De todos os argumentos contra a liberdade da Catalunha há um mais deprimente do que qualquer outro: nunca foram independentes. Ora isto é verdade para todos os países do mundo – nunca foram independentes até, um dia, passarem a sê-lo, da entidade política na qual estavam incorporados até aí.

Além de deprimente – e até um pouco infantil – este argumento não é, substancialmente, verdadeiro. Trata-se de uma formalidade não aplicável à realidade de há 1.000 anos. Entre meados do século X e meados do século XII, o Condado de Barcelona foi independente, de facto. Alguns negam-lhe esse estatuto por se tratar de um condado e não de um reino, mas há que ver o contexto. O Condado de Barcelona, hegemónico entre os condados catalães, foi-se tornando progressivamente independente à medida que se acentuava o declínio da dinastia carolíngia. Quando esta foi, finalmente, substituída pela dos Capetos, o então conde de Barcelona recusou jurar fidelidade a Hugo Capeto, em 987. Não só teve força para assim declarar a sua independência de facto como justificou por que razão: os capetos não tinham capacidade militar para assistir a Catalunha na defesa da sua fronteira sul, contra os mouros.

Já no século XII, Ramon Berenguer III continuou a expandir o condado para norte dos Pirinéus, incorporando territórios que se estendiam até Carcassonne. Em 1137, Ramiro de Aragão, receando ser anexado por Castela, ofereceu a mão de sua filha e o seu reino a Ramon Berenguer IV, assim se constituindo a nova Coroa de Aragão com precedência da Catalunha e não o oposto, como dizem os seus detractores. A Catalunha integrou Aragão, e não o contrário. De tal forma assim foi que Ramon Berenguer IV usava o título “Comes Barchinonensis” (Conde dos Barceloneses) como seu título principal, e “Princeps Aragonensis” (Príncipe dos Aragoneses) como título secundário.

A História demonstra, assim, uma série de factos e circunstâncias amplamente ignorados:

  1. A língua, a cultura e a nacionalidade catalãs precedem, em muito, as suas correspondentes castelhanas;
  2. De quem inicialmente dependeu a Catalunha foi do reino dos francos (Império Carolíngio) e não de uma, então, inexistente potência peninsular;
  3. É a Catalunha que absorve Aragão, e não o oposto.

Tendo isto em consideração, o grito de “Visca Catalunya lliure!” já não soa como um arrebatamento inconsequente mas antes como uma pretensão fundamentada e muitíssimo pertinente.

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