Conheci o Artur Mesquita Guimarães numa palestra sobre a imposição da Ideologia de Género à Escola e os seus resultados nefastos. Daí para cá estamos juntos na luta contra a expropriação dos pais da educação dos filhos por parte do Estado. Há alguns meses, eu e o meu marido fomos jantar a casa dele.
Quando chegámos fomos recebidos pelos filhos do Artur pois, tal como nos haviam avisado, nem ele nem a mulher estavam em casa. Enquanto esperávamos, o Zeca (18 anos) acendia o lume para o churrasco, a Maria (16 anos) estava na cozinha a preparar o jantar, e os dois mais novos, o Rafael (14 anos) e o Tiaguinho (12 anos) foram tratar de arranjar algo para nós bebermos e petiscarmos.
Com anfitriões tão atenciosos a conversa fluiu: o Zeca falou-nos sobre os seus estudos, objectivos – ele vai para a universidade este ano lectivo – e sobre o que a família está a viver em virtude da decisão ditatorial do Ministério da Educação, qual PIDE da “democracia”, que decidiu “chumbar” os irmãos dois anos lectivos. Entretanto, o Tiaguinho trouxe uns amendoins e um jarro de limonada.
Sedentos, bebemos a limonada. Estava deliciosa e eu dei os parabéns à Maria, que me respondeu da cozinha: Não fui eu que fiz, foi o Tiaguinho.
Os dois meninos, tão visados e acossados nos últimos dias, juntaram-se à conversa e ficámos numa amena cavaqueira até os pais chegarem. Durante a conversa percebemos claramente que não é a decisão dos pais quanto à não frequência da disciplina de cidadania que os entristece, mas sim a forma como adultos ignorantes e irresponsáveis denigrem e enxovalham aqueles que os amam, educam e cuidam deles. (Só posso pensar que o fazem por despeito, por terem eles próprios aberto mão da educação dos seus filhos entregando esse papel à Escola, ao Estado).
Os pais chegaram e os filhos, incluindo o João Paulo (20 anos), que entretanto tinha chegado, foram pôr a mesa. Um dos mais novos ainda abriu o e-mail do pai (parece que as passwords lá em casa são do conhecimento uns dos outros e ninguém tem nada a esconder) para ver se havia correspondência, pesquisou para ver se havia mais notícias sobre o caso, e fomos todos para a mesa. O jantar decorreu tranquilamente no seio de uma família onde todos os filhos fazem as suas tarefas e são educadíssimos, cidadãos exemplares, que não precisam da “cidadania” lecionada na escola para nada e falam sobre tudo, sem tabus. Todos eles gostam imenso de ler, os dois mais velhos estão na Universidade, o Zeca vai entrar este ano, a Maria para lá caminha e nunca nenhum deles chumbou. Pelo contrário, todos têm sido alunos exemplares e feito parte do quadro de excelência sem as aulas de cidadania.
Então, que raio de “cidadania” é esta, que só o Ministério da Educação pode incutir nos alunos, e quais os objectivos por detrás daquela que parece ser a única disciplina que não admite ser questionada e se quer sobrepor à educação que os pais dão aos seus filhos?
Sim. Se, como defende o Ministro da Educação, reter um aluno, independentemente do número de negativas que possa ter, é uma espécie de discriminação:
Segundo avança o jornal I, há escolas que estão a passar de escolaridade alunos do ensino básico com quatro ou mais negativas. Já no ensino secundário, a questão é diferente: há escolas a fazer pressão juntos dos professores para subir as negativas dos alunos e assim se possam inscrever no ano seguinte. Os alunos do 5º ano de escolaridade, por exemplo – que têm nove disciplinas -, conseguem passar de ano com metade das disciplinas com nota negativa. Este cenário resulta de orientações dadas pelo ministério e do que está previsto na lei desenhada pelo gabinete de Tiago Brandão Rodrigues, indicando que o chumbo deve ser aplicado de forma “excecional”.
