Para quem já teve a bela oportunidade de contemplar a famosa escultura de bronze do escultor francês, Auguste Rodin, “O Pensador” (1904), no museu de Rodin, em Paris, creio que nos vemos, todos, nele, como num espelho. Esta escultura, originalmente, chamado de “O Poeta”, era parte de uma comissão do Museu de Arte Decorativa em Paris para criar um portal monumental baseada na Divina Comédia, de Dante Alighieri. Cada uma das estátuas na peça representavam um dos personagens principais do poema épico. “O Pensador” originalmente procurava retratar Dante em frente dos Portões do Inferno, ponderando o seu grande poema, diante do caos infernal da existência – como quem pondera a sua existência terrena. A escultura está nua, porque Rodin queria uma figura heroica, à la Michelangelo, para representar o pensamento assim como a poesia.

Diante das “portas do inferno” é uma escultura de Auguste Rodin, iniciada em 1880 e finalizada apenas em 1917. (cf. Antoinette Le Normand-Romain, Reunion des Musees Nationaux. Musee Rodin, 1995; Ruth Butler, New Haven, Yale Univ., 1993. John L. Tancock, , Museum of Art, Philadelphia, 1976, etc), que materializam o luto, a doença, o sofrimento, a morte, o desespero, a ansiedade que, tantas vezes, nos batem, com extrema e violência e sem contar, à porta de nossa casa (o caos do inferno da obra de Rodin) e, sem nos darmos conta, instintivamente, damos por nós, debruçados sobre nós próprios, como “O Pensador”, procurando, esmiuçando, interiormente escavando, desesperados, respostas que não encontramos no exterior, mas sim no mais íntimo de cada um – ressalve-se que essa indagação não é meramente uma introspeção pragmática – como tentativa de encontrar respostas no subconsciente –, mas fruto de um diálogo espiritual com o transcendente.

Se interrogado sobre como definir o ser humano, enquanto ser racional, diria que o mesmo é um ser em constante e infindável pergunta! Somos sempre, para os demais, uma pergunta (“quem é?; de quem és?; que fazes?; etc) e vivemos sempre à procura de respostas. Desde que nascemos, passamos, irritantemente, a vida, ainda em tenra idade, de forma continuada, a elaborarmos inúmeras questões aos nossos pais, professores, educadores e demais adultos sobre tudo aquilo que nos rodeia e o nosso lugar nele: “Pai, mãe, porque é que é assim? e se fosse assado? e porque é que os peixes só conseguem respirar na água e nós não? e porque é que temos de estudar? e porque é que o planeta é redondo?”; etc.. (cf. Elizete Passos, Introdução à Filosofia: aprendendo a pensar, 2004, Junot C. Matos, Filosofia (da) perguntação, 2021; José Tolentino Mendonça, O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas, Quetzal Editores, 2017, etc). E tantos outros autores desenvolvem a temática do Homem, como o único ser vivo que interroga e é, ele próprio, interrogação.

Posto isto, nesta introdução ao ser humano, como único ser vivo que questiona, porque ser pensante (René Descartes – “o método cartesiano”), é o ponto chave das JMJ, visto esta ser uma resposta para a Humanidade! Há algumas semanas atrás, D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa e futuro cardeal, presidente das JMJ 2023, teceu, numa entrevista que concedeu, algumas declarações que geraram uma certa onda de indignação, quanto ao real propósito das JMJ, instituídas por São João Paulo II.

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Em primeiro lugar, antes de julgamentos precipitados e injustos – D. Américo não me encomendou esta defesa –, é necessário ouvir a entrevista por inteiro. Infelizmente, é um problema endémico dos mass media – que ele bem conhece por dentro: extrair uma declaração, colocá-la fora do seu contexto e dela fazer-se o “fim do mundo”.

Em segundo lugar, dizer, obviamente, que as JMJ são um encontro de jovens católicos de todo o mundo – num espírito de total partilha e permuta de formas distintas de ser-se católico, nas suas mais diversas geografias, com as suas culturas e mundividências próprias, no uno que a Igreja é –, que não descarta a possibilidade de jovens ou adultos não católicos – até os mais idosos, como solicitou o Papa Francisco que os tivéssemos presentes – não sendo um evento exclusivo de jovens e, como é tácito, a Igreja não fecha portas a ninguém, pelo que as palavras de D. Américo, enquadradas no todo da entrevista, são nesse sentido: uma Igreja inclusiva, aberta, acolhedora, desprovida da “alfândega da fé” (recado, esse, dado aos padres, pelo Papa Francisco, como o “oitavo sacramento” da Igreja), mas que não só permite, como deseja genuinamente que qualquer jovem, adulto ou idoso, possam participar, independentemente de serem católicos ou não católicos (cristãos não católicos, outra religião ou não professos, tais como ateus e agnósticos).

