Agora que retomamos a nossa rotina e o verão ficou para trás (pelo menos no calendário, já que o calor ainda persiste) parece-me oportuno olhar para as Jornadas Mundiais da Juventude e para a mensagem do Papa Francisco que pode e deve influenciar Portugal nos próximos anos.
A JMJ influenciou a vida das dioceses, das paróquias e dos movimentos ao longo dos últimos tempos e ainda fomos presenteados com a grande graça de Lisboa e Setúbal receberem novos bispos, bem como a Igreja Portuguesa com um novo Cardeal. São literalmente novos tempos para a Igreja e para estas dioceses.
Assim como indiquei previamente, recordo aqui com estima o discurso do Papa Francisco no Centro Cultural de Belém, durante as JMJ 2023 em Lisboa: “O futuro é o segundo estaleiro de obras. E o futuro são os jovens. Mas muitos fatores os desanimam, como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade de encontrar uma casa e, ainda mais preocupante, o medo de constituir família e trazer filhos ao mundo. Na Europa e em geral no Ocidente, assiste-se a uma fase descendente na curva demográfica: o progresso parece ser uma questão que diz respeito ao desenvolvimento técnico e ao conforto dos indivíduos, enquanto o futuro pede para se contrariar a queda da natalidade e o declínio da vontade de viver.
A boa política pode fazer muito neste sentido; pode gerar esperança. Com efeito, não é chamada a conservar o poder, mas a dar às pessoas a possibilidade de esperar. É chamada, hoje mais do que nunca, a corrigir os desequilíbrios económicos dum mercado que produz riquezas mas não as distribui, empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos. É chamada a voltar a descobrir-se como geradora de vida e de cuidado da criação, a investir com clarividência no futuro, nas famílias e nos filhos, a promover alianças intergeracionais, onde não se apague o passado mas se favorecem os laços entre jovens e idosos (…)”
O Papa leva-nos sempre além, encorajando-nos a abordar questões que não são confortáveis, mas são necessárias. Especificamente em Portugal, observamos um desinteresse generalizado pela política e um crescimento do bipolarismo que está criando fronteiras e divisões entre as pessoas, como são as mais recentes manifestações violentas. Muitas das pessoas mais talentosas e competentes não se sentem atraídas pela esfera pública, em grande parte devido ao estigma associado aos políticos e à polarização de opiniões, culminando num sentimento generalizado de que a política não serve para ninguém.
No entanto, nos dias de hoje, à medida que enfrentamos desafios cada vez mais complexos e urgentes, como a demografia, a saúde, a habitação, a justiça, a segurança e tantos outros setores da sociedade, é imperativo contarmos com cidadãos mais inseridos na vida pública e política. A política, mais do que nunca, deve procurar soluções para os desafios contemporâneos, tendo a verdade como critério fundamental para as nossas ações.
Para mim, o desejo de ingressar na vida pública e política foi motivado por procurar servir com verdade. A verdade deve fazer parte da equação quando são desenhadas políticas públicas que visam melhorar a sociedade e a vida de todos, soluções que devem criar uma sociedade mais próspera e justa.
Em termos pessoais, a verdade é um valor fundamental que não pode ser comprometido na esfera pública, pelo bem da democracia. Conforme é definido no Catecismo da Igreja Católica, “A verdade ou veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro nos actos e em dizer a verdade nas palavras, evitando a duplicidade, a simulação e a hipocrisia”, o que numa sociedade como a de hoje é desafiador, dado que implica ser genuíno, autêntico e honesto em todas as interações e comunicações. Ao ingressar na vida pública e política, qualquer católico tem a oportunidade de manifestar os valores cristãos de justiça, compaixão e amor ao próximo, uma responsabilidade que não deve ser subestimada.
E agora que estamos dentro de uma conjuntura económica que todos sentimos no nosso dia a dia como difícil, com alterações muito rápidas na qualidade de vida e do poder de compra, arrisco-me a dizer que estamos com “saudade do futuro” uma expressão partilhada pelo Papa Francisco, no discurso aos jovens no encontro da Universidade Católica. Eu acredito que no futuro todos esperamos que seja tudo melhor, afinal todos esperamos viver melhor que a geração anterior, mas em Portugal, e em particular ao longo deste século, a sensação que temos é a constante entrada e saída de uma crise para outra crise.
O Papa Francisco, na sua sabedoria, deixou-nos uma mensagem de esperança a que devemos estar atentos, dispostos para discutir e aprender com os outros. Só assim poderemos ir mais longe em sociedade e com uma perspectiva ampla e aberta, para que as soluções beneficiem a pessoa, que deve estar sempre no foco da decisão.
Não devemos entrar na política com a ilusão de que podemos resolver os problemas sozinhos. Somente quando trabalhamos juntos, superando diferenças de opinião e considerando os fatos como sagrados, poderemos alcançar os objetivos desejados. Em resumo, estar na vida pública e política não é um direito, mas uma responsabilidade que todos os cidadãos devem considerar, ainda mais nos tempos que atravessamos.
Entrar na política é uma responsabilidade que deve ter como missão enfrentar os problemas de frente com coragem e ao serviço do bem comum, mais do que um ciclo político ou eleitoral, é uma missão de transformação.
Dado que hoje o mundo está cheio de desafios para o futuro, com questões sociais e políticas complexas, devemos mostrar aos nossos filhos que na vida não podemos apenas reclamar, mas devemos ter uma voz ativa nas decisões que afetam as nossas vidas.
(As opiniões expressas neste artigo são pessoais e vinculam apenas e somente o seu autor.)