O que é tão importante e urgente na disciplina de “cidadania”, que leva o Ministério da Educação, presidido pelo Dr. Tiago Brandão, a chumbar alunos do quadro de excelência, com cincos a tudo, excelentes cidadãos, respeitadores e totalmente integrados?
Que “cidadania” é essa que exige que todos os que não se deixem “cidadanizar” por ela venham a ver “barradas” quaisquer possibilidades de entrar na Universidade pública?
A Universidade pública pertence ao Ministério da Educação? Ou somos nós, todos os portugueses que trabalham e pagam impostos, que a sustentam?
Os pais, que educam os seus filhos de acordo com os seus valores, fé e princípios – para serem cidadãos exemplares – e não abrem mão desse papel – consagrado na Constituição da Republica Portuguesa e na Declaração Universal dos Direitos do Homem – terão a carga fiscal aliviada para poderem pagar uma Universidade Privada aos seus filhos?
Que raio de “cidadania” é esta que tem que ser imposta pela força, sob coação e ameaças constantes?
É a agenda ideológica das esquerdas encostadas, que o Bloco impôs à Escola como moeda de troca para aprovar os Orçamentos de Estado, e das Associações LGBTQIA+ — elevadas ao estatuto de “utilidade pública” pela maioria de esquerda – que pretendem que os filhos dos portugueses sejam “educados” na cultura LGBTQIA+ e em toda a agenda progressista/socialista/ateia que os formatará para as suas causas.
Os manuais de género e cidadania não deixam dúvidas quanto ao que se propõem incutir em mentes tenras e facilmente manipuláveis. É uma questão dos pais – que ainda não entregaram a educação dos filhos a terceiros – lerem os guiões de género e cidadania, o PRESSE, e o Referencial de Educação para a Saúde, etc.
Antes de partilhar o texto mais esclarecedor, do Referencial de Educação para a Saúde, editado em 2017, gostaria de voltar ao ano 2000, quando os ministérios da Educação e da Saúde enviaram para as escolas um livro que encomendaram à filial portuguesa da Planned Parenthood (a maior rede de clínicas de aborto do mundo), para ajudar os professores a implementar a educação sexual na Escola. De acordo com o livro Objectivos da Educação Sexual na idade pré escolar (0-6 anos):
- Aprender a realizar a masturbação, se existir, na privacidade
- Adquirir um papel de género flexível;
- Aceitar de forma positiva os comportamentos sexuais do próprio e dos outros;
- Conhecer e usar, se necessário, o vocabulário popular sobre as partes mais sexuais do corpo;
- Conhecer diferentes tipos de família;
- Abusos sexuais.
De acordo com E. Eichel (que estudou com Claderwood e é autor do Kinsey, sex and fraud), Alfred Kinsey entendia que, para levar os jovens à homossexualidade, dever-se-ia promover, por esta ordem, a masturbação, a masturbação em grupo e finalmente a masturbação mútua.
Para conhecer os diferentes tipos de família, há actividades nas quais, crianças, dos 0 aos 6 anos, são chamadas a picotar e recortar imagens de dois homens, duas mulheres e um homem + uma mulher, pensar numa peça de teatro baseada nessas imagens e interpretarem-na.
Daí para cá os guiões e referenciais sobre sexo, cada vez mais ideológicos e explicitamente pornográficos, não pararam de sair.
O Referencial de Educação para a Saúde é “organizado por níveis de educação e por ciclos de ensino: educação pré-escolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino Básico e ensino Secundário. Concebido como um todo coerente, o presente Referencial assenta numa estrutura comum aos vários níveis e ciclos de educação e ensino, e “pretende ser uma ferramenta educativa flexível, passível de ser utilizada e adaptada em função das opções e das realidades de cada contexto educativo, desde a educação pré escolar ao ensino secundário, nas suas diferentes modalidades.”[1]
Com o alto patrocínio do Estado português como grande educador de massas é neste pedaço de prosa social construtivista que se encontram directrizes e orientações para os “Afectos e Educação para a Sexualidade”, dissecados em sub-temas, objectivos e metas a atingir no que respeita à educação para a sexualidade. Este referencial é ideologia de género pura. Na pág. 73 pode ler-se:
“AFECTOS E EDUCAÇÃO PARA A SEXUALIDADE
A Organização Mundial de Saúde define a sexualidade como “uma energia que nos motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade; ela integra se no modo como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sexual.
