«A má educação consiste especialmente nos maus exemplos». Marquês de Maricá

«A educação é simplesmente a alma de uma sociedade a passar de uma geração para outra». G. K. Chesterton

«O ser humano é aquilo que a educação faz dele». Immanuel Kant

A família e a escola, o ambiente familiar e o ambiente escolar comungam intimamente na construção da pessoa humana, de cada pessoa em edificação, sendo determinantes nas vivências do processo de socialização. Os fundamentos estão na valorização política da organização escola e no interesse e investimento das famílias na escolarização dos seus filhos.

Em Portugal, com a escolarização universal, gratuita e obrigatória até à maioridade (os 18 anos), tal não significa a consideração política real da importância do constructo da vida escolar para o conhecimento, a desenvoltura do espírito crítico e a preparação para a cidadania e a vida em sociedade. Estar e frequentar a escola pública não é a mesma coisa nem o mesmo desiderato que por lá andar, na escolinha-modinha do idiotismo das facilidades, facilitismos e da felicidade ignara. A coisa não vai lá nem se resolve tirando do caminho o aborrecimento das dificuldades e o trabalho-trabalheira de trabalhar e pensar criticamente. O ensino, a aprendizagem e as aprendizagens obrigam-implicam esforço, estudo, trabalho de casa, dedicação focada e focagem na vontade de aprender até aquilo de que não se gosta, mas que tem de ser. Interiorizar a educação escolar sem emoções-abalos a gosto pessoal e sem hedonismo-cirenaísmo anti-intelectualista, com o fim último-primeiro de desenvolver e exponenciar ao máximo as ferramentas neuronais e sinapses electrizantes do potencial humano. Falamos da intemporalidade classizante da escola.

«A função da educação é ensinar a pensar intensamente e pensar criticamente. Inteligência mais carácter: esse é o objectivo da verdadeira educação». (Martin Luther King Jr.)

«A educação é para a alma o que a escultura é para um bloco de mármore». (Joseph Addison)

Embora transmitida e partilhada em ambiência escolarizante massificada por muitos, de facto, na verdadeira acepção da palavra, são poucas as pessoas que têm o privilégio da fruição em plenitude da verdadeira educação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

«Educação é aquilo que a maior parte das pessoas recebe, muitos transmitem e poucos possuem». (Karl Kraus)

Donde, não podermos de todo, abdicar na escola pública e privada, do princípio grego da «Paideia»; a Grécia Antiga, berço da civilização ocidental, visava na educação do homem grego, a formação de um elevado tipo de homem, em que o humano é a medida de todas as coisas, com a predominância de um pensamento livre, reflexivo, de questionamento e crítica intensos. Vergamo-nos e prestamos homenagem ao ideal clássico grego da formação humana, para a         «areté», a virtude, e para a educação, a «Paideia», isto é, «a criação de     meninos».

A escola faz a assumpção, em plenitude, da institucionalização do saber, dos saberes, valores, do humanismo e do conhecimento que é valimento e mais valia. É determinante no desenvolvimento das capacidades humanas, cognitivas, afins & companhia. É determinadora e decisória da capacitação para a vida da pessoa humana em construção de cada educando, para o bem e para o mal. O contexto em que se desenrola o acto educativo, sendo diferenciador, faz toda a diferença, perdurando no tempo de vida de cada um de nós. Uma escola desestruturada e humanamente precarizada, debilitada na dimensão das humanidades, de penúria científica e perda dido-sociopsicopedagógica é uma escola condenada e que condena ao fracasso. Não cumpre o seu papel, valência e alto desígnio. É esta escola, de filosofia de negação da sua essência e em modo negatório, que temos vivido com a escolinha-modismo do absurdo ridicular da má realpolitik inovatória para a escola pública dos últimos 20 anos.

Donde, é preciso reeducar a educação e reeducar a escola. «Só a educação liberta». (Epicteto)

«O essencial, com efeito, na educação, não é a doutrina ensinada, é o despertar». (Ernest Renan)

«A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida». (Séneca)

