Está passado o Natal, meus caros, mas as prendinhas parece que continuam a chegar. Bacalhau comido, vinho bem bebido e embrulhos rasgados, e António Costa é presenteado com mais três demissões. Desta vez, depois da demissão de Alexandra Reis, demitem-se também Pedro Nuno Santos, Ministro das Infraestruturas, e o secretário de Estado da mesma pasta, Hugo Santos Mendes.
Ora então, contas feitas e em menos de nove meses o atual executivo conta já com dez saídas. Dez! Parece algo inventado ou muito perto da patetice, mas não. É a verdade. É a verdade e é algo que se achega ao inacreditável, já que, mesmo vivido, poucos são aqueles que acreditam. Honestamente, ainda estou aqui à espera do momento em que alguém dê a cara e diga num tom leviano “ahah, brincadeirinha!”. Ou então que se rebente a bolha.
A destituição destes três membros do governo deve-se, na sua grande maioria, à ruidosa polémica sobre a duvidosa indemnização à (agora) ex-secretária de Estado do Tesouro. Tudo isto vem depois de esta ter sido despedida, ou de se ter despedido, ou de se ter fingido que ela tinha sido despedida para receber a indemnização, ou por ela própria ter fingido que ia à casa de banho e ter acabado por se ir mesmo embora. Bem, não pensemos nisso agora, mas como não há Mundial para desviar os olhares, se calhar teremos mesmo de discutir o assunto.
Pensemos então nas reais condições que o atual governo tem para, efetivamente, governar. É que, parecendo que não, vamos já em mais demissões do que meses de governo e depois de tantos casos, casinhos e casões, será que estão realmente reunidas as condições para a maioria do PS continuar no poder? Digo já que a minha resposta é um redondo não. Não, não há condições. Continuar com isto é apenas brincar com os portugueses e parece que estamos mais a viver um conto dramático escrito por Ricardo Araújo Pereira. Acho até que nem o próprio conseguiria escrever algo com tanta ironia e tanta piada fatídica, mas fica o desafio.
Jorge Sampaio, em 2004, por muito menos tomou a decisão de dissolver a Assembleia da República, quando Santana Lopes era Primeiro-Ministro, mas agora o caso parece ser bem diferente. Isto porque o atual Presidente da República não parece muito inclinado para repetir a decisão do seu homólogo, mas acima de tudo porque não há quem tenha a mínima capacidade para tomar as rédeas do governo. Ainda para mais, importa reforçar que este governo foi eleito por maioria, ao invés do de Santana Lopes que foi nomeado pelo Presidente de então.
Mas imagine-se que, num devaneio, Marcelo Rebelo de Sousa decide destituir o atual governo. Admito que, no fundo, não acharia nada estranho que o fizesse, uma vez que já veio dizer que não o faria. Ficam então em cima da mesa duas hipóteses: ou António Costa forma novo governo a “convite” do Presidente da República ou então vamos a eleições. A primeira opção será nada mais do que mais do mesmo. Já a segunda, apenas seria opção caso houvesse oposição e essa ninguém sabe onde está.
O PSD, pela mão de Luís Montenegro ainda deve estar a ponderar se é a favor ou se é contra a eutanásia, coisa que muito provavelmente só decidirá quando o referendo sebastianista for feito. O Chega e a IL não têm estofo para a coisa, mesmo que berrem e esbracejem muito. Seria o mesmo que passar um bebé do leite materno para shots de tequila. O CDS não está, o PCP já esteve. Sobra então o PAN e o Livre, que estão mais focados em dar a mão ao PS, e o Bloco, que nem sabe bem o que ali anda a fazer, mas gosta é de mandar farpas aos outros, estando sempre à espera de quando o cuspo lhes vai cair na testa.
Fica então claro que a solução revolve sobre os portugueses continuarem a aguentar uma classe política medíocre e, aparentemente, sem escrúpulos. Já não há vergonha, já não há dignidade, já não há nada. O modus operandi é cada vez mais claro. Fez-se asneira? Se sim, alguém descobriu? Se sim, há vontade em realmente resolver o problema? Se sim ou se não, a solução é a demissão.
Respondendo novamente à minha própria pergunta: não, o executivo não tem condições para governar mas, muito infelizmente, é o único ajuntamento de indivíduos do círculo político com a mínima capacidade para continuar a liderar o nosso país. A não ser que tenham dormido mal e que não tenham a chupeta ali ao lado.