Basta ver o mapa para identificar uma fronteira natural óbvia – o Vale do Jordão, enquadrado pelo Lago de Tiberíades e pela grande depressão do Mar Morto – e compreender o pecado original. A Declaração Balfour criou uma pátria para os Judeus (“a national home for the Jewish people“), sem prever que essa pequeníssima parcela de terra (a chamada Palestina é 0,015% da área ocupada pelo Império Otomano na sua máxima extensão) iria ser disputada também pelos árabes. À data da Declaração vigorava ainda o Império Otomano, sob o qual a população árabe se organizava em tribos, maioritariamente nómadas, que ocupavam vastos territórios desérticos ou semi-desérticos, sem fronteiras definidas. Com a desintegração do Império Otomano essas populações vêem-se subitamente integradas em novas entidades político-administrativas às quais são dados os nomes de Iraque, Síria, Líbano, etc. Inicialmente, a maioria deles não sabia, literalmente, de que terra era.

Rapidamente, o desenvolvimento que os judeus imprimiram à sua pátria recuperada atraiu populações árabes dos países vizinhos. Os censos ingleses de 1931 referem no Protectorado da Palestina apenas 690.000 cidadãos árabes, população que se multiplicou por 11 em 90 anos. Claro que a maioria dos “palestinianos” não nasceu na Palestina, mas antes no Egipto (como o próprio Yasser Arafat), na Síria, no Líbano e, sobretudo, na Jordânia, de onde foram expulsos em grande número após o golpe de estado falhado em 1973.

Enfim, regressemos ao mapa. É óbvio que o Vale do Jordão delimita uma estreita faixa de terra até ao mar. Se não a prolongarmos pelo Negev abaixo até Eilat e ao Golfo de Aqaba, ficamos com uma área pouco maior do que a do distrito de Beja. E vamos pegar nessa área exígua e fazê-la partilhar por duas nacionalidades? E então todo o vasto território vazio a leste do Jordão, a que hoje chamamos Jordânia? Esta seria a solução certa para a fórmula “dois estados” e chegou a existir quando, em 1920, os ingleses criaram o Emirato da Transjordânia, onde viviam os… palestinianos.

E como é que a Transjordânia se transformou no estado da Jordânia? Em 1946 os ingleses promoveram o emirato a reino, e em 1948, juntamente com os outros recém-criados estados árabes, o rei Abdullah atacou o estado de Israel e anexou a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. Poucas pessoas sabem disto, prevalecendo a ideia feita de que é Israel quem tira terra aos “palestinianos”. E foi assim que a Transjordânia – a terra dos palestinianos, com fronteiras lógicas e perfeitamente definidas – se transformou em Jordânia, um estado que dali expulsou os palestinianos e os atirou para cima de Israel, tal como fizeram, sob diferentes pretextos, os demais vizinhos árabes.

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