De acordo com um estudo recente 44% dos portugueses não planeiam fazer férias este ano. As causas são óbvias: medo da Covid-19 e perda de rendimentos substanciais como consequência da pandemia. Em estudos idênticos realizados em anos anteriores, mais de 80% dos portugueses confirmavam passar férias fora de casa. Uma mudança de atitude radical que torna o cenário previsível no sector do turismo ainda mais extremo.
Segundo o Instituto do Turismo de Portugal, o sector, que emprega directamente 337.000 pessoas, é a maior actividade económica exportadora nacional, sendo responsável, em 2019, por 52% das exportações de serviços e 20% das exportações totais de Portugal. As receitas globais do turismo na exportação atingiram 18,4 MM € em 2019 correspondentes a 49 milhões de dormidas de estrangeiros. A este número, acrescem ainda 21 milhões de dormidas de portugueses. A actividade turística tem efeitos multiplicadores relevantes em áreas como a restauração, os eventos, congressos e viagens. No total, estima-se que o seu conjunto – que designarei por sector da hospitalidade – represente, à semelhança dos outros países mediterrânicos, mais de 20% da riqueza criada em Portugal. No Verão o peso é ainda maior.
O sector vive um tempo de grande risco. Num primeiro momento enfrenta meses de total paralisação: zero clientes de março a maio. A partir de junho espera-se uma recuperação lenta. Desesperantemente lenta : as fronteiras estão por enquanto fechadas e os portugueses têm medo e pouco dinheiro.
Espera-se que a abertura de corredores sanitários durante o mês de junho permita algum movimento, nomeadamente dos dois países de quem mais depende o sector : Reino Unido e Espanha. Mas o Verão vai ser penoso: o turismo, sector sujeito a sazonalidade óbvia, vai transitar do inverno de 2019 para o inverno de 2020 sem poder saborear a época alta. Há excepções mas, genericamente, é com os clientes da época alta que o sector subsiste na época baixa. Mitigar o desastre no Verão é essencial e uma prioridade económica.
Soube-se entretanto esta semana que a Comissão Europeia planeia apoiar os países europeus com um pacote de 750MM€: 500 MM de subvenções, 250 MM de empréstimos. A Portugal caberão 26MM€ dos quais 15MM€ em apoios a fundo perdido.
Se já era óbvio que o sector do turismo precisava de apoios específicos para além de Junho, parece-me indesculpável agora não atuar com urgência. Para além do prolongamento do regime de layoff simplificado e da extensão de linhas de crédito para o sector, quero levar à consideração do governo e dos agentes do sector uma medida simples: que o Estado distribua por cada família portuguesa um voucher de 500€ (eventualmente valor modulável em função da dimensão do agregado) que fosse obrigatório usar no período de julho a setembro de 2020 em unidades hoteleiras e de alojamento local em território nacional. A medida custará e permitirá uma injeção direta de cerca de 1,8MM€ no sector hoteleiro. Com um cheque de 500€ nas mãos, os portugueses perderão o medo e sairão de casa, gozarão de alguns dias de férias em território nacional e multiplicarão o valor do cheque por outros gastos em viagens, restauração e atividades lúdicas durante esse período. O sector hoteleiro receberá um balão de oxigénio, que bem precisa, ditado não por critérios administrativos e burocráticos mas por critérios de procura e mérito, e o sector genérico da hospitalidade recolherá benefícios indiretos porque estando as pessoas fora de casa o impacto multiplicador será óbvio.
O Verão está aí e não há tempo a perder: esta proposta custaria 0,9% do PIB de 2019, acrescentaria 0,7% à dívida do Estado e, parece-me, seria uma forma excelente de usar uma pequena parte dos recursos europeus que agora foram anunciados com efeitos imediatos e em tempo útil num sector estratégico e fortemente abalado pela pandemia. Aliás, se financiada por subvenções a fundo perdido vindos da Europa, a medida não custaria nada.