Temos vivido o tempo da educação-escola das telas e ecrãs, das imagens, do ludicismo e do deslumbre digital. Temos vivido o tempo da «praga» dos telemóveis em ambiente-escolar e em sala de aula. Temos vivido o tempo da educação-escola da indigência intelectual, «light», paupérrima (do latim pauperrimus) e de regressão civilizacional. Temos vivido o tempo da educação-escola espectáculo do «aprender a brincar», pedagógica e didacticamente invertida e de tutoria digital, de filosofia-projecto, abelhada «maiana» e «ubuntada» – filosofia africana importada – «eu sou porque você é». Temos vivido o tempo da escola do alter ego digital IA(nizante), da woke-influe e da identidade de género, e dançante do K-Pop sul coreano. É, temos abastardado a escola pública, abastardamento (do latim bastardus), «hard». Temos vivido o tempo da escola do «saneamento» da palavra, do professor-animador, da omnipresente   internet e do omnisciente Google e motores de busca. Temos vivido o tempo da falência cognitiva e do «milagre» da instruto-erudito sapiência (do latim sapientia) estudantil. É, temos vivido o tempo da educação-escola do menosprezo docente menorizado e intelectualmente «vandalizado», do medo persecutório tutelar, da injustiça, do desrespeito, da indisciplina e da violência, do bullying e cyberbullying, do «roubo» e do autoritarismo do ME contra o professorado. Temos vivido o tempo da educação-escola da desmaterialização, dos manuais digitais e relego-banimento do papel; do ler-balbuciar aos soluços e do não saber escrever à mão, da interpretação-deturpação e do não pensamento crítico. E sim, temos vivido o tempo da educação-escola da «degenerescência da alma», mas tutelada por «especialistas iluminados» que a ensombram, sombreiam e escurecem. Temos vivido o tempo da educação-escola pública sem professores, com milhares de alunos sem aulas, e do «politiquês do não querer saber como aqui se chegou; falamos da bactéria viral reito-lurdex e mutações lurdinex, lata vulgata-vulgatus MLR».  Temos vivido o tempo da educação-escola da total ausência de alteridade e esmagamento do Outro; do compadrio cúmplice de directores que desumanizam a escola, perseguem os colegas, e até fazem aprovar em conselho pedagógico alterações-adaptantes a documentos-fichas de avaliação do Ministério da Educação, «à la carte personnelle». É, temos vivido o tempo da decadência da palavra e da acção político-interventiva docente e do amordaçar político-consciente dos professores e educadores portugalianos, do descambar e degenerativo afundanço da escola pública ridicular.

«Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância». (Sócrates, o filósofo grego; não o engenheiro, «animal feroz»)

Temos de voltar ao tempo da educação-escola pública qualitativa; do atributo-predicado da qualidade, excelência e aprofundamento dos conteúdos programáticos, mais horas lectivas para as humanidades e da sacrossanta respeitabilidade pelo professor e afirmação da autoridade docente reassumida do magister dixit.

«Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais». (Rubem Alves)

Feito o intróito temático, vamos agora espelho-retractar o modelo educacional-sistémico da educação-escola ridicular. Peca por carência de espírito crítico: na filosofia, nuances e desafios. Enferma de padronização, pensamento único standardizado e falta de individualidade, com manipulação do Eu (des)personalizado. Barramento e desincentivo da capacidade de questionamento e questionar criticamente; isolamento e afectação da colaboração; trabalhar para a obsessão dos resultados escolares virtuais, estatísticas, rankings e relatórios Pisa. É geradora de constante pressão e ansiedade para atingir as metas padronizadas, com coacção, inibição, e cerceadora do tempo e pensamento livre, independente, intelectual, de ensaio criativo e despoletante da criatividade; anulação-desvalorização do pensamento lateral «desviante».

A educação-escola ridicular, uma escola invertida: falta de personalização, sendo que o modelo de escolinha invertido, se e quando aplicado com inflexibilidade, pode não atender e mesmo ignorar os ritmos individuais de aprendizagem, limitando a autonomia e destruindo a (in)capacidade crítica. Superficialidade e improfundidade (negação de profundidade intelectiva, do latim intellectivus, relativo à inteligência). Fomentadora de passividade por falta de interacção dialéctica em sala de aula; focada no visionamento de vídeos, realização de actividades online, dependência de recursos externos e paulatino defo-amorfismo do senso crítico.

A educação-escola ridicular e a tutoria digital: leva ao isolamento e falta de interacção humana; falamos da escolita das plataformas digitais, constrangedora da comunicação humana, da argumentação e comprometedora do desenvolvimento de habilidades-competências societais. Esta escola dos algoritmos e das «bolhas de filtragem» de manipulação big data, dataíficada, de personalização de conteúdos, anulando a riqueza diferenciativa, diferenciadora e enriquecedora de perspectiva(s) e confrontação do contraditório. E mais ainda, a falta de feedback e orientação, por falta e gritante ausência de um tutor humano, vulgo professor, com acompanhamento humano e emocional-crítico orientado-personalizado, com irremediável perda de mais valia humana; exterioridade, ligeireza, futilidade e fragmentação das aprendizagens.

