Vivemos estes dias, a enorme graça de assinalar o centenário do 1.º Congresso Eucarístico Nacional, aproximando-nos a passos largos do 5.º Congresso Eucarístico Nacional, que terá como tema: “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança – Reconheceram-n’O ao partir o pão (Lc 24, 35)”. Posto isto, ao abrigo do 5.º Congresso Eucarístico Nacional, de 31 de maio a 2 de junho deste ano, presidido na arquidiocese de Braga, no Santuário do Sameiro (Braga), por sua Eminência, D. José Tolentino Mendonça – na qualidade de delegado pontifício-, é um wake up fortíssimo para «a presença de Jesus, primeiro com as palavras e depois com o gesto de partir o pão, [o qual] tornou possível aos discípulos reconhecê-l’O e apreciar de modo novo tudo o que tinham vivido anteriormente com Ele» (DV 54).
Assim sendo, a Eucaristia alimenta o nosso sentido de comunhão, pois é na comunidade reunida para celebrar o mistério de Cristo que encontramos o sentido para a nossa missão de “levar Jesus a todos e todos a Jesus” (mote da arquidiocese bracarense).
Este será um congresso com ilustres conferencistas (leigos e clérigos), workshops, momentos de oração eucarística, liturgia das horas, etc, celebrando e afirmando a nossa firme certeza da nossa fé na presença real de Cristo, na Eucaristia, por vezes, tão esbatida, e de que queremos gritar a plenos pulmões: Cristo habita os nossos Sacrários, Cristo é quem recebo quando comungo, Cristo atualiza de forma incruenta a sua paixão, morte e ressurreição na Eucaristia. Não há vida cristã sem Eucaristia, sem Cristo.
Assim sendo, em todos os arciprestados da nossa arquidiocese, é, justamente, neste mês de maio (comummente conhecido por “mês de Maria”), tão devotamente vivido, que unidos à Mãe de Jesus, nos unimos ao seu amantíssimo Filho, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, com diversos lausperenes (louvou perene), mobilizando as nossas comunidades paroquiais para o encontro dos encontros, em silêncio orante com Cristo Sacramentado.
Posto isto, o objetivo desta minha comunicação é relacionar o indissociável binómio Eucaristia/Maria, isto é, de que sem Eucaristia, não existe Maria, em nossas vidas! Depois sim, vieram as 7 aparições marianas (Ciclo Mariano), nas quais não me vou deter.
Precedentemente de os pastorinhos de Fátima – já com uma educação pia bem cuidada e formada-, terem sido, pela mão do Anjo de Portugal, recebidos e instruídos nos mistérios Crísticos, pela Santa Eucaristia, é, para os nossos dias, de uma enorme interpelação e convocação!
Aliás, a nossa Mãe bendita, claramente indica – como que nos educando, como mãe solícita -, qual o caminho… “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). É de todo evidente e claro que para estarmos em comunhão, sintonia e simbiose com Maria, temos de estar com o Filho! Não há outro modo! Sendo Portugal – e que graças tem recebido, por vezes, não correspondidas -, tão piamente devoto de Maria, só pode demonstrar essa enorme devoção de forma eucarística. Não existe nenhum mariano que não seja eucarístico ou vice-versa!
As aparições de Nossa Senhora em Fátima foram precedidas por três visões (Ciclo Angélico) – por vezes descurado face ao Ciclo Mariano -, em que Lúcia, Francisco e Jacinta estiveram na presença do Anjo de Portugal ou da Paz. Por meio desses colóquios com o Anjo, a providência predispõe as crianças para o momento em que Nossa Senhora lhes falaria, brevemente.
O Anjo de Portugal ou da Paz, embaixador da Rainha do Céu!
1.ª Aparição do Anjo:
Local: Loca do Cabeço, Pregueira nos Valinhos
Data: primavera de 1916
«– Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.
E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural, imitámo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:
– Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam, e não vos amam.
Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse:
– Orai assim. Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.»
Memórias da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010, p. 169 (IV Memória). Cf. também Memórias da Irmã Lúcia I, p. 77-78 (II Memória).
2.ª Aparição do Anjo
Local: Quintal da casa de Lúcia, junto ao Poço do Arneiro
Data: verão de 1916
«– Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de sacrificar? – perguntei.
– De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.»
Memórias da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010 p. 170 (IV Memória).
3.ª aparição do Anjo
Local: Loca do Cabeço
Data: outono de 1916
«[…] trazendo na mão um cálice e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração:
– Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.
Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo ao mesmo tempo:
– Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.
De novo se prostrou em terra e repetiu connosco mais três vezes a mesma oração.
– Santíssima Trindade… etc.»
Memórias da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010, p. 170-171 (IV Memória).
Infelizmente, todos, certamente, constatamos que a Páscoa (passagem) semanal (Eucaristia dominical) é cada vez menos frequentada, procurada, vivida. Peço, desde já, imensa desculpa a quem esta matéria não se aplica – porque os há. Muitos bons cristãos são, alegadamente, profundamente devotos de Maria, mas pouco devotos da Eucaristia. Muita fé em Maria, pouca fé na Eucaristia! É um erro, caros irmãos. Como podemos constatar, historicamente, é factual. Primeiro veio a Eucaristia, veio Cristo, só depois, sua Santíssima Mãe.
A Santa Missa é Cristo quem se dá ao Pai, por nós! Se é verdade que por Maria vamos até Jesus, sem Jesus nunca iremos a Maria! De que adianta tanta devoção a Maria, sem adoração ao seu Filho? Não quero tirar a fé a ninguém, todavia, de que adiantam muitas peregrinações, promessas, romarias e procissões, sem sermos homens e mulheres profunda e apaixonadamente eucarísticos? Sem Eucaristia bem vivida, bem preparada, bem celebrada, comunhão em estado de graça, adoração eucarística, a coisa não vai lá…
Como podemos ver tanta boa gente, neste “mês de Maria” – e ainda bem -, que veneram docilmente Maria Imaculada, não participarem na Eucaristia, não serem eucarísticos? Quem nos concede as graças é a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), o nosso bom Deus! Maria, isso sim, a intercessora das intercessoras, a “medianeira de todas as graças”.
Queremos graças alcançadas por meio da nossa maior intercessora, junto da Santíssima Trindade, revamos a nossa fidelidade batismal, a nossa conduta moral aos olhos de Deus e da sua Igreja e sejamos profundamente Eucarísticos! Desejamos graças, sejamos de Cristo, da Trindade e seremos de Maria! Afinal, é o que queremos ser: de Maria, certo? Pois bem, é este o caminho!
Todos sabemos que os fenómenos de massas, assim, como a iliteracia religiosa – por puro descuido e falta de quem forme cristãmente -, possa promover este tipo de religiosidade self-service, sem ardor, sem fulgor, sem participação nos sacramentos (os sinais visíveis de Deus), sem participação na comunidade, sem procurar, de verdade, a Santidade.
Maria alertou-nos para um mundo longe de Deus! Penitência, conversão, reparação, voltar o nosso coração para Deus! Maria é o ex-líbris da humanidade, mas não é uma deusa! Jamais deseja adoração! Deseja, isso, sim, que o mundo adore a Santíssima Trindade, ame incondicionalmente o seu Filho.
Afinal, não é o que todas as mães desejam? O melhor para os seus filhos? Cristo deu-nos a sua excelsa Mãe, como mãe das dores, no Calvário, no alto da Cruz (cf. Jo 19, 25-34). É este o pedido da Mãe do Céu, Mãe de Deus e nossa Mãe: não martirizem mais o meu amantíssimo Filho Jesus, meus filhos, em Jesus.
A Eucaristia recorda-nos o nosso batismo, renúncias, promessas e a incorporação no seu Corpo Místico, como bem explana a Sacramentum Caritatis: «O relacionamento pessoal que cada fiel estabelece com Jesus, presente na Eucaristia, recondu-lo sempre ao conjunto da comunhão eclesial, alimentando nele a consciência da sua pertença ao Corpo de Cristo» (formas de devoção eucarística, 68).
Será que temos consciência do que implica ser batizado? O que é ser cristão senão ser de Cristo, como Cristo, em Cristo, por Cristo. Quantos cristãos nossos – por ignorância, estou persuadido -, fazem promessas, romarias, ladainhas, mas não participam dos sacramentos, mormente o da Reconciliação e Eucaristia e meditam nas Sagradas Escrituras?
Vivem uma fé sua, não a da Igreja! Não é esse o caminho. O Caminho é Cristo! Só Ele nos conduz ao Pai! (cf. Jo 14, 6). Permanece o eco, pelos séculos dos séculos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Maria sempre indicou Quem…. Sejamos homens e mulheres eucarísticos e vos asseguro – quem o assegura é Maria -, que, por intercessão de Maria Santíssima, as graças vão chover do Céu, como um dilúvio, se formos inteiramente de Cristo!