Evidentemente que as JMJ são um encontro de fé católico (não um encontro de uma ONG) que procura apresentar e propor Cristo, como resposta ao homem e mulher, de hoje – como de todos os tempos –, que séria e intelectualmente se interrogam! Nada mais é que uma belíssima oportunidade de Evangelização! Deveríamos fechar portas a quem não é católico? Nada mais errado. Que venham! E muitos! Sintam a transcendência, deixem-se interrogar e quem sabe – no espírito único e sublime, próprio das JMJ e quem já participou em alguma JMJ sabe bem do que falo (participei em Madrid, em 2011) –, em Cristo encontre resposta. Louvado seja Deus, se a um único que seja, isto suceda!

Com efeito, contrariamente ao pensamento de muitos ditos católicos, a Igreja Católica não está a vender-se, nem a abdicar da sua identidade crística e dogmática, herdada dos santos apóstolos! A Igreja, nas JMJ, apresenta Cristo, o seu Evangelho, o Reino que Jesus quer implementar e as exigências que daí advém. O facto de as portas estarem abertas a todos não é sinónimo do “vale tudo”, mas de que a Igreja dá possibilidade a todos de ouvirem a Verdade – como resposta para as suas vidas –, que é Cristo, cuja adesão, caso aconteça a quem não é católico, comporta sempre conversão, isto é, alinhar a sua vida segundo Cristo e o seu Evangelho e a quem já o é, uma belíssima oportunidade de introspeção do modo como tem vivido a fé, até procurando o sacramento da reconciliação, e de trazer consigo uma inebriante e contagiante alegria de ser cristão e um desejo transbordante de anunciar Cristo, à semelhança de S. Paulo (cf. 1 Cor 9, 16).

Efetivamente, é, no meu entender, esta a destrinça que deve ser feita de uma vez por todas, para evitar “lutas internas sem sentido” entre alegados conservadores e progressistas: uma Igreja aberta, de portas escancaradas, que sabe acolher a diferença e o diferente – e o quanto tem a Igreja a aprender neste âmbito–, que não repudia de imediato ninguém (como se nós católicos fossemos uma casta à parte puritana e santa) e por sabermos que a vida de determinado sujeito não condiz com a do Evangelho, nem lhe oferecemos possibilidade de conversão – constituindo grave pecado –, pois a Igreja para ele, já está fechada a sete chaves… Nada mais errado, pecaminoso e contra evangélico!

Tanto quanto sei – posso estar equivocado –, Cristo, para chamar os pecadores – pois foi para isso que Ele veio (cf. Lc 5, 32) –, caminhou amorosamente com eles – todos nós –, apresentando-lhes o projeto do Reino de Deus e os valores que o mesmo comporta. A conversão, isso, fica a cargo de quem o escuta, em plena liberdade, tal qual o “jovem rico” que recuou perante o desafio evangélico que Cristo lhe endereçou (cf. Mt 19, 16-30).

Posto isto, termino, com aquela passagem próxima à Pascoa de Jesus (cf. Jo 14, 1-7), onde Este diz a seus discípulos que partirá (fala da sua morte) e em casa de seu e nosso Pai haverá muitas moradas para os receberem, não sem antes dizer-lhes «não se perturbe o vosso coração». Todavia, Tomé (no qual todos nos revemos) pergunta: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos conhecer o caminho?» Ao qual Jesus responde: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida»!

«Não se perturbe o vosso coração», isto se o nosso n’Ele está. Efetivamente, na certeza da ressurreição não há que temer a morte, nem um possível vazio após esta. No entanto, Tomé faz uso da palavra porque não conseguiu ainda apreender qual a verdadeira missão de Jesus: trazer a paz. «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz» (cf. 14, 27). Jesus é o príncipe da paz (cf. Is 9, 6).

Com efeito, tantos de nós vivemos desesperançados, agoniados, com medos, inseguranças; n’Ele tudo se apazigua. Vivemos tão sem paz… Não falo da ausência de conflitos bélicos (isso já nem se fala). Falo da paz interior. Estarmos reconciliados com o nosso passado, seja ele qual tiver sido. A título de exemplo, fruto de um diálogo com um idoso: “Padre, Deus perdoará o que eu fiz ao longo da vida, tantas opções mal tomadas? O que eu fiz não tem perdão… prejudiquei muita gente, etc”. Importa frisar que a desesperança final de salvação é pecado, isto é, Cristo, na cruz, “tratou do assunto” (único holocausto possível a ser aceite por Deus, face ao nosso pecado), para todo aquele que de verdade, nem que seja na última hora, como ao bom ladrão (cf. Lc, 23, 46), se arrependa visceralmente. O Sacramento da reconciliação é o sacramento da paz! «Não se perturbe o vosso coração»!