A educação-escola ridicular e a mater influencer da IA (inteligência artificial generativa sílica): falamos da influência indesejada, manipuladora e vilipêndio de «mater influencers» da IA, com o uso de algoritmos, dados e base de dados para influenciar a opinião pessoal e pública, comportamentos e grave perda de discernimento crítico, criticidade social e criticismo de cidadania; com informações enviesadas pré-processadas, dependência, conformismo, incapacidade de avaliação crítica assertiva e acefalia masturbo-intelectualizante. Donde, estar em causa o senso-juízo (psic)analítico incisivo-acutilante, a autonomia intelectual-pensante humana de empoderamento cogitativo, capacitada para reflexo-responder à complexidade desafiante de um novo mundo biotecnológico e da nova educação-escola carbo-sílica. E mais, chegando vem a nova ordem planetária futurista, já ao virar da esquina, em que a inteligência artificial irá superar a inteligência humana. «A IA será mais inteligente que humanos e vamos coexistir». (Ray Kurzweil, A Singularidade está mais próxima).

Na educação-escola ridicular, assume particular relevo a escola-espectáculo e o prejuízo da superficialidade alienante: o conceito de «escola-espectáculo» remete-nos para a ideia de um ambiente educativo mais preocupado com o entretenimento do público-alvo, os alunos, em vez de ensinar profunda e significativamente. Não promove uma aprendizagem enraizante e crítica, sendo ao invés, um modelo que favorece a balofice intelectual e impostura figurada alheante que aliena os estudantes, consumidores de um conhecimento rasante, «en passant», e sem uma verdadeira reflexão crítica. Um exemplo crasso desta superficialidade meto-modelar escolar está consumado e pode ser observado na chamativa cultura do K-Pop, música e dança popular sul coreana, modos de vestir, comportamentos e expectativas de vida dos jovens. Dos espectáculos visuais confecionados, às performances hipnotizantes, elaboração e marketing agressivo, visualizamos a pobreza oculta da falta de conteúdo substantivo e o acriticismo do que está a ser servido e consumido pelos figurantes adolescentes.

A escola deve ser e tem de ser um espaço onde os alunos possam desenvolver um olhar crítico (e continuamos a carregar na palavra crítica, propositadamente) sobre a sociedade, reflectindo sobre as influências da cultura de massas (sendo o K-Pop mais uma importação apelativa que urge higienizar) e buscar, procurar o papel-missão de cada um, devidamente contextualizado. É vital para a escola pública moribunda, em agonia identitária e em modo de sobrevivência ridicular travestida, que haja uma inversão da política da escola-espectáculo, o regresso ao paradigma perdido da valorização do conhecimento profundo, o incentivo à análise crítica, ao pluripensamento, ao contraditório e oposto inverso, à dissonância cognitiva do duplo-duplipensar, à plurissignificação, e o combate à apatia e negatividade-superficialidade desfigurante da escola pública de qualidade. A abordagem não pode ser apenas e só ficar pela rama da memorização, visualizações-conexões e considerações básicas-menores; não, ao invés tem de se focar na centralidade do processo e do acto educativo consistente em adquirir competências críticas, pensamento analítico e criticante de alta performance na resolução de problemas – usar e aplicar a inteligência humana evolutiva do homo sapiens sapiens e a sua exponenciação máxima da   criatividade.

Nunca, jamais os alunos podem sair da escola sem um verdadeiro e genuíno   entusiasmo por aprender e pela aprendizagem contínua ao longo das suas vidas. Donde, a educação ministrada ter de, e dever ser um processo de positividade que desperta o interesse, a curiosidade e a paixão pelo conhecimento, sendo facto que a escola hedonística ocupacional do tempo escolar, de engajamento visual, sem substância educacional, de superficialidade futilizada e negatividade negatória em essência e da natureza, em obsolescência e que pode minar, comprometer e mesmo destruir o objectivo supremo de preparação para a vida, matando o futuro. Dizemos não em contribuir para uma percepção estereotipada da instituição escolar.

A educação-escola ridicular é a enantiose (do grego enantíos, o oposto contrário) da educação-escola clássica e erudita. Em conclusão avaliativa, a menorização anaíficada dos conteúdos programáticos de lastro profundo é prejudicial para a aprendizagem dos alunos e para a qualidade e eficácia da ensinança. É de pedra angular esquinal que a política educativa da governança e ministerial-tutelar reconheça esta supra-superior importância na abordagem ao currículo, garantindo categórica e inequivocamente uma educação-escola mais holística (do grego holo, que significa completo, inteiro, e que valoriza a totalidade das coisas), inclusiva e formante de cidadãos mais críticos, conscientes e interventivo-participativos.

«Educar a mente sem educar o coração não é educação». (Aristóteles)

«Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos». (Pitágoras)

Disse.

O autor escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.