Nota: 12
Ser ministro da Economia na conjuntura e contexto político actuais não é fácil. É como ir sentado no banco do fundo de um autocarro e, ainda assim, ser responsabilizado pela sorte do veículo. Verdadeiramente, o ministro da Economia não manda na economia, que é sobretudo privada. Também não é ele que tem os principais instrumentos de política económica na mão: a fiscalidade está nas Finanças, as regras laborais e encargos sociais são com o ministro do Emprego, a Justiça é da responsabilidade da “dona” da pasta, a simplificação administrativa está com a ministra da Presidência e assim sucessivamente, para tudo o que tem impacto mais directo no ambiente económico. Manuel Caldeira Cabral tem a dificuldade acrescida de o ser num governo apoiado por dois partidos – o Bloco de Esquerda e o PCP – que gostam tanto de empresas privadas, empreendedorismo e dinâmica de negócios como o peru gosta do Natal. Criar um ambiente competitivo para as empresas e para a atracção de investimento não está, como é notório, na lista de prioridades deste governo.
Neste contexto, Caldeira Cabral não tem como não ser discreto e as suas políticas tímidas. Até porque, para além do Portugal 2020, não tem dinheiro para distribuir.
Ainda assim, colocou na agenda três temas essenciais: a capitalização das empresas, cujos resultados da Estrutura de Missão liderada pelo competente e conhecedor José António Barros precisam de sair rapidamente do papel; o incentivo ao empreendedorismo e aos negócios do século XXI; e a evangelização dos empresários sobre a Indústria 4.0, a quarta revolução industrial que passa pela digitalização da generalidade dos sectores.
Estes temas não fazem manchetes mas, se bem conduzidos, podem ser mais eficazes do que outros que, em tempos, foram muito mediáticos. Por exemplo, os famigerados PIN – Projectos de Interesse Nacional de Manuel Pinho e José Sócrates, de que ainda vamos ouvir falar quando levantarmos devidamente o tapete do malparado da Caixa Geral de Depósitos.