Excluindo, talvez, a colisão de duas estrelas de neutrões, as supernovas, um espetáculo de fogo de artifício cósmico que ocorre quando as estrelas chegam ao fim da sua vida e explodem, são o evento mais dramático da panóplia de maravilhas do universo. Tais explosões, que duram menos de dois minutos e ofuscam galáxias, criam mais energia do que alguma vez o sol gerará durante toda a sua vida.

Nem todas as estrelas morrem através de uma supernova. Na realidade, pouquíssimas o fazem, já que apenas as muito grandes apresentam massa suficiente para desencadear o processo. Porém, estas explosões têm um papel crucial na renovação do universo, pois permitem a formação de nuvens de matéria, que, posteriormente, dão origem a novas estrelas e novos planetas, produzindo também metais pesados como o gálio, o bromo e… o ouro.

O ouro é classificado como um elemento pesado por apresentar uma grande densidade, com cada átomo seu a ser composto por 79 protões e 118 neutrões – resultado de elevadas pressões e calor encontrados na nucleossíntese da supernova. Como este precioso metal só pode ser criado sob condições astronómicas extraordinárias, ao contrário de outros elementos mais comuns, como o hidrogénio e o hélio – cuja formação inicial se deu, acreditam os cientistas, no Big Bang -, é considerando um elemento bastante raro. Igualmente excecional é todo o percurso que o ouro faz desde a explosão da estrela, que está a anos-luz, até chegar ao anel do nosso dedo: é no coração da supernova que se cria poeira cósmica, de onde surgiu, há 4.6 mil milhões de anos, o nosso sistema solar e onde se encontram vestígios de ouro que, seguidamente, chegam até nós.

Apesar de, durante milénios, o ouro ter sido extraído à volta de todo o mundo, estima-se que apenas 200.000 toneladas deste metal precioso tenham sido desenterradas até agora – o suficiente para formar um cubo com vinte e dois metros de cada lado. As projeções, neste momento, apontam para a possibilidade de ainda estarem acessíveis, no subsolo, 50.000 toneladas de reservas por explorar.

Infelizmente para os joalheiros e comerciantes de ouro, os geólogos estimam que a maioria deste metal terá afundado e é agora parte constituinte do núcleo do nosso planeta, estando fora de alcance. Outro facto interessante sobre o ouro é que é praticamente indestrutível e, apesar de ser um metal pesado, é, simultaneamente, um metal mole, sendo maleável ao ponto de apenas um grama poder ser moldado até criar uma folha capaz de cobrir praticamente um metro quadrado – é assim que se criam as folhas de ouro.

Entre abril e agosto de 2020, na altura em que os receios causados pela pandemia atingiram um pico, a procura por ouro aumentou e o seu preço atingiu um máximo de mais de 2.000 dólares americanos por onça. Assim, verificou-se mais uma vez que, quando as coisas complicam, o ouro oferece conforto. A ligação que temos com este metal precioso é forte e o nosso fascínio por ele intensifica-se em tempos de incerteza. Toda esta atração sustenta o status do material enquanto um ativo de refúgio. Por isso, a próxima vez que se distrair a mexer no seu anel de casamento, lembre-se: esse ouro foi concebido no coração de uma supernova distante, e cá se manterá mesmo depois de nós já cá não estarmos.

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