ler com atenção o título: “Persistência dos coronavírus nas superfícies”. A referência não é a um coronavírus em particular, mas à família viral a que pertence, entre outros, o SARS-CoV-2 (que provoca a doença Covid-19). Ou seja, a primeira chamada de atenção é para a referência alargada aos vírus que fazem parte da família e não a um em particular.

Depois, se olharmos para a informação que está em rodapé, é possível verificar que a imagem diz respeito a um estudo e que este não inclui o vírus que provoca a Covid-19. Em letras minúsculas lê-se que a fonte é o estudo publicado no Journal of Hospital Infections, que “as altas temperaturas (30º) podem ter impacto na atividade dos coronavírus” e que  “os autores também confirmam que os coronavírus podem ser eliminados por desinfetantes comuns”. Mas há uma outra frase a que convém prestar atenção. É esta: “Covid-19 não foi incluído neste estudo”.

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Uma informação relevante que vem em rodapé mas que muda a forma como se devemos ler a imagem desta partilha que se tornou viral. E isto porque os dados que aparecem destacados não dizem respeito — ao contrário do que se pode deduzir ao olhar para eles num contexto de pandemia — à resistência do SARS-CoV-2 . Não é, de resto, a primeira vez que isto acontece em partilhas que recorrem ao mesmo estudo.

Coronavírus sobrevive até 9 dias em superfícies?

Entretanto, já são até conhecidos novos dados sobre esta matéria. Um novo estudo publicado no The New England Journal of Medicine mostra conclusões especificamente sobre o SARS-CoV-2 quando comparado com SARS-CoV-1, que é o vírus humano mais parecido. De acordo com a publicação, assinada por 12 especialistas, o vírus que provoca a Covid-19 “permaneceu viável em aerossóis durante o período que decorreu a experiência (três horas) com uma redução da carga infeciosa” semelhante à verificada no SARS-CoV-1. E “foi mais estável em plástico e aço inoxidável do que em cobre ou cartão”, tendo sido detetado até “72 horas após a aplicação nestas superfícies” referidas em primeiro lugar. Ainda que a carga do vírus tenha “ficado bastante reduzida” ao fim desse período.

Quando colocado sobre uma superfície de cobre, o SARS-CoV-2 já não foi detetado ao fim de quatro horas (o SARS-CoV-1 só não foi detetável ao fim de 8 horas). No cartão, o SARS-CoV-2 viável já não era encontrado ao fim de 24 horas (8 horas para o SARS-CoV-1).

Este é o estudo mais recentemente citado pela Medscape, o site de informação para médicos a que é atribuída a imagem em causa, que partilhou (leitura mediante registo no site) um artigo sobre o assunto intitulado “Os coronavírus ficam no ar por horas e em superfícies por dias”. A imagem que ilustra o artigo está descontextualizada, o que faz toda a diferença para a leitura da informação.

Conclusão

Respondendo diretamente à pergunta que vai em título, a resposta é não. O estudo mais recente sobre o novo coronavírus que causou a pandemia atual, o SARS-CoV-2, mostra que a sua sobrevivência em plástico é muito reduzida ao fim de 72 horas — ou seja, dura três dias e não cinco, como é referido na imagem partilhada. E no papel a sua durabilidade não ultrapassa um dia — ou seja, não chega aos cinco que aparece na imagem partilhada. Há duas confusões nesta imagem que podem induzir as pessoas em erro. A primeira é que não especifica a que vírus concreto se refere, sendo lógico que no atual contexto a associação feita pelos leitores seja com o vírus mais falado, o que provoca a Covid-19. Mas as conclusões partilhadas dizem respeito a toda a família viral dos coronavírus. Mais: o estudo citado (em nota de rodapé) não inclui sequer o novo vírus, mas sim outros três da mesma família: o SARS (Síndrome respiratória aguda grave), o MERS (Síndrome respiratória do Oriente Médio) e o coronavírus humano endémico (HCoV). O que seria correto, nesta altura, era detalhar que alguns coronavírus sobrevivem cinco dias em plástico e quatro em papel mas que o novo vírus não está incluído no estudo. As investigações científicas sobre o SARS-CoV-2 começam só agora chegar às primeiras conclusões, mas ainda há muitas características que permanecem em estudo. O que é certo é que, até existirem dados cientificamente confirmados, as autoridades de saúde recomendam o distanciamento social e a desinfeção constante das mãos e de superfícies comuns, como por exemplo maçanetas.

De acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:

Enganador

De acordo com a classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associadas a reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

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