Vivemos tempos ímpares e de constante mutação com o surgimento ininterrupto de novos paradigmas. Contudo, ainda existem comportamentos que não acompanham as mudanças dos tempos e se mantêm inalterados, sendo que muitos se relacionam com a forma como encaramos a política e a vida pública.

Começando pela clubite: é para mim impercetível que aos dias de hoje se julgue por bom e normal a defesa de uma força política de forma cega, voraz e – grande parte das vezes – sem se possuir o mínimo conhecimento a respeito dos programas eleitorais ou, até em casos mais raros, sobre os princípios basilares económicos e sociais das bandeiras que tão acerrimamente abanam, negligenciando-se o progresso do país e da sociedade com uma escolha pouco pensada e injustificada.

Na mesma senda, não me mostro capaz de entender a vaidade de quem durante uma vida inteira deposita todos os seus votos no mesmo partido. Entendo a existência de tendências e inclinações, eu próprio também as tenho. Não consigo é compreender quem se expressa eleitoralmente de igual forma aos 18 e aos 50 anos, sem que se tenha verificado a mínima alteração de pensamento político.

Também não ousamos – na generalidade dos casos – adaptar a escolha que tomamos em função do contexto e momento do país. Votamos sempre no que idealizamos como mais correto tendo por referência a nossa preferência singular, sem nunca nos atrevermos a pensar se a solução do espectro político contrário satisfaz de forma mais completa as necessidades do contexto atual do país ou da localidade.

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Tendemos a crer na boa vontade dos políticos de carreira, aqueles que vivem a sua vida nas proximidades do hemiciclo parlamentar e se apresentam ao povo rotulados de vasta experiência política que, quando esmiuçada, não é sinónimo de capacidade e garantia.

E justamente na incapacidade de se avaliar a competência de quem elegemos que reside outra coisa que – a meu ver, erradamente – se vulgariza na política, sendo tal o voto por simpatia. Embora entenda que a empatia entre candidato e cidadão é fulcral para a perceção dos dogmas sociais, pouco entendo quem quando questionado porque motivo vota em determinado candidato, justifica a sua escolha com a simpatia do escolhido em detrimento da capacidade para resolução dos problemas das comunidades e do país.

Tais comportamentos de modo reiterado trazem-nos ao presente momento que vivemos, o momento de incerteza e indecisão eleitoral que não é reflexo do equilíbrio positivo entre forças políticas, mas sim das fracas hipóteses que nos apresentam, tornando-nos reféns de fazer a escolha menos má.

A política devia ser livre, rompedora, instigante, racional e com real poder de mudança, no entanto vem-se verificando no nosso país como individualista, egoísta, pouco esclarecida, pouco audaz e enganadora. Ou seja, tudo aquilo que não devia ser.

Que o presente momento de instabilidade nos suscite o pensamento crítico e nos permita libertar das amarras que nos proíbem de entender e resolver a hegemónica crise política portuguesa que se vem perpetuando.