É o caminho a seguir. Todas as opções tomadas ao longo da nossa vida – e são muitas e muitas delas sem volta a dar –, nas bifurcações, tri, quadrifurcações da mesma, quando não sabemos para onde ir, que caminhos escolher, que opções tomar: escolhe Cristo, isto é, escolhe o caminho que o Evangelho apresenta e acertarás sempre!

De facto, no ritmo alucinante e estonteante a que a vida decorre, sempre em contrarrelógio, nem sempre temos tempo de “retiro”, para parar e refletir o caminho que sigo ou pretendo seguir. Tantas vezes andamos como baratas tontas, sem saber para onde ir. Andamos já em modo automático, silenciando as questões que outrora colocávamos, na juventude…. Deixamo-nos andar.

No entanto, há momentos na vida em que paralisamos – hirtos que nem pedras –, como “um burro” em cima de uma ponte, no que diz respeito a que curso seguir, trabalho/empresa a escolher, marido ou esposa a amar, ser padre e/ou religioso e tantas outras opções de vida, sobretudo as definitivas e quando confrontados com a realidade do sofrimento e da morte. Escolhe Cristo. Ele é o caminho! Cristo não te entregou, como GPS, as opções que tens de tomar na tua vida – nem poderia fazê-lo, de contrário, a vida não seria tua –, no entanto, se forem à luz do Evangelho, levar-te-ão sempre a bom porto. O final da estrada, mesmo com os seus espinhos, porque isso Ele não retira, mas ajuda, será feliz, se orientados pelas máximas que Cristo apresenta, podendo afirmar, como S. Paulo – e como seria bom se todos pudéssemos afirmar o mesmo diante da morte –, no final do caminho terreno: «combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé» (2 Tm 4, 7-8).

Ele é verdade! Num mundo pautado por tanta duplicidade, hipocrisia, mentira (o demónio é o pai da mentira [cf. Jo 8, 44]), quando não sabemos que mestres escutar, Ele é a verdade a escutar e a aprender dele a ser manso e humilde de coração (cf. Mt 11, 29). Tantos homens e mulheres, sábios e menos sábios, ao longo da história humana, filósofos, ensaístas, poetas, todos nós, como Pilatos (cf. Jo 18, 38), se interrogaram sobre o que é a verdade? É Jesus!

Hoje, no tempo das fake news, no controlo de massas operado pelos mass media, que só apresentam a “cartilha” que lhes convém – não estou a falar de Portugal, falo do modus operandi da mesma no mundo, onde Portugal se insere –, de histórias contraditórias, de diversas formas de nos posicionarmos politicamente, e como tal, como vemos o mundo segundo a nossa filiação partidária, Ele é a Verdade. Que Mestres escutar e seguir hoje? Tão difícil… São tantos! Tantos palreiam e nunca sabemos se nos estão a contar a verdade… Mass media, governos, couchers, gurus, até clérigos… Quem escutar? Em quem acreditar? Escuta Cristo e o seu Evangelho e, não duvides, na tua vida terás encontrado um sentido pleno, porque o que realizas é por uma causa justa e verdadeira e não será uma vida desperdiçada ao serviço de uma falácia qualquer.

E, por fim, é a vida! Só em apresentar Cristo como Vida, tudo o que já escrevi anteriormente, é secundário… Quem n’Ele morre, n’Ele ressuscita, pois é o autor da vida, é o vencedor do último inimigo a ser derrotado: a morte (cf. 1 Cor 15, 26). O próprio o afirma, aquando do episódio da reanimação de Lázaro: «Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá e todo aquele que vive e acredita em mim nunca morrerá. Acreditas nisto?» (Jo 11, 25-26), referindo-se a Marta, irmã de Lázaro. E, nós, acreditamos? Imperativamente, a nossa fé radica na crucificação e ressurreição do Senhor: «Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos procuram sabedoria, nós, proclamamos a Cristo crucificado, que é motivo de escândalo para os judeus e loucura para os gentios!» (1 Cor 1, 23).

