Muito se fala sobre o ChatGPT, pouco se fala sobre o (grande) potencial de tecnologias já em uso, em especial para o turismo e preservação do património.

Os ambientes imersivos oferecem muitos desafios mas também oportunidades de elevado valor para a experimentação, preservação e disseminação do património cultural. Concretamente considerando apenas as revisões publicadas no ano transato, dão conta das seguintes possíveis abordagens: imersão no acesso ao património cultural, livre de constrangimentos físicos, geográficos, temporais ou outros; imersão para consciencialização sobre o património; imersão para transferência de conhecimento (inc. ensino); imersão para envolver ou entreter os utentes; imersão para otimização.

Mediante uma reflexão sobre estas cinco vias, encontro-me a desenvolver a minha tese de doutoramento em Digital Media, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, centrando-me na segunda destas linhas: a imersão para consciencialização sobre o património, que consiste em abordagens que visam potenciar a consciência coletiva para determinado acervo patrimonial. Esta linha é essencial para intensificar o reconhecimento cultural do património, visando o crescimento do turismo cultural; o envolvimento do interesse das comunidades locais; e a apresentação e preservação do património cultural para aprendizagens futuras.

Os meus interesses residem no envolvimento do interesse das comunidades locais, pelo que é na imersão para a consciencialização sobre o património que procuro aplicar a minha motivação e energia, elevando, especificamente a Citânia de Sanfins, em Paços de Ferreira, para um patamar de maior destaque, seja no âmbito do imaginário coletivo – através da ligação às lendas, histórias e factos; seja na senda da satisfação da curiosidade sobre a forma e espaço, estética e função, tempo e gentes que de alguma forma poderá incutir sentimento de pertença e orgulho pelo património que existe e, por consequência, elevar o interesse geral da população local.

Um povo informado e envolvido é fundamental para o alavancar de outras iniciativas que viabilizem, por exemplo, o direcionar de fundos públicos para o fomento do turismo, da cultura e da formação aplicável à singularidade deste lugar arqueológico.

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É através da exploração e ideação de ambientes imersivos que procuro, então, inspirar a minha abordagem à problemática, de acordo com estes autores, neste artigo. A implementação de tecnologia adaptada na área do património cultural facilita o uso de tecnologias/metodologias em situações de grande escala, permitindo a preservação do património cultural e proporcionando uma experiência abrangente, de forma bastante inovadora.

Sublinho, assim, a importância do estudo, de forma mais aprofundada, das oportunidades dos ambientes imersivos para desenvolver esta linha de atuação. Em particular, tendo presente que os ambientes imersivos não são apenas a sua vertente tecnológica, mas a sinergia dessa vertente com as dimensões narrativas e de interação humana, ou seja, de agência humana, para envolvimento psicológico. A imersão é um fenómeno que emerge desta ligação entre tecnologia que nos proporciona a sensação de presença, com a absorção psicológica pelos aspetos narrativos e do desafio, fazendo assim mais sentido empregar, por agora, o termo ‘ambiente imersivo’ e não ‘tecnologia imersiva’, como se pode constatar através da leitura aprofundada deste artigo. Isto porque a tecnologia carece desta mediação das restantes dimensões: narrativa e desafio, que são, por si mesmas, instigadoras de um potenciar da experiência imersiva independentemente da dimensão tecnológica. É nesta linha que, à luz da disseminação do património material, procuro considerar não só o potencial tecnológico como também a sua aliança a padrões narrativos e percursos de agência, de interatividade do público.

O que é a Citânia de Sanfins? Qual a sua relevância? Qual a viabilidade destas investigações e estudos, considerando algumas questões levantadas recentemente?

A Citânia de Sanfins é um castro de grande dimensão, situado na Freguesia de Sanfins, Lamoso e Codessos, no concelho de Paços de Ferreira, que data da idade do Bronze e se estende por 15 hectares, exemplo ilustre do nosso passado e da nossa História.

A Citânia de Sanfins é a jóia da coroa patrimonial do município onde resido e trabalho, porém encontra-se atualmente abandonada e, como previamente mencionado, muito pouco explorada, sem atividades de apoio ao visitante ou de ligação às comunidades locais. Um espaço com a imponência da Citânia deve ser alvo de capitalização obrigatório.

Nesta linha de pensamento, Paulo Rangel, eurodeputado que visitou o espaço em março de 2021, sublinha, de acordo com esta notícia, que “espaços como a Citânia de Sanfins são tesouros históricos, arqueológicos e patrimoniais a nível nacional e até mesmo internacional, que poderiam auxiliar a divulgar a imagem do concelho e atrair visitantes” e acrescentou, ainda que “Paços de Ferreira não tem nenhuma visibilidade turística nem identitária. É Capital do Móvel, e isso é excecional, mas também tem uma identidade histórica fundamental”, deixando a sugestão de se “preservar e evitar a degradação das estruturas já descobertas, mas também criar uma dinâmica turística em volta do monumento, não apenas de lazer, mas também de formação”, opinião e premissa apoiadas, nesta entrevista, pela Diretora do Departamento da Cultura do Município de Amarante, Rosário Correia Machado.

A citânia possui quatro linhas de muralhas que circundam o povoado, assim como por vários fossos e organiza-se segundo dois eixos principais de circulação intramuros, sendo conhecidos 33 núcleos habitacionais e um balneário. Apresenta vestígios de ocupação medieval/cristã, associados a uma necrópole e a uma possível capela do século XII, dedicada a S. Romão, localizada no ponto mais alto da Citânia.

Fascina-me que, através da exploração e ideação de ambientes imersivos para a consciencialização sobre o património, se possa procurar que a população local possa valorizar mais as riquezas patrimoniais de que dispõe, tão abandonadas e distantes do coração e interesse da generalidade do público atualmente. Contudo, estão pouco explicadas as formas e estratégias de explorar esta vertente, havendo, por isso, terreno fértil de análise para identificar essas formas e estratégias de empregar os media digitais.