As democracias mundiais, o projeto europeu e a paz mundial estão a implodir a uma velocidade de cruzeiro. A metáfora dilacerante, outrora criada por Eric Hobsbawm, alusiva à agonia da democracia alemã volta a aplicar-se: «Estávamos no Titanic, e todos sabiam que estava para bater no icebergue». Todos sabiam e ninguém evitou a tragédia: a Alemanha foi subjugada pelo nazismo; depois vieram a II Guerra Mundial, a Shoah, e as bombas atómicas despejadas sobre Hiroshima e Nagasaki. 

Não é preciso ser historiador, mas é necessário saber História, para compreender que a humanidade está prestes a colidir de novo com um icebergue. Os sinais não enganam. O efeito Trump. O brexit. O internacionalismo populista. O ódio aos refugiados. A emergência dos nacionalismos. O saudosismo dos fascismos. O colapso ecológico. A cupidez dos apparatchiks de muitos partidos democráticos, que perderam a consciência ética e social e já não identificam a política como um serviço cívico. A própria palavra cidadania foi usurpada pela novilíngua do capitalismo financeiro, banalizada e esvaziada do seu significado. 

As massas populares vivem absortas nas redes sociais e bestializadas pela «civilização do espetáculo». Estão alienadas, mergulhadas no reino do voyeurismo, do hedonismo e do niilismo. Habitam no universo das artes frívolas e efémeras, da literatura light, das rixas de «futebolês», dos desfiles dos estilistas e top-models, dos acepipes dos cheffs, da moral dos diretores executivos (CEO), das lições dos tudólogos, das alarvidades dos reality shows e da evasão dos blockbusters

Urge transpor esta encruzilhada, antes que seja demasiado tarde. Antes que deixe de existir Pão no Circo. Antes que uma elite de hooligans populistas imponha ao mundo uma distopia totalitária. Ou antes que «os pobres não tenham mais nada para comer a não ser os ricos». 

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Importa humanizar a humanidade, inocular ESPERANÇA na humanidade. Rumar contra a maré e reinventar a democracia. Reanimar os serviços públicos: saúde, educação, justiça, habitação. Educar sem falácias e burocracias. Dispensar os políticos, «pedagogos de gabinete» e comissários políticos que persistem em decretar o «eduquês» e trouxeram o caos às escolas. Revalorizar a História, a Geografia, a Filosofia. Voltar a estudar a história do pensamento político e filosófico. Em Auschwitz, pode ler-se a frase lapidar de George Santayana: «Aqueles que não recordam o passado estão condenados a repeti-lo». Revalorizar a Ciência, as Artes e as Letras. 

Importa nunca contemporizar com líderes e partidos populistas e justicialistas. Tolher os nacionalismos, porque os «nacionalismos são a guerra». Não desistir do projeto europeu, pois, apesar de todos os seus defeitos, não devemos ignorar que a Europa continua a ser o local do mundo onde melhor se vive e nenhum país europeu consegue impor-se sozinho no mundo global.

Professor de História do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital