Suponha-se que existe uma empresa nacional que produz um único produto, um bem de capital de elevado teor tecnológico. O produto, avançado demais para ser empregue no tecido empresarial português, teria de ser exportado para economias avançadas do norte da Europa, Alemanha, Holanda, Inglaterra, entre outras, conferindo a esta companhia o estatuto de campeã das exportações, um orgulho e símbolo da tecnologia Made in Portugal.
Suponha-se ainda que, devido a um qualquer regulamento europeu, se descobria que, apesar de permitida a utilização deste produto, o mesmo não poderia ser comercializado, ou seja, não poderia ser vendido — mas apenas oferecido, dado, doado ou transferido. Suponha-se finalmente que, não obstante este percalço, e devido às externalidades positivas que a sua produção traz para a economia e sociedade portuguesa, os acionistas desta empresa decidem continuar a gerir e financiar esta operação. O financiamento externo será obviamente necessário porque, sendo o processo de produção caro origina elevadas despesas, e como o produto não é vendível a sua escoação não gera receitas. No entanto apesar desta clara situação deficitária, vários bancos nacionais e estrangeiros disponibilizam-se a continuar a financiar este verdadeiro desígnio nacional.
Um esquema tão surreal, um modelo de negócio tão parvo, só pode sair da cabeça destes dois chanfrados, que agora pifaram de vez, mas não pode ter base factual nenhuma, pensará o leitor. Mas pense melhor. Admita que a empresa se chama Ministério da Educação ou Ministério Qualquer Coisa do Ensino Superior. Entidades que são financiadas através do Orçamento Geral do Estado que nada mais é que de impostos coletados junto dos contribuintes (acionistas) e de dívida pública (empréstimos concedidos por entidades nacionais e estrangeiras). Admita ainda que a instalação fabril é o sistema educativo nacional, e que o bem produzido é o capital humano incorporado nos nossos jovens saídos do melhor sistema educativo do mundo.
Estes jovens, uma vez certificados com os seus diplomas, têm três “saídas”. Uma é o subemprego ou o desemprego, uma vez que o tecido empresarial português não está preparado para absorver equipamento humano com especificações tão avançadas. Outra é a reciclagem, feita através das juventudes partidárias, para cargos governativos e tachos no estado. A terceira, e bastante comum, é a exportação para economias avançadas com constante necessidade de mais capital humano de elevado potencial.
Este esquema tem várias vantagens e todos ficam a ganhar! A economia alemã e as outras não gastam um cêntimo na formação deste capital de ponta, nem diretamente nas suas escolas de formação profissional, nem indiretamente em impostos pagos para financiar os seus sistemas educativos públicos e recebem-no praticamente for free & ready for use. Mas as vantagens não ficam por aqui… A dívida que o estado português contrai, para lhes formar capital humano de borla, também é remunerada. O serviço da dívida mais não é que um serviço adicional que o nosso estado presta à economia alemã e às outras pelo privilégio de lhes treinar de graça os seus quadros. Se para Portugal é pagar para dar, para os alemães e outros é ser pago para receber. Não é este um modelo de negócio inovador?
Mas também os nossos jovens ganham. Uns porque passam uns anos numa espécie de campo de férias com bastantes oportunidades para divertimentos e folias antes de serem atirados para o subemprego ou o desemprego que o sistema económico nacional, o mais avançado e equitativo do mundo, e a caminho para o socialismo, os atira. Outros, porque é uma porta para as escadarias de ministérios e câmaras municipais, onde o salário de base não é mau e ainda se ganha, tax free, por debaixo da mesa. Finalmente os que se exportam, têm uma rampa de lançamento para economias a sério onde dá gosto trabalhar e se pode receber a sério e ainda pagar menos impostos.
Os empregados nas linhas de montagem escolar também ganham porque têm emprego garantido numa organização que os trata bem, que não existiria sem financiamento público assegurado nem sobreviveria num sistema em que os consumidores pudessem escolher o fornecedor. As empresas nacionais também ganham, se é que ter engenheiros no escritório, filólogos nas equipas de vendas e sociólogos ao balcão é uma vantagem.
Mas quem ganha mais são os contribuintes que ficam com o invejável privilégio de se poder orgulhar terem o melhor sistema educativo do mundo…
Us avtores não segvem a graphya do nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreuem coumu qverem & lhes apetece.