Os exames nacionais não definem a vida toda
Esta é uma fase difícil, em muitas casas. Eu sei porque já a vivi, não só como aluna, mas também como mãe. E já escrevi sobre isto há cerca de um ano, aqui no Observador, mas acho mesmo que nunca é demais lembrar este tema. |
Os exames trazem uma tensão familiar que quase se consegue palpar. São uma espécie de porta que, abrindo-se, traz um futuro radioso, e, pelo contrário, fechando-se, traz a hecatombe. Nem uma nem outra têm necessariamente de corresponder à verdade. Ou, pelo menos, à única verdade. |
Não é fácil ser finalista do secundário. Os exames têm um peso entre os 35% e os 50% na média da candidatura ao ensino superior, o que significa que, se correrem mal, a entrada na universidade pode ficar seriamente comprometida. Não admira que ande por aí muita ansiedade, muito nervoso miudinho, muita frustração. E miúdos que fogem de casa, só para não passarem pelo crivo apertado da exigência parental, e até os que tomam decisões mais radicais e definitivas (sei, infelizmente, de alguns). |
Quanto mais penso nisto, mais me parece tudo absurdo. É claro que os pais e os adolescentes (pelo menos alguns) desejam que tudo aconteça à primeira. Sem espinhas. Saída do 12º ano direitinho para uma universidade. Sonho! Se puderem ser médicos, então, excelente (porque toda a gente sabe que ter um filho médico é uma espécie de pódio de perfeição que é atribuído não só aos filhos, mas principalmente aos pais). |
A questão é que nem sempre os sonhos se realizam. Pelo menos à primeira. O que não significa que um filho vá ser um falhado, nem corresponde à atribuição de um carimbo de “maus pais” aos progenitores. E que tal tirar um pouco do peso a tudo isto? Já contei, no ano passado, o quão desesperados ficámos quando percebemos que o nosso filho mais velho não ia entrar em nenhum dos cursos de nenhuma das universidades pretendidas. Foi assim uma sensação de falhanço geral: dele, nossa, do mundo em geral. Por isso, sim, entendo-vos bem. |
A verdade é que esse ano foi tão bem aproveitado que se revelou um dos melhores da vida dele. É ele quem o diz, se bem que nós também pudemos constatar o mesmo. O Manel fez voluntariado num país muito pobre (e viveu numa cabana de locais, com baratas a subirem-lhe pelas pernas, ganhando uma consciência muito mais vivida do mundo), fez voluntariado também por cá, foi estudar um mês para fora, leu muito, estudou muito, pensou muito na vida. Por acaso, não acabou a achar que devia mudar de curso, mas podia ter acontecido. Entrou na universidade no ano seguinte (ainda não na pretendida) e, passado outro ano, conseguiu entrar no curso e na faculdade desejados. E agora? Perdeu dois anos? Ou, pelo contrário, ganhou dois anos? |
Para nós a resposta é óbvia: ganhou dois anos. É claro que foi preciso deixar o tempo passar para que o percebêssemos. Quando estávamos na cegueira dos exames e das admissões ao ensino superior, aquilo parecia ser o o único caminho possível. É um erro pensar assim. Há tantos caminhos. Por vezes, parar pode ser a melhor forma de olhar para os caminhos que existem e perceber qual é o que nos serve. Aconselho muito a consultarem o site Gap Year Portugal, que é uma ONG que pretende consciencializar para a importância que um ano de intervalo pode ter na vida dos estudantes. |
Há muita coisa que eu mudava no ensino em Portugal, se pudesse. Mas também não sei como faria, e é por isso que não estou na calha para mudar o que quer que seja. Ser treinador de bancada é muito mais fácil, naturalmente. Só acho que é extremamente difícil saber o que se quer fazer da vida no 10º ano. Com 15 anos, como saber? Sobretudo, quando não existe uma demonstração prática da vida profissional, para que os estudantes tenham uma ideia das profissões. Achava importante, logo ali no 7º ano, haver visitas de estudo a empresas, ou visitas de profissionais das mais variadas áreas às escolas. Para que os miúdos vissem, de perto, ou ouvissem, de viva-voz, o que é ser engenheiro (sendo que, só dentro da Engenharia, há para aí trinta subdivisões), arquiteto, gestor, economista, jornalista, advogado, arqueólogo, artista plástico, biólogo, chef de cozinha, comercial, canalizador. Se, no decorrer dos 7º, 8º e 9º anos, eles tivessem este contacto direto com as diferentes profissões, talvez chegassem ao 10º ano com uma mais real noção do que escolher e do que não escolher. A maior parte dos alunos nem conhece a generalidade das opções que existem, quanto mais saber o que escolher. |
Este ano, aqui em casa, o segundo filho concluiu o 12º ano. Com um total desinteresse por todas as matérias (apesar de ter terminado o 12º ano com média de 15, e o secundário com média de 14), sem qualquer vontade de continuar a estudar, sem qualquer perspetiva de futuro, pôs-se-nos o problema: aceitamos que pare de estudar? Aplaudimos e deixamo-lo começar a trabalhar? Afinal, nem todos podem ser doutores, certo? Pois, talvez isso representasse uma maturidade da nossa parte, mas não fomos capazes. |
