Mesmo se agosto não fosse sinónimo de praia, socialismo seria sinónimo de degradação. No caso do socialismo à portuguesa, mais recentemente representado pelo Governo do actual primeiro-ministro. As suas políticas são como os castelos na areia, na medida em que são recorrentes e não são duradouras nem respondem aos problemas. Que outro legado podem os próximos 3 anos deixar, face ao que os passados 8 anos demonstraram?

No início do ano, escrevi sobre a mão invisível do socialismo, tentando identificar o fenómeno político que vivemos nos dias de hoje em Portugal, que considero bizarro. Não me refiro à actual discussão política nacional, que tem sido muito distante do que é crucial, mas ao que acontece em concreto nos centros de decisão deste país. A Mão, após 8 anos, continua a distribuir, mas ainda não pegou em nenhuma ferramenta. Não gerou valor.

A Mão, na verdade, tem construído castelos na areia. Para os castelos tem jeito, são apelativos, bonitos, apresentáveis e o entusiasmo com que são apresentados gera uma falsa confiança de que farão o propósito a que se propõem. Mas as marés do tempo vão removendo o castelo, e aí é hora de construir outro. Por exemplo, no início da geringonça foi proposta uma medida para a habitação que depois não foi aplicada, e este ano tivemos em discussão um novo pacote, um novo castelo de areia.

A justiça, saúde, educação, ordenamento do território, entre outras áreas de soberania, são exemplos claros de falta de performance, de falência, de mau funcionamento e de, honestamente, desordem. Estes eram temas que em tempos preocupavam muitos socialistas, mas hoje parece que outra coisa os preocupa: a luta pela permanência no poder. A receita para tal parece consistir em dividir Portugal, e em torná-lo menos coeso, fazendo malabarismo com os vários setores da sociedade, jogando-os uns contra os outros.

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Um bom exemplo é a forma como o Governo, com a crise da inflação, se dignou a não fazer nada de substancial, beneficiando de um enorme aumento de receita fiscal, e, para distrair e evitar responsabilidades, apontou o dedo primeiro à distribuição e depois à banca. Mais recentemente, o Governo passou a apontar o dedo ao BCE, usando o seu homem no Banco de Portugal como ariete político contra um órgão independente. Mas convém lembrar que o Governo usa ativamente a escassez nos vários setores como receita de permanência no poder. A pobreza, como noutros tempos de menos liberdade, é mais uma vez usada como alimento do poder em Portugal. É por isso, que a hipótese de alguma oposição oferecer um caminho alternativo de crescimento, e de criação de riqueza, aterroriza a Mão e os seus servos.

O estado a que chegámos, após vários anúncios de políticas que prometiam resolver tudo, e promessas como a de que em 2027 haveria médicos de família para todos, ou que em 2024 o problema da habitação estaria resolvido, numa narrativa de fortalecimento do Estado Social, semeou o sentimento de impotência e de fatalismo que se vive hoje em Portugal. O país está fatigado de castelos na areia, que vão e vêm, sem qualquer mudança de fundo à vista. Entretanto, os ministros passeiam sorridentes, nem se dignam à solenidade que o actual estado do país pede. Não se vê nos membros do Governo a menor preocupação com os problemas que vivemos. Para quem está no palácio, está tudo bem.

Quem hoje não sente a tentação de perder a fé e a esperança? Com o Estado a pesar cada vez mais no nosso trabalho e rendimento pela via de impostos directos e indirectos, que vêm pelo trabalho, pelo consumo e até mesmo chegando pela porta traseira ao nosso empregador (no caso da TSU). E, ao mesmo tempo, o Estado vai-se degradando, fornecendo menos e piores serviços, apesar de uma despesa cada vez maior.

