aqui discutimos a importância das informações na abordagem estratégica que aparece nos escritos com mais de 2500 anos atribuídos ao general Sun Tzu e publicados num livro com o nome A Arte da Guerra. Pois bem, ter acesso às informações não basta, pois é preciso integrá-las no dia a dia da organização, e isso não é fácil. Será que o famoso general chinês nos dá pistas sobre como o conseguir?

É verdade que sem informações não há estratégia, pois é como estar a lutar de olhos vendados. Mas afinal onde são tomadas as decisões com implicações estratégicas? A estratégia tem estado indelevelmente associada ao topo da organização, e esta estará a salvo se (i) os seus membros souberem selecionar e partilhar as informações relevantes, se (ii) os consultores internos e/ou externos ajudarem a conseguir captar a essência do que se está a passar no exterior, e se (iii) nada escapar ao olhar atento dos líderes. Se tudo isto for verdade, as decisões serão consequentemente aquelas que melhor conseguem acomodar as vicissitudes do ambiente competitivo.

É no 4º capítulo do seu livro que Sun Tzu explica como integrar as informações na tomada de decisão, assumindo a diferença entre tática e estratégia. É que a abordagem deste general tão inspirador é essencialmente tática, pois, se é verdade que as táticas são escolhidas em função de uma estratégia, também não é menos verdade que são essas mesmas táticas a ditar o resultado de todas as guerras. E Sun Tzu diz-nos precisamente que tudo se passa no terreno, e naturalmente longe do topo da organização. Consequentemente, para vencer, não basta fazer chegar as informações ao topo, pois a tática acontece nas operações, sendo, portanto, a coerência atempada das decisões aos vários níveis a ditar o sucesso das batalhas.

Com efeito, Sun Tzu consagra grande parte do seu livro a explicar como liderar, com imensos conselhos de uma atualidade surpreendente, sendo provavelmente por isso que o livro é tão interessante e famoso nos dias de hoje. Para Sun Tzu, as decisões precisam de estar alinhadas à dinâmica competitiva de cada confronto, em particular à cadência das surpresas externas. O desafio está, portanto, no tempo. “A velocidade é a ciência da guerra”, diz o general, acrescentando que “quando o falcão domina o corpo da sua presa, tudo se deve à exatidão do momento”. Assim, em vez de nos basearmos exclusivamente no planeamento estratégico para a tomada de decisão de alto nível, é na essência da velocidade que temos de conceber a tomada de decisão no terreno. É por isso que os líderes devem cuidar da execução atempada das operações, passando assim do planeamento estratégico à coordenação da dinâmica competitiva.

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Sun Tzu veicula no seu livro as várias dimensões que devemos considerar para uma dinâmica competitiva bem-sucedida. Em primeiro lugar, há que garantir a aquisição das informações (i.e., inteligência competitiva) que vão suportar as decisões, e que estas estão alinhadas com os objetivos de supremacia tática, uma vez que a vitória é sempre uma consequência natural dessa mesma supremacia. Em segundo lugar, Sun Tzu diz-nos que não devemos ser previsíveis, e que as táticas devem ser aplicadas de forma a confundir o adversário. Em terceiro lugar, é crucial ponderar a exatidão do instante, devendo cada decisão ser tomada, nem antes, nem depois do momento certo, considerando assim a importância da velocidade de ação. Finalmente, e pelo menos tão importante, o último ponto referido por Sun Tzu quanto à dinâmica competitiva é ter em atenção o resultado das nossas ações no adversário, pois esse impacto fará parte das informações externas a considerar na decisão que se segue, fechando assim o ciclo.

Levar à prática os ensinamentos de Sun Tzu passa, portanto, por uma abordagem exímia de liderança, a qual incluirá assegurar a aquisição externa de informações e o alinhamento atempado dos vários níveis de decisão da organização, e é por isso que Sun Tzu refere tantas vezes a liderança ao longo do seu famoso livro.

De referir também que Sun Tzu nos aconselha a monitorizar constantemente a saúde de todas as nossas capacidades táticas, incluindo a já referida liderança. Em particular, Sun Tzu refere um conjunto de fatores a evitar, apelidando-os de derrota tática, juntamente com um outro conjunto de condições subjacentes a falhas de comando e controlo da organização.

Com Sun Tzu, aprendemos a passar da tranquilidade do planeamento estratégico à imprevisibilidade da dinâmica competitiva exercendo uma liderança que tenha em linha de conta a importância das informações e da coordenação distribuída da tomada de decisão tática. É por tudo isto que os seus ensinamentos são fascinantes.