A Universidade de Georgetown, uma instituição jesuíta e nominalmente1 católica, reconhecendo quão stressante é o viver em democracia2, no dia seguinte à eleição3 presidencial nos EUA muito caridosamente disponibilizou aos seus alunos uma “Self-Care Suite”, com chá e chocolate, Legos para brincar e livros para colorir, leite e bolinhos, para além de várias atividades relaxantes & reparadoras entre as quais não estavam nem a leitura dos Evangelhos, a recitação do Terço ou a celebração de Santa Missa.

Mas não foi a única instituição educacional nos Estados Unidos a procurar proteger & reparar os seus alunos da violência estruturalmente inerente a uma eleição popular e dos traumas por ela provocados. A Divinity School da Universidade de Harvard providenciou aos seus alunos, no mesmo dia e pelos mesmos motivos, um espaço com confortos e consolações tais como períodos de “storytime”, meditação védica, e a atuação de uma marionete, apropriadamente batizada de “Sunshine”, proporcionando assim um reforço ao ambiente de proteção a nível de infantário que quer que os seus brilhantes, independentes & politicamente conscientes & ativos estudantes gozem.

Assim que se tornou evidente quem seria o vencedor4, instituições elitistas em luta contra injustiças5 sociais estruturais como Barnard, Columbia, & Harvard, entre outras, cancelaram as aulas, para permitir aos seus alunos e, quiçá, aos docentes, um período de reconvalescença das equimoses psicológicas sofridas na noite anterior, para os ajudar a sarar os traumatismos emocionais e psicológicos causados por um processo político originado numa cultura hétero-patriarcal abusiva, europeia & branca.

Mas não foram apenas universidades de elite que reconheceram que os seus alunos, das licenciaturas aos doutoramentos, são pessoas frágeis e com muita necessidade de proteção emocional. Também escolas superiores mais acessíveis, em termos escolásticos e económicos, tomaram providências semelhantes. Por exemplo, a Missouri State University estabeleceu um espaço de “self-care” sem telemóveis, mas com “calm jars, coloring pages and sensory fidgets” para alunos que necessitassem de recuperar dos efeitos negativos gerados por um ambiente de escolha livre e democrática.

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Estas medidas protetoras são de uma previdência y bondade louvável. No entanto parecem requerer e estar assentes em dois pressupostos. O primeiro é que uma eleição popular & democrática é algo de violento e traumatizante ao contrário de um golpe de estado com canhões, de uma revolução com G3s, ou de uma escolha pré-decidida por um politburo ou comité central & precedida por uma purga sanguinolenta. O segundo é que jovens adultos na força da vida & empenhados num intenso processo de desenvolvimento intelectual & científico são seres especialmente vulneráveis psicológica e emocionalmente, e que necessitam de cuidados e proteção especiais.

Qualquer destes prossupostos, e ambos em conjunção, revelam muito sobre o estado mental nas instituições de ensino superior nos EUA. Não se põe aqui em causa o primeiro pressuposto, mas podemos perguntar relativamente ao segundo: será verdade que os jovens d’hoje são assim tão frágeis emocionalmente? Se sim, porque será? Será que os membros da geração de filhos únicos foram educados como tiranetes e não estão preparados para aceitar realidades de que não gostam, nomeadamente o resultado de um processo democrático livre e pluralista, para já não dizer nada do sexo com que nasceram ou do ciclo sazonal das chuvas, ventos & temperatura ambiental?

Mas também se pode dar um outro caso. Pode ser que a maioria dos jovens não esteja a precisar nem queiram os cuidados acima referidos. Pode ser que sejam antes administradores e docentes universitários quem estejam a necessitar de proteção emocional e psicológica. Especialmente quando tiverem tempo para olhar para as estatísticas sobre o mau comportamento eleitoral dos seus alunos nestas eleições…

U avtor não segve as regras da graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein as du antygu. Escreue covmv qver & lhe apetece. #EncuantoNusDeixam

 
  1. Nominalmente: apenas em nome, mas não na realidade; uma mala da Gucci vendida à porta de um supermercado em Loures por uma sra. vestida de preto; o que tem a genuinidade ideológica de um empresário militante no ps; aquilo que é genuíno em Joe Biden; um tipo de falsidade ou mentira.
  2. Democracia: sistema político em que os eleitores cuidam dos assuntos da nação enquanto descuram os seus & os eleitos tratam dos seus enquanto descuram os outros; a mãe de uma família numerosa e ilustre em que se incluem o Curto-termismo, a Demagogia, o Deixa-andar, o Eleitoralismo6, a Ineficiência-administrativa, a Irresponsabilidade-orçamental, a Propaganda, o Populismo, e o sr. dr. Sócrates.
  3. Eleição: processo de expressão livre de uma opção pessoal através da inserção de uma cruz num quadrado impresso num pedaço de papel cujo teor foi pré-determinado e formatado por conjunto restrito de indivíduos; deste modo o direito ao voto, que é não só um privilégio, mas também um dever, dá-nos a possibilidade valiosa, se bem que comumente negligenciada, de optar por uma de entre as escolhas feitas por outros.
  4. Vencedor: conceito classista que será abolido numa futura sociedade comunista; a superação da dicotomia vencedor-vencido também é desejada por Sua Santidade que gostaria que fosse já superada nos jogos de futebol, porque causa, entre outras, rigidez, e que, na sua exegese dos casos de Abel & Cain, Esau & Jacob, José & brothers, entre outros, não é possível entre irmãos e irmãs.
  5. Injustiça: fardo sem peso quando u pomos nas costas dos outros, mas esmagador quando u temos que carregar aos nossos ombros.
  6. Eleitoralismo: processo de gritar de uma plataforma que o Silva é o filho da luz e o Ferreira um verme infernal.