Apesar das notícias recentes que indicam que a diferença de vencimento entre os que concluem o ensino superior e os que se ficam pelo secundário está muito esbatida, não conseguimos deixar de o aliciar a continuar os estudos. Mesmo que, depois, não siga profissionalmente aquilo que estudou, entendemos que será sempre útil ganhar ferramentas, conhecimento, cultura, saber. Se ele tivesse recusado liminarmente, desistíamos, claro. Não íamos esticar essa corda até romper, até porque há sempre outras alternativas. Mas, na verdade, não foi difícil convencê-lo. Claro que, com média de 14, não consegue entrar em nenhum dos cursos que acha menos insuportáveis. E, por isso, irá para uma universidade privada, que tem um curso muitíssimo interessante, e que conseguiu captar a sua (entediada) atenção. Já sabe que terá de trabalhar para ajudar a pagar o curso, e só lhe fará bem ter uma noção real do valor do trabalho. |
Quem leu o meu texto sobre a oportunidade de um gap year, poderá estar a perguntar-se: por que não um gap year para este filho, já que foi tão útil e benéfico para o primeiro? Simples. Porque o primeiro é um certinho, que gosta de estudar, que é, até, bastante teórico. Por isso, parar um ano seria mesmo só isso: uma paragem enriquecedora para depois prosseguir com os estudos. Já para este… uma paragem poderia significar (eu arriscar-me-ia a garantir que significaria mesmo) o fim de qualquer hipótese de tornar a ingressar no ensino superior. Assim, preferimos apostar num gap year no fim da licenciatura ou do mestrado. Melhor jogar pelo seguro, neste caso. |
De resto, na educação dos filhos, cada caso é um caso. O que é válido para um, pode ser totalmente contraproducente para o outro. Não há soluções universais, há soluções feitas à medida. À medida de cada cabeça, de cada sentença, de cada personalidade. E, mesmo com estes cuidados, podemos sempre estar a fazer tudo mal. É essa a graça e o horror de sermos pais. É essa a magia. Quanto aos exames… não deixem que eles estraguem a magia da vossa relação. É só um exame, é só um ano, em todos os anos da vida deles, e da vossa. Se não correu bem desta vez, para a próxima correrá melhor. |
Vale a Pena… |
… Ir ao Fazer a Festa, Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude, no Porto
É a 42ª edição deste que é o terceiro festival de teatro mais antigo do país.
Sábado e domingo há workshops, contos, e peças de teatro, para todas as idades.
Na Quinta da Caverneira (Av. Pastor Joaquim Eduardo Machado), Águas Santas
Tel.: 222 084 014 / 917 691 753 / 910 818 719 |
… Morrer de medo n’A Purga 1.2., em Sintra
Quando escrevi esta newsletter ainda havia bilhetes para dia 1 de Julho, mas deviam estar a esgotar porque para os outros dias já dizia “sem disponibilidade”. É tudo gente doida. Não me apanhavam nisto nem morta, mas admito que para quem goste do género “terror” será uma noite bem passada (cruzes, credo!).
Então, a ação passa-se no Parque Urbano 25 de Abril de 1974, em Sintra. Trata-se de um jogo de ação e terror ao vivo, em que os jogadores são transportados para um futuro próximo, onde o governo legalizou uma noite anual de crime, conhecida como “A Purga”. Os jogadores dividem-se em equipas, cada uma com um objetivo especifico. Enquanto tentam alcançar os seus objetivos, têm de se defender e atacar assassinos, psicóticos, raptores, traficantes, terroristas, vândalos, ladrões. Podem imaginar a adrenalina disto, ainda para mais em Sintra, à noite? Fabuloso para quem goste. Para mim, não obrigadinha.
Proibida a entrada a menores de 12 anos. Preço: 25 euros |
Visitar o Dino Parque da Lourinhã
É o maior museu ao ar livre de Portugal, inserido numa área de dez hectares e com quatro percursos correspondentes a épocas da história da Terra: o fim do Paleozóico, o Triásico, o Jurássico e o Cretácico.
Há mais de 120 modelos de dinossauros e outros animais à escala real, para que os miúdos possam perceber o tamanho modesto destes animais de que tantos gostam. Ao contrário de outras exposições que já visitei, em que os bichos se mexiam e faziam sons assustadores, aqui é tudo mais tranquilo e, em princípio, ninguém se vai desfazer em prantos (acreditem, sei do que falo, o meu mais novo chorou baba e ranho numa exposição na Cordoaria, há uns anos, transido de medo dos dinossauros).
Horário de Abertura: 10h00. Bilhetes entre 9,50 euros e 12.50 euros |
|
… Gostou desta newsletter? Tem sugestões e histórias que quer partilhar? Escreva-me para smsantos@observador.pt. |
Pode subscrever a newsletter “Coisas de Família” aqui. E, para garantir que não perde nenhuma, pode assinar já o Observador aqui. |
Sónia Morais Santos é autora do blogue “Cocó na Fralda“. Ex-jornalista, tem quatro filhos e dois cães, já passou por vários jornais e revistas em Portugal e publicou quatro livros [ver o perfil completo]. |
|
|