Há dias, um sujeito disfarçado de velhinha atirou um bolo à Mona Lisa. Enquanto era detido pelos seguranças, gritou: “Pensem no planeta! Há pessoas a destruir o planeta, pensem nisso! Foi por isso que fiz isto!”

À primeira vista, o acto é absurdo. Mas os tempos que correm conferem-lhe uma racionalidade própria. Boa parte da retórica “ambiental” não disfarça a aversão aos seres humanos e àquilo que os seres humanos produzem no lugar que lhes tocou em sorte. Se o “ambiente” justifica por exemplo um retrocesso civilizacional que nos levaria, ou levará, a trocar o carro pelo triciclo e o bacalhau pelas centopeias, é coerente que a luta pelo atraso de vida se estenda à arte. E, dentro da arte, a uma das obras mais famosas do mundo. Acima de tudo, o agressor do Louvre quis mostrar o seu desprezo face aos homens. O pormenor de ele ser um homem, e um homem que – aposto uma edição comemorativa do An Inconvenient Truth – decerto beneficia do progresso que combate, apenas ilustra a tortuosa lógica a que descemos.

Claro que, para muitos “activistas” do “ambiente”, o ódio à humanidade é selectivo e limita-se à percentagem desta que se organizou em sociedades democráticas e a que, no conjunto, se convencionou chamar Ocidente. Claro que o “ambiente”, aqui, é uma das inúmeras “causas” que substituíram as “classes” do velho Marx no processo de sabotagem dos regimes (comparativamente) livres. E claro que os “activistas” transformaram o “ambiente” numa carreira profissional, a qual, além de uma oportunidade de limpar a bílis, lhes dá rendimento considerável. Em matéria de “clima”, não é essa gente que me espanta.

Os que realmente me espantam são aqueles que, “activistas” ou não, sofrem a sério com as cambalhotas no clima ou, melhor, com a mera ideia de cambalhotas no clima. Descontados os vigaristas, existem de facto indivíduos que genuinamente acreditam no fim do mundo para a terça-feira que vem. Ou quarta-feira, vá. Com uma esperança de cura curiosa em crentes no Apocalipse iminente, os indivíduos em questão alimentam uma data de novos subgéneros da psicologia, da sociologia, da astrologia e de ciências similares apenas dedicados a atender às doenças “causadas” pelo medo do aquecimento global, perdão, das alterações climáticas, perdão, da emergência climática.

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Embora pareça impossível, no meio dos medos dos vírus e das guerras que lhes lançam para cima, as pessoas ainda conseguem arranjar espaço para ter medo do clima. Alguns dicionários já consagraram a palavra “eco-ansiedade”, usada para definir o estado dos pacientes que sofrem de depressão e angústia motivados por receio de um holocausto ecológico, ou, nos casos terminais, pela provável extinção da lontra marinha. Controlando o riso, os “especialistas” que vêem nisto um maná comercial falam em “stress pré-traumático”. E há toda uma literatura (?) especializada em demonstrar que o pavor “ambiental” provoca doenças mentais.

Eu diria que é ao contrário. É preciso um parafuso solto para perder o sono graças à previsão de que a temperatura, que há milhões de anos não pára quieta, vai subir grau e meio nas próximas décadas. Nas próximas décadas, todos nós morreremos, e antes adoeceremos, ou veremos adoecer e morrer os que nos cercam. E teremos contas para pagar. E dívidas que não poderemos pagar. E enxaquecas. E zangas. E acidentes inesperados como convém aos acidentes. E desgostos diversos. E tristezas profundas. E tristezas ligeiras. E o que calha. Se querem perder o sono, percam-no com isto, que é o que fazem as pessoas com vínculo à realidade. Se não querem, vão perdê-lo na mesma: rezam os sábios que, em 2099, dormiremos menos 10 minutos diários devido às noites quentes. As desgraças sucedem-se, pese a boa – e contraditória – notícia de a espécie continuar viva daqui a 77 anos. E de que chegaremos ao emprego a horas.

Felizmente, é lendário o carácter profilático desta crónica, sempre pronta a prevenir maleitas e enguiços. Nessa linha de serviço público, ofereço gratuitamente meia-dúzia de recomendações para que o leitor mantenha a lucidez e não contraia uma enfermidade climática. Ei-las:

1) Não se preocupe. O tema é polémico o suficiente para que, quando não há subsídios chorudos, os peritos não alcancem um consenso alusivo. Ouça os peritos menos catastrofistas, e menos subsidiados, e descanse.

2) Não perca tempo. O tema é demasiado complexo para ser resolvido com vigílias patetas, slogans infantis, documentários manipulados e histeria sortida. Desconfie de manifestações que, ao invés de questionarem o poder político, são instigadas por ele.

3) Não tenha pressa. Com jeitinho, a Terra aguenta 1,5 biliões de anos até o sol vaporizar a água disponível e, aí sim, exterminar a lontra marinha, a bicharada restante e o mar em peso. Guarde a aflição para as duas ou três semanas anteriores.

4) Não seja parvo. Nenhum excesso poluente será solucionado, ou sequer debatido, em cimeiras que juntam 1500 jactos pertencentes a criaturas que desejam proibi-lo de usar o seu automóvel.

5) Não se faça de sonso. Nenhum ardor “ambientalista” que não eleja a China como o principal inimigo é digno de atenção.

6) Não ignore a ciência. Está provado que qualquer assunto em que o eng. Guterres puxe desesperadamente para um lado merece ser puxado para o outro.

7) E não se esqueça que a Mona Lisa não tem culpa.