Nos últimos tempos, fui alvo de uma campanha negra, sistemática, de ataque ao carácter e à honra, como há muito não se via em Portugal. Tudo, porque de modo democrático e livre, fui eleito para a Direcção do CDS, em Congresso. Muitos dos objectivos a que me propus, quando fundei a TEM – Tendência Esperança em Movimento, foram alcançados. A eleição de um Presidente que pudesse afirmar um CDS esclarecido e forte, foi um deles. É aqui que começou o problema. Há quem não aceite perder em jogo limpo. E responde com jogo sujo.

Já tinha sido alvo, por diversas vezes no passado, de tentativas de linchamento público por delito de opinião, por causa de posições políticas e sociais na agenda da Família e da Vida, inclusive provocando processos disciplinares na minha Ordem profissional. Impiedosa perseguição pessoal. Ganhei todos esses processos. Prezo muito a minha honradez profissional.

Acusaram-me também de plágio num artigo, no Público, o que foi prontamente esclarecido pelo Presidente da FPPV, que explicou que o argumentário que me tinha sido pedido para construir e que fiz a partir de uma tradução de um autor estrangeiro, devidamente citado, foi enviado inadvertidamente para publicação pela FPPV como se fosse da minha autoria. Assunto arrumado, como ficou claro e publicado.

Como homem de Ciência, não tenho preconceitos e tabus, tenho de ouvir todos e construir a minha opinião. Não faço terapias de conversão, nem sei o que é. Trato todos os meus pacientes de igual modo, com respeito pelas suas orientações sexuais, raça, credo, sem qualquer atitude discriminatória

Veio também, em tempos, a acusação de que eu, como Especialista em Psicologia Clínica e Sexologia, queria mudar a orientação sexual dos homossexuais, pasme-se… porque tinha participado numa conferência de um psicólogo americano de origem judaica, Richard Cohen. Gostei de o conhecer e ouvir, até pela sua bem interessante história de vida; mas omitiram referir que também participei em fóruns onde se defendeu o contrário. Como homem de Ciência, não tenho preconceitos e tabus, tenho de ouvir todos e construir a minha opinião. Não faço terapias de conversão, nem sei o que é. Trato todos os meus pacientes de igual modo, com respeito pelas suas orientações sexuais, raça, credo, sem qualquer atitude discriminatória. Oiço os meus pacientes por aquilo que me procuram e apoio-os e ajudo-os como posso e sei. Só pode pensar o contrário quem é militante da ignorância e não sabe o que é e como age um psicólogo clínico.

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A partir de certa altura da minha vida, comecei a participar na política, movido pelo desejo de intervir na sociedade, ajudando a mudar e a construir soluções. Fi-lo em liberdade, respeitando o espírito democrático que sempre professei. A minha filiação no CDS remonta à presidência de José Ribeiro e Castro, fui candidato autárquico nas Direcções de Paulo Portas e Assunção Cristas, fundei a TEM e, no último Congresso, fui eleito para a Comissão Executiva do Partido.

É por isto que fui objecto de ataques organizados como nunca imaginei possível, sobretudo porque organizados a partir de dentro do CDS. Foi pior do que alguma vez vira fazer. Todo o meu passado foi escrutinado e vasculhado. Não era, aliás, difícil porque nunca escondi nada. Sempre fui leal, directo, claro e livre na afirmação do que disse e escrevi. A minha página no Facebook foi passada a pente fino nos últimos treze anos (!!!), em busca de posts que pudessem causar escândalo, como se o bate-boca das redes sociais, ao ritmo de factos que vão passando, ou a expressão de emoções e comentários, pudessem ser tidos como manual de um pensamento político ou palco de proclamações formais.

Com o contributo decisivo que dei para a vitória de Rodrigues dos Santos, porque estive com ele antes e não depois, como outros, começou a campanha para atingir a liderança recém-eleita, através de mim. Não foi o primeiro ataque soez. Na campanha, o novo Presidente foi alvo de um ataque pessoal miserável, a que respondeu com firmeza. No Congresso, houve o episódio da “quadrilha”, que gerou indignação e apupos. E, já depois do Congresso, houve uma tentativa, não prosseguida, contra outro membro da Executiva. Eu fui o alvo seguinte, o alvo ideal, usando-se todos os retalhos que servissem a ofensiva.

Circulou uma acta da Assembleia Municipal de Coruche, para que fora eleito em 2009, que anunciava o meu voto contra o voto apresentado pelo PCP a favor do 25 de Abril, justificando que o meu voto era para o 25 de Novembro, pois foi esta data que nos garantiu a liberdade e a democracia. Argumentei com factos – se calhar, mal, porque não era uma aula de história – e rapidamente passei a saudosista do Estado Novo, quando provei que, se não fosse o 25 de Novembro, teríamos uma ditadura comunista soviética em Portugal. Perguntem à Dr.ª Zita Seabra. Todos o sabemos, aliás. Muitos viveram esse perigo, lutando contra ele. É histórico enquanto não o apagarem.

No mandato seguinte fui de novo candidato, pelo CDS, em Coruche, apoiado pela direcção do Dr. Paulo Portas. Na altura nada daquilo pareceu importar. Invocaram ainda algumas publicações avulsas no Facebook, escritas mais tarde. Na altura destas,era Conselheiro Nacional do CDS, um órgão presidido pelo Dr. Pires de Lima. E, ao tempo, nada do meu Facebook pareceu também importar.

Já tive oportunidade de esclarecer o meu pensamento, quer pessoalmente, quer na mensagem que de imediato escrevi à Comunidade Israelita de Lisboa

Na filtragem policial feita ao meu Facebook foi encontrado, em treze anos, um post relacionado com questões judaicas, em que comentei uma notícia do dia, em 2012, sobre uma acusação feita pelo embaixador de Israel a Portugal: “Embaixador de Israel diz que Portugal tem “uma nódoa” que os judeus não esquecem”. Tanto bastou para lançar contra mim a calúnia infame: “anti-semita!”. Um insulto miserável contra quem, em nenhum momento da sua vida, teve posições dessas, nem alguma vez se confundiu com o nazismo, que abomino.

Já tive oportunidade de esclarecer o meu pensamento, quer pessoalmente, quer na mensagem que de imediato escrevi à Comunidade Israelita de Lisboa: “Tenho o maior respeito e admiração pelo povo judeu em geral e, em especial, pelas comunidades judaicas em Portugal. Conheço o sofrimento que milhões de judeus sofreram ao longo da História, partilho genuínos sentimentos de solidariedade e honro a memória dolorosa do Holocausto, ainda recentemente celebrada no 75.º aniversário da libertação de Auschwitz.”.

O embaixador de Israel, naquele dia de 2012, ofendeu Portugal, elogiando apenas Aristides de Sousa Mendes, assim esquecendo que foram Portugal e todos os portugueses que acolheram e deixaram transitar, sem qualquer problema que conheça, todos os judeus que por aqui fugiram aos horrores do nazismo. E muito bem. Nos últimos 200 anos o nosso país sempre foi amigo dos judeus e da sua causa, sempre os acolheu e esteve ao seu lado no concerto das nações. Pelo menos até há poucos anos. Reconheço que fiz mal em ter misturado, na expressão da indignação, o eco das críticas feitas no Ministério dos Negócios Estrangeiros à acção de Sousa Mendes, como naqueles anos era discutido na imprensa e na televisão. A expressão “agiota dos judeus” não é minha, mas de investigadores que estudaram o caso disciplinar e publicaram sobre ele. Foi infeliz a minha citação no sentimento de revolta, mas nem dessas minhas palavras alguém pode extrair qualquer anti-semitismo ou sombra dele. Nada a ver, como é bem evidente.

Revela muito dos autores desta torpe difamação que tenha sido propositadamente escondido que a mesma notícia que comentei levou o ministro do Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, a chamar o embaixador para lhe pedir explicações. E Pedro Lomba escreveu também, na altura, um artigo no Público a repor a verdade contra as afirmações injustas do embaixador.

Esgotada a calúnia canalha do “anti-semita”, passou-se a posts sobre Salazar e a PIDE ou um, a seguir a bárbaros ataques terroristas do Daesh em França, referindo que Marine Le Pen acabaria com esse horror infernal. Sobre a PIDE, o meu post divulgava um texto e link do SIS onde constava a apreciação positiva e boa cotação internacional da antiga polícia – esse documento já foi removido da origem, mas ainda se encontram referências indirectas na internet. Os posts sobre Salazar são uma óbvia ironia crítica ao apagamento de metade da História do século XX português. Contra o revisionismo histórico e o apagamento da memória, gritaria “Viva Cunhal!” se o quisessem também apagar da História. E, sim, sabemos da PIDE, da ditadura, da censura – tudo o que tinha de acabar e entrarmos em democracia.

