Durante os últimos 16 meses, a pandemia pôs-nos a todos à prova, ao paralisar o nosso dia-a-dia e a obrigar as sociedades a reinventarem-se, na forma de trabalhar, de comunicar e até na forma de ocupar os tempos livres.

De confinamento em confinamento, os Portugueses foram resistindo e moldando-se ao “novo normal”. Arregaçaram as mangas e foram à luta. Não desistiram. Mesmo quando os apoios sociais tardavam ou simplesmente nunca chegaram.

Mas desenganem-se aqueles que pensam que os vestígios não estão cá, que são passageiros ou já desapareceram; ou que quando ultrapassarmos esta “tempestade” tudo ficará como dantes. Há, naturalmente consequências. Financeiras, mas não só. A nossa felicidade diminuiu, a tristeza aumentou. O medo, a raiva e os sintomas depressivos são bem reais. E no caso dos jovens, isso é ainda mais visível. Um estudo realizado por uma equipa da Universidade de Coimbra, em fevereiro deste ano, diz-nos isso mesmo: há uma associação direta do impacto negativo da pandemia na saúde mental das crianças e jovens.

O pós-pandemia trará, inevitavelmente, desafios tão exigentes como os que chegaram com a própria pandemia. Só no setor do desporto, foram mais de 170 mil jovens que se perderam com o cancelamento da maioria das competições desportivas. As consequências serão gravíssimas: num país que é já um dos países da UE com menor índice de atividade física e desportiva regular, a taxa de sedentarismo está ainda mais elevada, assim como a de todas as doenças associadas a uma reduzida percentagem de jovens com atividade física regular, como a obesidade ou a diabetes. Isto, para além da já referida saúde mental, com as situações novas de depressão que a pandemia trouxe.

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Num primeiro momento, o Governo esqueceu o desporto, ignorando-o no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O setor protestou, a oposição apertou e António Costa acabou por corrigir o erro, prometendo 65 milhões para apoio ao setor, embora só 30 sejam a fundo perdido.

Quando se pensava que tudo estava encaminhado para o setor retomar a normalidade da sua atividade, imaginando-se que o Governo tinha, de facto, reconhecido a importância do desporto na recuperação do país e na saúde das crianças e jovens, eis que se lembrou de fazer marcha atrás: não só ainda não concretizou/regulamentou o programa a fundo perdido de apoio ao setor, no valor de 30 milhões de euros, como acaba de anunciar às federações desportivas o corte de 15% no contrato-programa de atividades regulares, celebrado anualmente com as respetivas federações.

Com planos de atividades e orçamentos aprovados para 2021, com compromissos assumidos com fornecedores, clubes e atletas, vem agora o Governo pedir às federações que a meio do “campeonato” não honrem 15% dos seus compromissos. Em dezembro de 2020, o IPDJ (instituto público responsável pela celebração dos contratos-programa) acordou e celebrou os contratos-programa com as federações, para 4 meses depois voltar com a palavra atrás. E António Costa usou também uma receita parecida: propagandeou-se com 65 milhões para o setor, para, um mês depois, tirar 15% do orçamento anual às federações desportivas.

Se o Executivo de António Costa não considera a atividade física e desportiva importante para a retoma do país, esperava-se que, pelo menos, defendesse que “palavra dada, é palavra honrada”. Como em tempos chegou a assumir. Ou será que já não é assim, sr. Primeiro-Ministro?