A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental”.
A sexualidade está presente no nosso dia-a-dia e, por isso, a sua abordagem não pode estar confinada a uma “disciplina”. Sendo a Escola um lugar habitado por crianças e jovens, cujas idades são atravessadas pelos fenómenos de transformação corporal e psicológica ligados ao crescimento natural, é nela que se vivem alguns dos primeiros e mais impressivos sentimentos e emoções decorrentes do desenvolvimento sexual. […] Nos vários ambientes que a escola proporciona os alunos experimentam a sua sexualidade, quer seja nas suas brincadeiras, no estudo e nos namoros, mas também na relação com os docentes e trabalhadores da escola. Ela [a sexualidade] está presente nas conversas, nos jogos, nas quezílias, mas também nos conhecimentos científicos.
A educação para a sexualidade para ter os resultados desejáveis terá de dirigir-se à escola como um todo, penetrar em todos os seus ambientes, envolver todos os seus membros, aproveitar todos os momentos para, através de acontecimentos emocionais estruturados, construir modelos que promovam os valores e os direitos sexuais, sobre os quais os jovens possam desenvolver a sua própria identidade e o respeito para com os outros.”
O referencial explica que, apesar da ubiquidade do sexo, a escola é o local onde os seus filhos [do pré-escolar e do ensino básico] manifestam, em todos os momentos e com todos os que os rodeiam: alunos, trabalhadores da escola e docentes, os seus desenvolvimentos sexuais. A linguagem de género, proveniente da teoria Queer, desenvolve-se entre orientações várias no que às “relações afectivas” e aos “valores” diz respeito e, até ao subtema 4, sob o manto vago do “desenvolvimento da sexualidade”, onde se prevê, em antecipação precoce do processo de erotização natural de desenvolvimento infantil, o objectivo dos alunos do pré-escolar adquirirem “uma atitude positiva em relação ao prazer e à sexualidade”.
Surgem-me várias perguntas:
- O Estado quererá ensinar bebezinhos de três anos a ter prazer sexual?
- Fala–se de outra coisa, na Escola, que não seja sexo?
- Todas as disciplinas têm que falar de sexo?
- As crianças experimentam a sua sexualidade em todas as actividades escolares e também com os docentes e trabalhadores da escola?
- Para ter os resultados desejáveis, POR QUEM?
Leia o Referencial.
Claro que não é só a ideologia da revolução sexual que é imposta às crianças nas aulas de “Cidadania”. Toda a agenda globalista politico-ideológica é promovida e incutida nas aulas de “cidadania”: socialismo, feminismo radical, drogas, cultura LGBTQIA+, alterações climáticas, racismo estrutural, “História de Portugal” sob a perspectiva da esquerda, promoção de movimentos radicais como Black Lives Matter e SOS racismo, cultura da vitimização, desobediência aos pais e aos mais velhos, descredibilização da família, aborto, eutanásia, etc. Tudo isto sob um único ponto de vista, sem lugar a outra opinião que não a do sistema que assaltou a Escola e tornou reféns as crianças portuguesas – o socialismo.
É esta “cidadania” que o Artur não admite que seja imposta aos seus filhos. E eu também não.
[1] Na pág. 6, lemos: “À semelhança de outros ref erenciais produzidos pela DGE no âmbito da educação para a cidadania, o presente documento pretende ser uma ferramenta educativa flexível, de adopção voluntária”. Porque é que retirei as palavras “adopção voluntária”? Porque, desde 2018, se tornou obrigatório e a matéria nele contida passou a contar para nota e é ministrada na disciplina de Educação para a Cidadania, embora, como refere o Referencial, seja para ser usado em qualquer disciplina ou área disciplinar.