Mal de nós se, passados outros quase 48 anos, deixarmos instalar nova censura, intrusa até no Facebook, manipulando o que são curiosidades, ironias, emoções, repentes, para o efeito de caluniar ou condicionar

Sei da tortura e das perseguições. Condeno-as. Mas entrei em comentários a rebater exageros. A verdade que é má, não precisa nem deve ser exagerada. Insuspeitos historiadores estimam que a PIDE matou cerca de 60 pessoas nos 40 anos do Estado Novo. É suficientemente mau, inaceitável. A morte não tem descontos. Mas não é comparável aos milhões de mortos da STASI e do KGB. Se fosse eu a proferir estas afirmações, lá vinha o apologista do Salazar. Mas houve mais nessas décadas que deve ser conhecido, reconhecendo o que foi bom. Ninguém derrubou a Ponte Salazar para construir outra. Mudou-se o nome. A ponte era boa, fazia falta.

Mal de nós se, passados outros quase 48 anos, deixarmos instalar nova censura, intrusa até no Facebook, manipulando o que são curiosidades, ironias, emoções, repentes, para o efeito de caluniar ou condicionar. Foi o que me aconteceu na narrativa construída, o guião perfeito para me abater. Rui Ramos viu bem o que se passou, num artigo que escreveu: [a direita] caiu na  imbecilidade de usar o jogo do “fascista de turno”, como lhe chama José Ribeiro e Castro (“o fascista não sou eu, é ele”), nas suas disputas domésticas. O escândalo de Abel Matos Santos é exemplar. Durante anos, pertenceu à Comissão Política Nacional do CDS, sob a presidência de Assunção Cristas, que até aprovou a sua “tendência”. Sem problemas. Mas Cristas e o seu grupo perdem o poder, e eis Matos Santos subitamente promovido a “fascista”. “Este não é o meu CDS”, gritam alguns. Pois: mas não é por Matos Santos ser “fascista” que este não é o CDS deles. É ao contrário: é por o CDS já não ser deles que Matos Santos é “fascista”, porque enquanto foi deles, nunca os incomodou o que ele disse em 2012 (nem a eles, nem a ninguém).”

Além da leviandade de elevar a monumento o bate-boca trivial das redes sociais, as ideias de cada um também evoluem. Há os que começaram no MRPP, onde fizeram e disseram muito pior do que os meus modestos posts, e acabaram alçados a presidências na Goldman Sachs, depois de muito moderados. Houve quem garantisse que o euro seria o IV Reich e subisse a ministro. Há os que elogiaram e servissem o MPLA da corrupção generalizada e do 27 de Maio, e que agora assobiam. Há os que multiplicaram gritos de “Morte!” a isto e mais aquilo, e os terão digerido para se sentarem – e bem – no Parlamento. E é sabido que, se os meus posts fossem com gritos por Fidel e fotos de t-shirt do Che Guevara, ninguém se importaria e ainda diriam que era cool. Só valoriza o tipo de manipulações e calúnias de que fui alvo quem não tem a menor ideia do que é ser objectivo e imparcial. O móbil da campanha está no mau perder dos derrotados no Congresso. Só posso lamentar que houvesse na imprensa quem aceitasse servir esse azedume.

Para que não haja dúvidas: sou um democrata e defensor acérrimo da liberdade. Sempre fui. Não defendo regimes ditatoriais de nenhuma natureza e sou um profundo humanista. Não defendo polícias do pensamento, que agem exactamente como certos meios de comunicação social na actualidade, assentes numa parcialidade insustentável que não defende uma democracia aberta e inclusiva.

Mas não aceito os louvores ao 25 de Abril sem o 25 de Novembro, pois foi Novembro que salvou Abril. Cresci em Coruche a ouvir a história do Francisco, filho do lavrador António José da Veiga Teixeira, assassinado à facada, com 18 anos, à frente do pai, para o salvar, porque estavam os dois numa manifestação da CAP nos anos quentes.

