Em 1957, a então União Soviética lançou o Sputnik, o primeiro satélite de comunicação, no que viria a ficar para a História como o arranque da corrida espacial. Nas décadas seguintes, a URSS e os EUA travaram uma acérrima competição, com cada país empenhado em suplantar o outro. O episódio mais marcante desta saga deu-se com a alunagem da Apollo 11 em 1969. Neil Armstrong e Buzz Aldrin tornaram-se os primeiros astronautas a andar na Lua e os EUA reivindicaram a vitória no duelo, afirmando a sua superioridade tecnológica, num golpe de Relações Públicas de valor incalculável dentro do contexto da Guerra Fria.
Os soviéticos nunca conseguiram levar astronautas à Lua e talvez tenha sido isso mesmo o que marcou o início de um declínio, que culminou no colapso do sistema da URSS e na sua fragmentação. A Guerra Fria desenrolou-se através de hard power, presente na constante ameaça nuclear, e soft power, assente na capacidade de projetar credibilidade e de influenciar a opinião pública. Em última análise, os EUA venceram a Guerra Fria, não por meio de um conflito armado, que teria sido catastrófico, mas sim alcançando uma supremacia económica indiscutível e lentamente delapidando a autoconfiança do adversário. Neste sentido, o papel desempenhado pela corrida espacial foi muito importante.
Saltemos para 2020 e eis senão quando, em pleno caos provocado pela pandemia do novo coronavírus e por entre guerras culturais e distúrbios sociais, uma nova corrida espacial está a começar. No dia 30 de maio, pela primeira vez, uma empresa privada levou uma nave com astronautas para a Estação Espacial. É verdade que sempre houve operadores privados a trabalhar com a NASA, mas a SpaceX é a primeira organização não governamental a supervisionar um projeto desta envergadura, ofuscando a concorrência de players como a Boeing. Além disso, fê-lo por uma fração do custo assumido pela NASA com o seu programa anterior de transporte de astronautas: o custo do desenvolvimento do Space Shuttle ultrapassou, em valores atuais, os 27 mil milhões de dólares, enquanto o Dragon da SpaceX se revelou comparativamente barato, correspondendo a um investimento de apenas 1,7 mil milhões de dólares.
De notar que a SpaceX é propriedade do bilionário Elon Musk, que é também o fundador e CEO da Tesla, cujas ações ganharam 6% na segunda-feira seguinte ao lançamento. O sucesso da missão foi, em si, uma estrondosa manobra de Relações Públicas, consolidando, não só a reputação pessoal do empresário, mas também a de outros negócios que dirige. Outro favorecido foi a Virgin Galactic, fundada pelo bilionário Richard Branson e destinada ao turismo espacial, que viu a sua cotação bolsista subir mais de 3%, graças ao renascer do interesse pelo espaço.
Nos negócios, como na geopolítica, o soft power é absolutamente crucial. As Relações Públicas determinam, em grande medida, o modo como os consumidores e os investidores tomam decisões e poucos temas cativam o nosso imaginário coletivo como a conquista espacial. Por este motivo, não é de surpreender que alguns dos líderes empresariais mais conhecidos da atualidade — entre eles o fundador e CEO da Amazon, Jeff Bezos, através da sua empresa Blue Origin – estejam a entrar nesta nova corrida espacial, que, em breve, deverá voltar a levar o Homem à Lua, com o objetivo final de chegar até Marte.