Um dia um aluno de uma turma especialmente  “estudiosa” perguntou-me: “Não quer ficar em casa uma semana?”

Eu respondi : “Não, prefiro vir para a escola.”

Uma sala de aula que parece tudo menos um local de estudo.

De Norte a sul do Portugal continental, temos historias épicas de turmas que conseguem despachar Professores como quem troca de roupa.

No final do ano transitam com notas administrativas com conhecimento das Direções e Encarregados de Educação.

Adivinhem só: Ninguém se questiona acerca deste fenómeno? Porque é que existem tantos atestados médicos de Professores?

A resposta é simples e está debaixo do nosso nariz. Quando os alunos têm um nível de comportamento que não se coaduna com uma sala de aula, não existe qualquer esperança de aprenderem e de terem sucesso.

A solução oficial é os Professores meterem baixa, porque o Professor já foi desacreditado e desautorizado, porque o Diretor de Turma evita o confronto com os Encarregados de Educação, e todos optam pelo silêncio, prejudicando a turma toda.

Se estas situações se perpetuam, o Professor, em muitos situações é convidado de uma forma não oficial a meter atestado médico, já que as hierarquias superiores das escolas não querem e não conseguem lidar com as situações de indisciplina nem com as pressões dos Encarregados de Educação.

A lógica é clara, é insustentável dar aulas em ambientes de indisciplina.

A situação repete-se, dia após dia. Este professor, mesmo informando a direção da escola e o diretor de turma, vê a situação perpetuar-se. No final, quando o professor finalmente cede e mete baixa de longa duração, os mesmos alunos continuam a transitar administrativamente.

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Nas escolas onde o caos é regra, os números não mentem: 30% dos professores em baixa. O que fazer? Responder às necessidades reais? Criar mecanismos de apoio? Não, nada disso. Em vez disso, o conselho “não oficial” ecoa pelos corredores:
“Metam baixa.”

E assim, a educação em Portugal transforma-se numa tragicomédia nacional. Professores desgastados. Alunos desmotivados. E um sistema que insiste em tapar o sol com a peneira, distribuindo notas administrativas como se fossem prémios de consolação.

Mas o mais irónico? Tudo isto acontece às claras, como se fosse normal. Como se fosse aceitável.

E no final do ano, todos seguem o seu caminho. Os professores tentam recuperar a sanidade. Os alunos transitam para a próxima etapa da sua odisseia académica. E o sistema? O sistema continua a aplaudir. Afinal, todos “passaram”.

Aplausos para o teatro educativo português. Que belo espetáculo!

É um ciclo vicioso onde os poucos que realmente querem aprender acabam prejudicados pelos que “despacham professores”.