Ao ler a recente publicação da OCDE, “Perspetivas de Emprego 2024: A Transição para a Neutralidade Carbónica e o Mercado de Trabalho”, imaginar-se-ia que o mundo não passou pelo maior estímulo monetário e fiscal em décadas.
Os resultados são tão maus que são embaraçosos. O relatório ilustra o empobrecimento dos cidadãos e sugere subtilmente que alcançar a meta na neutralidade carbónica representará um desafio ainda maior. Tradução: ficaremos ainda mais pobres.
De acordo com o relatório da OCDE, 20% da força de trabalho global ocupa empregos que se irão multiplicar devido à transição para emissões líquidas zero. O relatório diz-nos basicamente que os restantes 80% enfrentarão desafios significativos.
Além disso, sublinha que as famílias rurais e de baixos rendimentos gastam geralmente mais em bens e serviços com maiores pegadas de carbono, como a energia e a alimentação, porque são normalmente bens necessários.
Por conseguinte, as políticas de mitigação das alterações climáticas, ao aumentarem o preço relativo dos bens intensivos em carbono, tenderão a afectar desproporcionalmente estas famílias enquanto consumidores, com um forte impacto no valor real dos seus rendimentos e salários. As recentes reformas na formação dos preços do carbono em muitos países revelaram-se de facto regressivas. Contudo, usar receitas provenientes dos impostos sobre o carbono sob a forma de transferências para as famílias pode tornar este tipo de reforma progressiva. No entanto, direcionar estas transferências para as necessidades das famílias é fundamental para a eficiência de custos. Ou seja, estamos condenados. Basta olhar para o resultado desastroso do imposto sobre o carbono na União Europeia, o que fez à inflação dos bens e serviços não substituíveis e ao aumento generalizado do descontentamento entre os cidadãos.
Por que razão sabemos que os decisores políticos não irão contrariar o impacto regressivo das políticas keynesianas? Porque nunca o fizeram. Argumentar que desta vez será diferente é irresponsável quando o mesmo relatório da OCDE mostra os resultados desastrosos das políticas “inclusivas” e redistributivas desde 2019.
O relatório congratula-se com as boas notícias das baixas taxas de desemprego. No entanto, não reconhece a facilidade de manipulação deste indicador. Na verdade, o relatório não faz a associação entre a participação na força de trabalho ter estagnado ou diminuído assim como os salários reais caído, com o facto de simultaneamente a duração média do trabalho por trabalhador ter diminuído nos Estados Unidos.
Se a taxa de desemprego tiver descido, mas a média de horas trabalhadas por funcionário se mantiver estável, a taxa de participação no trabalho tiver caído e os salários reais diminuírem, então não se verifica uma melhoria real do emprego.
De acordo com o relatório, a média de horas trabalhadas diminuiu em todos os países, excepto três de toda a OCDE, e o crescimento dos salários reais é negativo nos Estados Unidos, bem como em muitas outras economias.
Importa recordar que estas estatísticas terríveis surgem depois do chamado maior “pacote de estímulo” em décadas. A mais significativa experiência monetária, aliada a um nível sem precedentes de aumento da dívida pública, deixou os trabalhadores mais pobres. Mas o pior está para vir.
A OCDE avisa que a transição para a neutralidade de emissões carbónicas aumentará a inflação nos bens e serviços essenciais, bem como gerará uma deslocação significativa de mão-de-obra pouco qualificada. Alerta mesmo para o facto de os empregos pouco qualificados em setores com elevadas emissões serem mais bem remunerados, o que criará desafios para as pessoas.
Não há como defender esta engenharia social. O keynesianismo conduz sempre a um mau investimento, a uma má alocação de capital, a um maior endividamento e a piores resultados para os trabalhadores e para a classe média por uma razão muito simples: os governos não têm melhor nem mais informação sobre as necessidades da sociedade e gastam dinheiro que não é deles.
Os maus investimentos existem numa economia aberta. No entanto, a destruição criativa resolve esse problema. Porém, o mau investimento quando o Estado controla a economia é a norma. E em vez de destruição criativa, obtemos uma má alocação de capital subsidiada.
A era dos constantes planos de estímulo keynesianos corroeu a classe média e criou níveis recorde de dívida pública. O plano para a neutralidade carbónica, que é o sistema keynesiano imposto de cima para baixo pelo Estado, irá acrescentar escassez, inflação persistente e empobrecimento.
A única forma de atingir as emissões líquidas zero é deixar a tecnologia florescer, permitir que a livre concorrência e os mercados abertos funcionem e criar uma transição que beneficie a maioria com bens e serviços mais baratos e mais limpos. Quando os governos tomam decisões com fundos públicos, garantem um resultado pernicioso. Gastarão demasiado, perpetuarão a inflação e empobrecerão aqueles que dizem defender. O socialismo nunca funciona. O socialismo climático está condenado a um miserável fracasso, resultando no aumento da pobreza.
Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.