Pode haver maior liberdade de que se saber livre da morte? Pode haver maior liberdade de que saber que, o quer que nos façam os homens, inclusive, matarem-nos, não morreremos? Este é o auge da liberdade cristã, saber-se livre do jugo da morte. Nós, crentes católicos, de todos os homens e mulheres deveríamos ser aqueles que melhor lidariam com a morte, sem querer menosprezar ou minorar o sofrimento do luto, mas, tantas vezes, não damos esse testemunho. Este é o kerygma (palavra grega que significa a mensagem, pregação, anúncio), anúncio de Cristo vivo e ressuscitado é a mensagem nuclear e central da nossa fé, o corolário do anúncio evangélico! A Morte não é o fim. Não somos um ser criado para a morte (como cogitam os filósofos do absurdo existencialista), mas sim para a vida plena, em Deus. Cristo vivo é a prova VIVA de que fomos criados para a vida. Num mundo, por vezes, tão tenebroso e escuro, onde nos amedrontamos diariamente com o medo da morte, Jesus diz a Tomé que na casa do Pai há muitas moradas. Este mundo não é definitivo e a indagação do porquê do sofrimento e da morte perpassa todo o homem, porque interroga-se!

Num mundo, marcado por tanto desprezo e desvalorização da vida humana, onde o homicídio grassa por toda a parte, a violência verifica-se até nos lugares onde deveriam abundar o amor, como é disso exemplo a violência doméstica, a violência física, psicológica, sexual, o aborto, a eutanásia, a guerra… O ser humano, realmente, infelizmente, é expert em morte e tudo o que lhe antecede e sucede.

Deus, pelo contrário, é Vida e vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Cristo é cura dos enfermos (e são tantos os episódios bíblicos de curas operadas por Cristo) e o sacramento da santa unção (cf. Tg 5, 14-18) é penhor sacramental e vivo deste desejo do nosso bom Deus – que em tudo para o bem dos que o amam (cf. Rm 8, 28) – de que nos quer vivos, no entanto, ressalve-se que a doença é o modo natural d’Ele nos chamar a si, deste mundo efémero e passageiro! Cristo é vida em nós! Cristo é tudo o que é contrário à morte! Cristo garante-nos que veremos os nossos familiares e amigos, que partiram antes de nós, marcados com o selo da fé (2 Cor 1, 22; Ap 7, 2), nessa casa de muitas moradas, onde há lugar para todos que escolham Deus. Cristo é a esperança da feliz ressurreição face à certeza da morte! (cf. prefácio I dos defuntos).

Este é o único anúncio da Igreja e não há outro: Cristo vivo e glorioso, após ter dado a vida por nós, redimindo-nos e salvando-nos! Por isso, um dos hinos mais conhecidos da JMJ é sobre Cristo vivo, rei, glorioso, vida em nós, elaborado nas JMJ de Roma, em 2020, pelo Mons. Marco Frisina: «Jesus Christ, You are my life, Halleluja, Halleluja», onde se verifica, não somente pelo Aleluia, mas pelo modo como se afirma ser Cristo nossa vida, que a única mensagem que temos – Igreja Católica –, a anunciar é Cristo VIVO (kerygma)!

Passados 23 anos, também nós, em Portugal, compusemos e cantamos, nesta JMJ com toda a força, mesmo que muitos nos queiram silenciar, neste país que é mais laicista que laico, que “há pressa no ar”, pois esta mensagem kerigmática, de Cristo vivo, não pode esperar, por isso gesticulamos, saltamos, pulamos, fazemo-nos ouvir: «Todos vão ouvir a nossa voz, Levantemos os braços, há pressa no ar. Jesus vive e não nos deixa sós: Não mais deixaremos de amar» (refrão do hino oficial JMJ 2023 Lisboa).

A todos os homens e mulheres de boa vontade, católicos ou não, esta é a única e não há outra mensagem, como Igreja Católica, a dar a conhecer ao mundo, como recebido dos Santos Apóstolos: Cristo VIVE (cf. Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus Vivit, 2019, de sua santidade, o Papa Francisco, dirigido aos jovens de todo o mundo e ao santo povo de Deus).

Em suma, muitas são as perguntas existenciais para esta criatura de Deus (o Homem) que se questiona desde que respira e pensa – cuja escultura “o Pensador” de Auguste Rodin é disso máxima expressão e, mais ainda, se por lá passarmos o “homem” ainda está a pensar” –, procurando-O, no entanto, as respostas parecem escassas ou sem motivo de grande credibilidade. Creio que escutar o que as JMJ 2023, nos trazem, a Lisboa, que é Cristo VIVO e vida em nós, não será de descartar como possibilidade credível e pertinente de resposta para muitas das nossas perguntas, tantas vezes, sem resposta aparente. Porque não dar o benefício da dúvida?

