Os partidos políticos podem ser descritos como sendo organizações com características duradouras e formais, de tipo associativo, constituídas por pessoas politicamente motivadas, cujo intuito é o de participar nos processos eleitorais e em outros processos políticos, bem como intervir nos órgãos de poder político, sobretudo no Parlamento e no Governo.
Os partidos têm a eles associados um conjunto doutrinário próprio sobre a organização política, social, económica, cultural entre outras. Aos partidos políticos está adstrita a especial tarefa de realizar a representação política e, para que tal se cumpra, têm estes de apresentar uma organização sólida, um programa bem definido e uma predisposição para cumprir as exigências próprias da democracia. Somente o cumprimento destas prerrogativas poderá vir a assegurar a sua sã, útil e exigível continuidade no panorama político, bem como a conveniente correspondência à demanda dos eleitores.
No entanto, actualmente, a verdade é que, grosso modo,os partidos políticos, que se apresentam perante os eleitores, fazem-no com programas que tendem a não poder, de todo, ser apelidados de sólidos. Trata-se de programas políticos, muitas das vezes, unicamente assentes em chavões pomposos, sem qualquer intencionalidade prática, e, por tal, com parco comprometimento no que se refere ao cumprimento futuro das ditas exigências democráticas, o que poderá causar intrincado desgaste ao partido.
As razões passíveis de poderem justificar a vasta erosão político-partidária podem assentar em vários e distintos motivos. Mas será importante ter em especial linha de conta o facto de os partidos políticos serem hoje compostos, quase que maioritariamente, por pessoas que não se agruparam por possuírem similares e sedimentadas convicções doutrinárias mas que, ao invés, simplesmente se juntaram porque perceberam que fazer parte daquele tipo de aglomerado lhes poderia trazer uma série de mais valias futuras, sem que, para tal, tivessem de demonstrar capacidades extraordinárias a qualquer nível.
Posto isto, não será de admirar que a grande maioria dos partidos políticos tenha hoje uma base organizacional cada vez mais enfraquecida, mesmo que apresentem uma face pública forte e muito eficazmente mantida. Assiste-se a um perigoso e cada vez mais acentuado esvaziamento ideológico dos partidos políticos, que tendem agora a estar pejados de um número significativo de militantes cujas características se encontram alinhadas maioritariamente com o ócio, o facilitismo e, não raras vezes, a incompetência.
Estamos assim como que imersos numa elite de políticos, ditos de pacotilha, mais determinantemente preocupados com a manutenção dos lugares de poder que já ocupam ou então comprometidos com guerrilhas cujas vitórias lhes pode vir a assegurar a ocupação de lugares elegíveis, do que propriamente com a representação política dos eleitores.
Assim, a dita erosão das identidades político-partidárias é já uma evidência indesmentível que contribui para o exercício do poder de forma tantas vezes oca e permeável a uma série de violações e tomadas de decisão displicentes e arbitrárias que lesam aquela que deveria ser a escrupulosa gestão dos bens públicos. Essas violações e desnorteio podem contribuir, por exemplo, para um perigoso crescimento das intenções de voto em partidos ditos populistas, e, em última instância, podem até mesmo ditar a implosão do Estado de direito.
A subalternização dos princípios estatutários que estiveram na base da criação dos partidos políticos pode contribuir para o esvaziamento do seu carácter e assim escamotear o real papel que lhes está acometido na manutenção da democracia. Os interesses e circunstâncias de índole pessoal, bem como as lutas internas pelo acesso ou manutenção do poder não podem, de maneira nenhuma, sobrepor-se à dignidade dos partidos políticos, nem tão pouco manchar o Estado e a missão que lhe está adstrita.