Posto isto, que cliente aceitaria pagar mais por um serviço com pior qualidade? Só se não houvesse alternativa… Há quem diga isso, se nos pusermos no lugar da Mão, certamente seria do nosso interesse que se pense isso, certamente que um homem de negócios sem escrúpulos sonharia com tal prospecção: a de não haver concorrência. Contudo este cenário é-nos entregue precisamente por um homem que se diria de Estado, pois nunca viveu outra coisa. É verdade, o nosso primeiro-ministro nunca viveu profissionalmente fora do estado. É um homem que se diz socialista que nos vende o que seria um negócio de sonho para um capitalista selvagem sem escrúpulos, só que em vez de buscar riqueza, busca o poder. A Mão encontrou um servo à altura. Impõe-se então a questão: haverá alternativa?

Eu sinto-me no dever de discordar da leitura de que não há alternativa, reforçada pelo Presidente da República, um servo improvável da Mão. É de relembrar que o próprio atingiu, na situação em que estamos, a estabilidade para a qual trabalhou. Há uma alternativa, quanto mais não seja porque as pessoas que não estão no poder há 8 anos, não são as mesmas, nem estão comprometidas com a situação. Logo aí, sem mais qualquer proposta, há uma alternativa real e concreta, palpável e aplicável, na mudança da gestão. Há também uma alternativa, na oferta dos programas partidários, com opções objectivamente diferentes das que têm sido seguidas, propostas que a Mão não quer que o caro leitor se dedique a ler. Há sobretudo uma alternativa, porque já é difícil imaginar pior do que temos.

Contudo, como pode alguém dizer que não há alternativa em democracia, sobretudo quando as coisas estão como estão? Isso significaria dizer que este regime não tem mais para oferecer, será que quem profere essas palavras compreende a dimensão do que está a dizer? Alguns talvez compreendam. Aos que não compreendem e dizem isso, recomendo que repensem esse caminho, pode ser que um potencial regime alternativo não saia a gosto.

Como pode haver tranquilidade, passividade, quando todo um sistema parece colapsar diante dos nossos olhos, e o melhor que nos têm para dizer, é que é inevitável? Não pode ser nem a maioria absoluta, nem as sondagens, nem o Presidente, nem o conforto de alguns com o status quo, a inibir quem quiser de discutir os problemas reais e a debater soluções sérias, ainda que por vezes impopulares. Mas no fim cabe a cada um de nós decidir se somos inibidos ou não. A Mão quer inibir, mas tem de haver espaço para questionar as políticas de hoje e para ideias novas, sob pena de vermos o “fundo da toca do coelho” e de nos ser deixado, particularmente a nós, jovens, um país devastado, submerso na pobreza e na ignorância.

A Mão invisível do socialismo está a funcionar, e é ela que está entre os impostos que pagamos a mais, e os serviços que recebemos a menos. A Mão está fortemente agarrada ao poder, e não só não apresenta soluções, como evita discussão dos problemas. A Mão silencia a concorrência, e com habilidade vai lançando, via os seus servos no Governo e nos meios de comunicação, vários temas de pouco relevo. A título de exemplo, sublinho o tema da idoneidade de Cavaco Silva como primeiro-ministro, lançado pela ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, ou o caso do silêncio no Conselho de Estado. Assim, enquanto esse for o tema de agenda, outros temas mais relevantes perdem a atenção. Isto é, sem dúvida, um padrão distintivo do actual Governo. Há, portanto, sem qualquer sombra de dúvida, alternativa. Se queremos resolver problemas, temos de começar a discuti-los. Mas, para tal acontecer, há que remover a Mão do caminho.

A reentré do CDS mostrou um exemplo de um partido pronto a participar numa viragem política do país, isto é, que poderia contribuir para uma remoção sustentada e sustentável do Socialismo no Estado Português. O CDS foi pioneiro na proposta de reedição da sua carta de princípios (de 1974), actualizando os valores para os tempos que vivemos, com menção às ameaças correntes: populismos e alterações climáticas. Por isso, temos razão para ter esperança, porque apesar das avassaladoras derrotas e do silenciamento, em todo o espaço fora da alçada da Mão, ainda há quem lute por um Portugal melhor, ainda há quem não tenha desistido. Por isso, de cidadão para cidadão, faço o apelo: Não desistam do país.