Percebi que interesses poderosos se movimentam por detrás de certos órgãos de comunicação social e que o cidadão simples, como eu, nada pode fazer para lhes resistir. Não foi da esquerda que vieram estes ataques que sofri

Não consigo esquecer as 13 vítimas mortais das “Forças Populares 25 de Abril”, desde um bebé de quatro meses até ao Director Geral dos Serviços Prisionais, assassinado cobardemente à porta de sua casa. Não é por rancor. É que não podemos mesmo esquecê-lo enquanto o principal inspirador das FP-25, Otelo Saraiva de Carvalho, não reconhecer o mal feito e não pedir desculpa, nem mostrar arrependimento pelas vítimas e seus familiares. Vivemos em negacionismo cúmplice, apresentando Otelo, sem pudor, na televisão e na imprensa, como o “herói do 25 de Abril”, sem pedir responsabilidades e perguntar-lhe, ao menos, por que escolheu dar ao Terror assassino o nome do Dia da Liberdade.

Percebi que interesses poderosos se movimentam por detrás de certos órgãos de comunicação social e que o cidadão simples, como eu, nada pode fazer para lhes resistir. Não foi da esquerda que vieram estes ataques que sofri. Partilhei durante quatro anos, enquanto deputado municipal, bons e vividos combates com a esquerda do PS e do PCP e nunca vi nem senti neles deslealdade no combate político. Respeito-os e sempre me respeitaram. Sempre atacaram e defenderam-se no campo das ideias, nunca na tentativa baixa de destruição do carácter do adversário político.

Sei bem que os ataques me foram movidos por alguns daqueles que perderam o Congresso do CDS e se prepararam para isto, para praticarem a baixa política, o que revela exactamente o que são e o que querem. Tudo isto já estava coleccionado e armazenado nos dias do Congresso e, cobardemente, nada foi dito nos debates, para me confrontarem. As munições estavam guardadas para depois; e foram servidas em mão, por detrás do biombo, a jornais escolhidos.

Ninguém quis saber do meu currículo, se tinha cadastro ou o que fiz na vida em prol da sociedade. O foco foi o Facebook e coisas escolhidas a dedo, fora do seu tempo e do contexto, entre centenas de outras que, ao longo de anos, ali coloquei. Não me foi dado sequer tempo, espaço ou oportunidade para poder defender-me com igualdade de armas e de modo digno.

Apenas me deixaram dizer que “expurgar frases desses textos e descontextualizá-las não é um exercício sério”, mas já nem pude fundamentá-lo e desenvolvê-lo por forma segura, que não fosse censurada e distorcida. Foi uma espécie de fuzilamento com metralhadoras.

Resistiria até ao fim para os combater, se isso fosse útil à liderança do CDS. Quis preservar o meu Partido e, debaixo da pressão que se armou, decidi sair. Espero que a liderança se mantenha firme no caminho que anunciou

Volvido todo este tempo, reconheço que, hoje, não teria feito o mesmo: não vivemos numa sociedade verdadeiramente livre e plural. Não colocaria desabafos ou repentes e mediria com cuidado tudo o que pudesse ter aproveitamento político maldoso. Percebi que, num ambiente de manipulação, não podemos ser genuínos e verdadeiros, livres e descontraídos, ao ponto de termos de escrever com a condição da censura prévia, para não arriscarmos perseguições. O uso do bate-boca no Facebook, que ingenuamente nunca ocultei, porque era um espaço de discussão livre, foi usado para me denegrir. Agora, ocultei e oculto muitas dessas coisas. Não escondo nada – sei que aquilo que, distorcido, me pode atingir anda por aí. Mas não estou disposto a que a minha página seja de novo usada como fonte de manipulações de má fé.

Tenho família, filhas e uma carreira profissional de mais de 20 anos que quero proteger e levo muito a sério. Estes políticos, sem escrúpulos, não olham a meios para atingir os fins. Dependem do poder, até dentro de um partido que fizeram pequeno. Eu não.

Resistiria até ao fim para os combater, se isso fosse útil à liderança do CDS. Quis preservar o meu Partido e, debaixo da pressão que se armou, decidi sair. Espero que a liderança se mantenha firme no caminho que anunciou e que levou muitos militantes a apoiá-la e a vencer claramente o Congresso.

Amo o meu país. Desejo que possamos verdadeiramente evoluir como povo e colocar os interesses de Portugal, os de todos, à frente dos individuais, sobretudo à frente dos interesses ilegítimos. O que é que justifica, afinal, ter-se feito isto dentro do próprio CDS? Ideias? Não. Aquelas não são as minhas ideias e os que atacaram não disseram também as que são realmente as suas. Esconderam a mão com que atiraram as pedras. Escondem também o que são, o que pensam e o que querem.