Como é fácil de depreender, sobretudo por aquilo que venho escrevendo ao longo de mais de três décadas e meia, gosto do desporto e, consequentemente, da prática das atividades desportivas. De comentar, ver e praticar, o que faço regularmente. De umas modalidades mais do que de outras, naturalmente. Gosto do futebol, mas também gosto do voleibol, ou dos jogos tradicionais/populares. Aliás, dos jogos tradicionais dos meus tempos de criança, adolescência e juventude, apesar de, agora, muitos deles estarem em desuso, diria mesmo em extinção, guardo boa recordação. Ainda me lembro dos tempos em que, o tempo livre, em vez de ser gasto no interior de um café, ou de uma taberna de aldeia, era investido a jogar ao fito, à relha, ao calhau, ao xino, à macaca, à bilharda, etc. Além da dinâmica interativa socializadora que potenciavam, despertavam o gosto pela cultura, desenvolviam o raciocínio e a destreza física. Os desportos tradicionais davam vida aos meios rurais, onde a televisão era um “luxo” escasso.

Nos tempos que correm, tudo mudou. Os ambientes urbanos de cidade e os hábitos sociais são pouco propícios e motivadores para que isso aconteça e o despovoamento do meio rural não favorece a prática dos jogos tradicionais.

Não obstante os reflexos da idade, continuo a ter alguma ocupação desportiva, a qual não dispenso, pelo menos duas vezes por semana.

Posto isto, fica expresso o meu espírito e a minha disponibilidade para a promoção da atividade física de lazer desportivo, entre outros. Isto para dizer que nada me move contra qualquer modalidade desportiva, mesmo reconhecendo que a mercantilização exacerbada desvirtua a sua verdadeira e genuína filosofia.

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Com efeito, à medida que o tempo passa, tudo se tem tornado diferente, vivido de forma demasiado apaixonada e efervescente, levando, inúmeras vezes, a que se protagonizem enormes atentados à dignidade humana e à falta de respeito de muita gente, por outra gente.

Obviamente que, neste contexto, haverá muito para dizer e comentar. Porém, o que, agora, pretendo chamar à atenção, é para o que me parece ser a excessiva mediatização do fenómeno da bola, ou seja do futebol. Se nos detivermos a refletir um pouco sobre os investimentos no futebol, as desigualdades sociais que potencia e o mediatismo de que beneficia, até pode dar a ideia de que os padrões culturais e educativos de uma sociedade moderna e desenvolvida emergem a partir do mundo da bola. Mas não. Felizmente.
Ora vejamos. Com tantos problemas sociais, económicos, ambientais, culturais ou espirituais que se vivem e sentem no mundo de hoje, que provocam situações de extrema pobreza e de flagelos coletivos em termos de relações humanas, somos contínua e sistematicamente“bombardeados” com notícias, reportagens, comentários, fofoquices, em que o futebol é o “rei”. Todos sabemos que se trata do designado “desporto-rei”, mas daí até ocupar tanto espaço e tempo na vida coletiva, vai uma diferença muito grande!…

Para ter uma ideia, basta ver a abertura dos telejornais, dos espaços noticiosos radiofónicos, das páginas dos jornais e das revistas e tentar perceber se o facto de uma ou duas dúzias de homens, que ganham milhões a darem uns pontapés na bola, por vezes dirigidos por pessoas que nem uma frase completa sabem dizer ou escrever, será merecedor de tanta atenção e contribuirá, na proporção devida, para o desenvolvimento global e equilibrado de qualquer sociedade, sobretudo ao nível educativo e formativo.

Compreendo que o desporto em geral e o futebol em particular deverão ser objeto de atenção e mediatismo, mas na justa medida. Haja moralidade e justiça ao nível das prioridades na mediatização!…