A orgânica de uma escola diz respeito à sua dotação de órgãos de administração e gestão próprios e de quadros de pessoal docente e não docente, ou seja, à direção da escola e todos os que se encontram a si subordinados.

Na minha opinião é a orgânica escolar que constitui um dos principais motivos pelos quais se observam situações de indisciplina na escola, isto porque a disciplina e o rigor devem ser uma característica exigida pela própria direção escolar e devem estar visíveis no dia a dia dos alunos.

Quando penso numa escola e na posição de diretor escolar fico bastante desagradado ao perceber que, em grande parte das escolas, inclusive algumas privadas, o diretor encontra-se fechado num gabinete com comunicação reduzida e indireta – através de comunicados – aos seus subordinados e aos estudantes.

Na minha opinião é fundamental o diretor estar envolvido na atividade escolar, contudo isto não significa uma vigilância e monitorização ativa dos trabalhadores que possa gerar um sentimento de desconfiança.

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Significa sim, por exemplo, o diretor percorrer os corredores da escola e ouvir os alunos ou parar, falar e acompanhar o pessoal não docente no decorrer de um intervalo.

Ou seja, no meu entender, uma quota parte da indisciplina que se verifica nas escolas acaba por depender da própria direção escolar e do seu desempenho diário, ou melhor do seu acompanhamento ativo da comunidade escolar.

Por outro lado, a segunda vertente da orgânica escolar que também está relacionada com a indisciplina são os quadros de pessoal docente e não docente, ou seja, os principais atores escolares, excetuando os alunos.

Relativamente aos primeiros, o pessoal docente, verifica-se uma grande descredibilização profissional que acaba por diminuir a confiança dos melhores alunos nos professores e provocar situações de confrontação por parte dos alunos mais desafiadores.

No que diz respeito aos segundos, o pessoal não docente, constata-se a falta de profissionais que possam conferir maior tranquilidade na vida escolar e que possam corresponder ao facto de estes terem de desempenhar várias e diversas funções dentro da escola.

Outro elemento particularmente relevante é a falta de aptidão profissional da figura do diretor escolar, uma vez que, nas escolas públicas, é frequente o diretor ser um docente que não tem habilitação superior (pós-graduação) para essa função, mas já cumpriu um conjunto de anos enquanto professor e, portanto, está automaticamente “qualificado” para a exercer, à falta de melhor alternativa.

Concluindo, a indisciplina nas escolas é motivada por uma direção mais ausente no dia a dia da comunidade escolar, mas também pela própria falta de pessoal docente e não docente nas escolas, sendo agravada pelas críticas públicas à classe docente e pela diversidade de funções desempenhadas pela classe não docente.

Impõe-se, assim, a necessidade de alargar, por um lado, a oferta de cursos de pós-graduação para cargos de gestão e administração escolar e, por outro lado, o reforço de profissionais docentes e não docentes nas escolas.