Antes de mais, justifica-se informar o leitor de que o autor deste artigo é um zé-ninguém. Não tem qualquer presença ou intervenção no palco da política, nem, até, como figurino. Não comenta, nem aqui, nem ali. Nem em blogs, nem em facebooks, na verdade, em nada. Bom, talvez, à mesa e nos “copos”, entre família e amigos.

A sua vida é no privado e é privada, mas tem uma opinião que pretende partilhar na infeliz e triste convicção de que pode interessar a alguém. Sim, é triste, já que ninguém quererá saber o que pensa um zé-ninguém. Mas deem-lhe pelo menos o mérito de ter tentado e se nada mais tiverem para fazer, podem entreter-se a ler esta breve reflexão sobre a velha mas intemporal ideia política da social-democracia.

É uma defesa pública, justa e merecida, de um pensamento que nem sempre é bem explicado e enquadrado aos portugueses. Entre os jogos de poder e a espuma dos dias, poucos são os que falam sobre a “social-democracia” enquanto pensamento e ideia política. Esquecem-se, pois, do poder das ideias. Esquecem-se, pois, que as pessoas merecem e precisam de mais. E, assim, também, a social-democracia e o PSD, o seu principal rosto partidário.

A “social-democracia” não é só mais uma ideia política, é o conjunto de todas as ideias políticas, no que melhor têm, após séculos e séculos de reflexão e experimentação. É, pois, uma conquista da humanidade, a custo de inúmeras guerras políticas e abusos de poder. É a melhor herança da História das Ideias Políticas. Na dicotomia direita/esquerda, a “social-democracia” representa o centro.

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Sabe bem o que quer e para onde vai: melhor educação, melhor saúde, menos pobreza, menos desigualdades sociais e económicas, mais emprego, mais iniciativa económica, mais crescimento, mais inovação. Mais Cultura de Integridade, no Estado e nos privados. Mais orgulho na nossa organização política e mais vontade de todos, públicos e privados, em manter uma organização limpa, transparente e eficiente.

Mas quem é que não quer tudo isso? A verdade é que ninguém. Todos querem. Da direita à esquerda.

Pergunta então o leitor: em que é diferente e especial a social-democracia?

A social-democracia é moderada e faz crescer pela reforma. É ideologicamente despretensiosa e, por isso, inteligente e funcional. Não é teimosa, nem orgulhosa. Não é refém de posições ideológicas e funciona com clara independência, apenas focada no bem-comum. É dinâmica e pragmática. Não se perde em teimosias e orgulhos.

Mais Estado? Menos Estado? Logo se verá, em função do espaço, tempo e circunstâncias. Mas é aqui que a social-democracia faz a diferença: não teima num caminho único, muito pelo contrário, considera todos, pois nada mais interessa do que cumprir aqueles objectivos, que mais não são do que o início e o fim do contrato social. Com a social-democracia, seguimos em frente, mesmo que tenhamos de virar, aqui ou ali, um pouco à direita ou à esquerda. O que interessa é conseguirmos uma sociedade mais justa, mais rica, mais equilibrada, mais digna, mais íntegra e mais transparente.

Só à esquerda ou só à direita, dá asneira. E todos perdemos. Já foi assim e assim voltará a ser, é certo. O caminho que se faz pelo liberalismo, socialismo ou comunismo, dá asneira. A História não engana. O primeiro provocou o segundo, o qual é, por seu turno, desde logo muito limitado, por servir o terceiro (assim o diz Marx, que ambos criou). E, em Portugal, é bastante evidente o quão extremado está ou onde pode ir este socialismo, que está preso a ideologias que o impedem de governar, com sabedoria e equidade. Está limitado e, por isso, incapaz de melhorar o funcionamento do Estado. E isso está à vista.

Só a social-democracia consegue dar resposta em função das metas comuns e não dos meios controversos. Enquanto uns discutem sobre como fazer, a social-democracia faz.

E olhando para o programa eleitoral do PSD de Rui Rio, devo reconhecer uma enorme presença do reformismo progressivo, inteligente, pragmático e dinâmico que caracteriza a social-democracia. Face à actual conjuntura, Rui Rio propõe uma política económica e fiscal assente na produção. E faz todo o sentido. Hoje, os portugueses precisam de receber mais e melhores salários. É urgente alterar esse paradigma. Mas para tal é preciso mexer na política económica, para além da política fiscal. As empresas têm de receber os incentivos próprios, começando por pagar menos IRC. Resolvido esse tema, os portugueses podem então pagar menos IRS. E no final do dia, não só estão a receber mais, como a pagar menos ao Estado. E este arrecada o que tem de arrecadar para manter os serviços públicos a funcionar de forma mais eficiente. E, diga-se, o problema dos serviços públicos não é, só, nem principalmente, financeiro. É um problema de cultura. E por isso devem formar-se pessoas e rever-se procedimentos e metodologias, para assegurar um melhor serviço público, da saúde à educação, entre muitos outros.

E se precisarmos dos privados e do sector social para garantir melhores serviços públicos? Que seja. A social-democracia acolhe essa possibilidade com bons olhos e não a exclui, como o faz toda a esquerda com base em teimosias ideológicas do século passado.

É tempo de reformar. É tempo de crescer. Merecemos mais do que isto. Merecemos algo e alguém que não esteja na política só e simplesmente para gerir a espuma dos dias. Merecemos algo e alguém que suceda no fim último do contrato social. É tempo de olharmos para uma vitória na política para lá da óptica de Maquiavel. Ganhar na política é mudar a vida da colectividade e de cada um de nós, não é apenas suceder em arranjinhos políticos ou gerir com “esperteza” a espuma dos dias.

É tempo da social-democracia.