PS: Deixo, meramente a título de curiosidade, aquelas que foram as declarações do ilustre compositor e músico Pedro Abrunhosa, quando o Santo Padre, dia 23 de junho, acolheu 200 artistas de todo o mundo, em Roma, na Capela Sistina, para assinalar os 50 anos da inauguração da coleção de arte moderna e contemporânea dos Museus do Vaticano, no qual estiveram presentes mais 6 artistas portugueses: a arquiteta Marta Braga Rodrigues, os artistas plásticos Joana Vasconcelos e Vhils, o escultor Rui Chafes, os escritores José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares, cujo prefeito do novo dicastério romano da Cultura e Educação do Vaticano, criado no âmbito da renovação da Cúria Romana, com a entrada em vigor da nova constituição Praedicate Evangelium (2020), é D. José Tolentino Mendonça, cardeal português.

Voltando ao insigne Pedro Abrunhosa, eis o texto por ele publicado na sua página de Facebook, no qual partilho igualmente o link da RFM, no qual a arte e o diálogo com a Igreja Católica são pontes claras, oportunas e fecundas, para quem intelectualmente honesto, se questiona e procura respostas. Aliás, que é a arte senão a tentativa possível – excetuando a fé, mas não por isso, exclusiva –, por parte do Homem, como ser que se interroga, de se compreender no mundo e da sua procura incessante e insaciável com o transcendente? Eis as suas declarações:

«Fui hoje recebido, ao lado de duas centenas de Artistas de todo o mundo, pelo Papa Francisco. Uma marcante cerimónia que decorreu no local mais emblemático para a Arte e Cultura Ocidentais: a Capela Sistina, Vaticano. Com uma força anímica ímpar, saído de uma recente intervenção cirúrgica, o Papa trouxe palavras surpreendentes aos Artistas ali presentes: a Arte deve ser inconveniente, irónica, interventiva. Citou Hanna Arendt e Simone Weil, duas mulheres não-católicas e figuras cimeiras do pensamento filosófico contemporâneo. Para Francisco, o Artista é um ‘pouco profeta’, ‘um visionário’, um homem que ‘vê e que sonha’, que, pelo acto criativo, revela ‘coisas novas ao mundo’. Este é, para mim também, talvez o papel maior de cada um de nós que se ergue pela Arte: fazer o novo, romper, mas também elevar e, sobretudo, fazer transcender. A Arte é um lugar especial, também para o Papa, um feito que nos liberta da vileza do banal, do egoísmo, da fúria do consumismo, porque a Arte, ímpeto do espírito, é vida para além do resultado, da substância, do sucesso, da vaidade. O Artista deve confrontar o poder e acudir aos mais fracos, aos pobres, não se fazendo hipérbole de si próprio, usando o real para transformar o real. Convergimos em muito nesta visão da espiritualidade sublime do acto criativo. A Arte, como o Amor, salva-nos da escura noite da guerra, do ódio, da intolerância. Num comovente discurso de meia hora, o Papa Francisco disse o que poucos responsáveis políticos toleram: o papel fundamental da Cultura, da Arte, do Sonho, na construção de uma comunidade íntegra, longe dos vícios da corrupção e da simonia. Agnóstico me confesso, mas acredito convictamente neste Papa, no seu papel reformista que, estou certo, deixará marca indelével e fará da instituição católica uma nova igreja abrangente e inclusiva. Porque ao invés de tentar levar os homens a Deus, Francisco traz Deus aos Homens». (https://www.facebook.com/PedroAbrunhosaFanClub/posts/802287467934340?ref=embed_post; https://rfm.sapo.pt/content/15708/pedro-abrunhosa-esteve-com-o-papa-francisco-ve-como-o-musico-descreveu-este-encontro).

Indico, igualmente, para quem assim entender ler, o link do artigo magistralmente elaborado por Pedro Abrunhosa – onde se sente que o Santo Padre o tocou de modo especial, ao ponto de agnóstico, defender vigorosamente as JMJ 2023 –, respondendo, muito educadamente, ao artista plástico Bordalo II, no seu artigo de opinião, de 29 de julho, no jornal Público, a respeito do polémico “Tapete da Vergonha”. Vale bem a pena ler! O texto nem parece de um agnóstico. Quem dera muitos católicos assim! (https://www.publico.pt/2023/07/29/opiniao/opiniao/bordalo-ii-tapetes-vergonha-estadios-euro-2004-ja-2058573).